A comédia dramática mexicana “O Melhor do Mundo” chegou à Netflix em abril de 2025 e rapidamente se tornou assunto entre os assinantes da plataforma. Dirigido por Salvador Espinosa, o filme adapta livremente o argentino “Vamos Consertar o Mundo” (2022), imprimindo características próprias ao abordar paternidade e vínculos familiares. Com apenas 83 minutos de duração, a produção consegue equilibrar momentos cômicos e dramáticos sem cair na armadilha da pieguice.
A trama acompanha Gallo (Michel Brown), um produtor de televisão workaholic que recebe uma ligação da ex-companheira com uma revelação surpreendente: o garotinho que ele chamava de filho, na verdade, não era seu biológico. Após um acidente fatal que vítima a mãe da criança, Gallo embarca numa jornada pelo interior do México ao lado de Benito (Martino Leonardi) em busca de respostas sobre sua verdadeira identidade paterna. A cinematografia captura as paisagens mexicanas de forma expressiva, criando um cenário que enriquece visualmente a narrativa.
Qual a verdadeira proposta narrativa do filme?
“O Melhor do Mundo” não se limita a ser mais uma comédia sobre paternidade questionada. A adaptação mexicana imprime seu próprio tom ao tratar das complexidades das relações familiares contemporâneas, explorando o que afinal significa ser pai. Gabriel Gaitán, conhecido como Gallo, é caracterizado como um narcisista viciado em trabalho que vive imerso nas armadilhas do entretenimento fácil, dirigindo um talk show sensacionalista onde manipula conflitos banais para gerar audiência.
A reviravolta narrativa força tanto pai quanto filho a confrontarem questões essenciais sobre vínculos familiares. Durante a viagem pelo interior mexicano, eles descobrem segredos do passado e enfrentam mágoas antigas. O filme propõe uma reflexão sensível sobre o que torna alguém pai: a biologia ou a escolha diária de estar presente. Essa abordagem diferencia a produção de outras comédias familiares ao evitar respostas simplistas para dilemas complexos.

Como a crítica especializada avaliou a produção?
As avaliações profissionais sobre “O Melhor do Mundo” apresentam perspectivas divergentes, revelando tanto qualidades quanto limitações da obra. No IMDb, o filme obteve nota 5.5 entre 504 avaliações, indicando recepção mediana do público internacional. Críticos destacam que Michel Brown oferece performance convincente no papel principal, especialmente na química desenvolvida com Martino Leonardi.
Entretanto, análises mais rigorosas apontam problemas estruturais: “reunindo uma série de situações com uma nada convincente força dramática, o longa-metragem mexicano se joga numa estrada de mão única”. Alguns críticos consideram que a mescla entre comédia e drama se torna “um liquidificador descontrolado com ingredientes que mais se afastam do que se encontram”. Apesar das críticas, há consenso sobre a direção competente de Salvador Espinosa e o roteiro honesto de Tato Alexander.
Que elementos tornam o filme relevante para o público brasileiro?
A produção mexicana encontra ressonância no público brasileiro por abordar questões universais sobre família e identidade cultural. O filme questiona o que realmente define uma família, explorando laços afetivos que vão além da genética. “O Melhor do Mundo” apresenta situações reconhecíveis para espectadores latino-americanos, especialmente quando retrata dinâmicas familiares complexas e relacionamentos pai-filho problemáticos.
A cinematografia valoriza paisagens rurais mexicanas de forma similar ao cinema brasileiro contemporâneo, criando identificação visual. O ritmo narrativo mais lento, criticado por alguns, reflete tendência do cinema latino-americano que prioriza desenvolvimento psicológico sobre ação constante. Para quem aprecia produções estrangeiras com histórias profundas e emocionantes, representa opção interessante no catálogo da Netflix. A abordagem cultural específica do México oferece perspectiva diferenciada sobre temas familiares universais.
Quem são os atores principais do elenco mexicano?
Michel Brown assume o protagonismo como Gallo, entregando uma performance que equilibra narcisismo e vulnerabilidade. O ator venezuelano-argentino, conhecido por novelas como “Pasión de Gavilanes”, mostra versatilidade ao interpretar um workaholic em crise existencial. Martino Leonardi surpreende como Benito, construindo química convincente com Brown e demonstrando naturalidade em cenas mais emotivas.
O elenco de apoio inclui Fernanda Castillo como Alicia, a ex-companheira que desencadeia toda a trama, e Mayra Hermosillo em papel secundário. Embora não sejam nomes amplamente conhecidos fora do México, o conjunto atoral mantém a credibilidade necessária para sustentar os momentos mais delicados da narrativa. A direção de atores de Salvador Espinosa extrai performances orgânicas, evitando exageros melodramáticos comuns em comédias familiares.
Como o filme se compara a outras produções mexicanas da Netflix?
“O Melhor do Mundo” se posiciona entre as produções mexicanas mais acessíveis do catálogo Netflix, diferindo de sucessos anteriores como “Roma” de Alfonso Cuarón ou “Nuevo Orden” de Michel Franco. Enquanto essas obras buscaram reconhecimento artístico internacional, a comédia de Espinosa prioriza entretenimento comercial sem abrir mão da sensibilidade cultural mexicana.
A produção segue tendência crescente da Netflix de investir em conteúdo latino-americano com apelo regional. Comparado a outros dramas familiares mexicanos da plataforma, o filme oferece tom mais leve e duração mais enxuta. A escolha por locações rurais mexicanas cria contraste interessante com produções urbanas anteriores, mostrando faceta menos explorada do cinema mexicano contemporâneo na plataforma de streaming.
Vale a pena assistir essa comédia dramática?
“O Melhor do Mundo” funciona melhor para espectadores que buscam entretenimento reflexivo sem grandes pretensões cinematográficas. Com atuações consistentes, roteiro honesto e direção segura, o longa consegue emocionar sem forçar, e divertir sem banalizar. A duração enxuta evita prolongamentos desnecessários, mantendo foco na jornada emocional dos protagonistas.
Para fãs de cinema mexicano contemporâneo ou interessados em comédias dramáticas familiares, a produção oferece experiência satisfatória. Contudo, espectadores que esperam inovação narrativa ou profundidade psicológica excepcional podem se frustrar. É uma obra que, embora trate da perda, celebra o reencontro — com o outro e consigo mesmo. Disponível exclusivamente na Netflix, “O Melhor do Mundo” representa escolha sólida para sessões despretensiosas que combinam entretenimento e reflexão sobre paternidade.










