O novo filme de Bong Joon-ho finalmente estreou nos cinemas no dia 7 de março e já está movimentando o mundo do cinema. Mickey 17 é a primeira obra do diretor sul-coreano desde Parasita, que fez história ao ganhar o Oscar de Melhor Filme em 2020. Com Robert Pattinson no papel principal, o longa adapta o livro Mickey7 de Edward Ashton e promete ser uma experiência única de ficção científica. O filme está ambientado no ano 2054 e conta a história de Mickey Barnes, um cara que aceita um trabalho bem estranho: morrer para viver.
A produção teve alguns perrengues para chegar aos cinemas. Originalmente planejada para março de 2024, foi adiada duas vezes por causa das greves de Hollywood e questões de pós-produção. Agora, com 76% de aprovação no Rotten Tomatoes e nota B no CinemaScore, o filme tem dividido opiniões, mas ninguém consegue ignorar sua originalidade. O elenco também impressiona, com Naomi Ackie, Steven Yeun, Toni Collette e Mark Ruffalo completando o time.
Como Robert Pattinson conseguiu interpretar vários personagens ao mesmo tempo?
Robert Pattinson faz algo impressionante em Mickey 17: ele interpreta múltiplas versões do mesmo personagem. Mickey Barnes é um “Descartável”, um trabalhador que morre constantemente em missões perigosas e é clonado de volta à vida. Cada vez que isso acontece, ele renasce como uma versão ligeiramente diferente de si mesmo. Pattinson precisou criar personalidades distintas para cada Mickey, mudando desde a postura corporal até o jeito de falar.
O diretor Bong Joon-ho usou uma técnica curiosa durante as filmagens. Ele não contava para Pattinson qual versão do Mickey estava interpretando até minutos antes de filmar a cena. Isso foi feito para capturar a confusão existencial de um clone lutando com sua própria identidade. O resultado são performances perturbadoras e genuínas que mostram como Pattinson se tornou um dos atores mais versáteis da sua geração.
Por que o conceito de “Descartáveis” causa tanto impacto no público?
A ideia central do filme é chocante: Mickey trabalha como “Descartável” numa missão de colonização espacial para o planeta Niflheim. Esses trabalhadores são enviados para as tarefas mais perigosas, morrem constantemente e são ressuscitados através de clonagem. É literalmente um emprego onde você precisa morrer para ganhar a vida. Essa premissa absurda funciona como uma crítica feroz ao capitalismo moderno e à exploração de trabalhadores.
Bong Joon-ho não escolheu esse conceito por acaso. O filme questiona o valor da vida humana numa sociedade que trata pessoas como recursos descartáveis. O número no título mudou de Mickey7 para Mickey 17 porque o diretor queria enfatizar ainda mais a natureza repetitiva e brutal desse trabalho. É uma reflexão sobre como sistemas opressivos transformam seres humanos em ferramentas substituíveis.
Quais mudanças Bong Joon-ho fez na adaptação do livro?
Bong Joon-ho fez várias modificações importantes ao adaptar Mickey7 para o cinema. Além de aumentar o número de mortes do protagonista, ele mudou nomes de personagens e adicionou elementos da sua própria visão. Como fã de futebol, o diretor até nomeou alguns personagens em homenagem a jogadores: Mickey 17 usa o número da camisa de Kevin De Bruyne do Manchester City, e Timo foi nomeado em referência a Timo Werner.
O filme também expandiu temas de exploração colonial e ganância corporativa que estavam no livro, mas deu mais foco à sátira política. Bong escreveu o roteiro em 2021, mas fez questão de dizer que nenhum personagem foi criado para espelhar políticos específicos da vida real. O resultado é uma obra que funciona tanto como entretenimento quanto como comentário social sobre os tempos atuais.
Como os efeitos visuais contribuem para a história de Mickey 17?
Os efeitos visuais do filme são um show à parte. Empresas como DNEG, Framestore e Rising Sun Pictures trabalharam para criar o mundo gelado de Niflheim e as criaturas alienígenas chamadas Creepers. Esses monstros foram desenhados pelo próprio Bong Joon-ho junto com Jang Hee-chul, que já colaborou com o diretor desde O Hospedeiro em 2006.
O maior desafio técnico foi fazer Robert Pattinson contracenar consigo mesmo de forma convincente. As cenas onde diferentes versões do Mickey interagem precisaram de tecnologia avançada para que o público percebesse as diferenças sutis entre as personalidades. A trilha sonora de Jung Jae-il, gravada nos famosos Abbey Road Studios em Londres, completa a experiência sensorial do filme.
Qual o verdadeiro significado por trás da história de Mickey 17?
Por baixo de toda a ficção científica maluca, Mickey 17 fala sobre temas bem humanos. O filme explora questões de identidade, propósito de vida e o que nos torna únicos como pessoas. Quando Mickey descobre que existe outra cópia dele funcionando ao mesmo tempo, surge a questão: qual dos dois é o “verdadeiro” Mickey? É uma versão moderna do famoso paradoxo filosófico do Navio de Teseu.
Bong Joon-ho também usa a história para criticar sistemas que desumanizam trabalhadores. A missão de colonização espacial funciona como metáfora para expansão capitalista, onde os poderosos exploram recursos e pessoas sem se importar com as consequências. O filme pergunta: até onde uma sociedade pode ir na exploração de seus membros mais vulneráveis? É Parasita no espaço, mas com muito mais humor negro e elementos absurdos.
Por que Mickey 17 é importante para o cinema de ficção científica atual?
Mickey 17 chega numa época em que a ficção científica Hollywood está dominada por franquias e sequências previsíveis. O filme de Bong Joon-ho oferece algo diferente: uma história original que usa elementos fantásticos para falar sobre problemas reais. É o tipo de cinema inteligente que faz você rir, pensar e se questionar ao mesmo tempo.
O sucesso do filme também prova que audiências estão dispostas a abraçar narrativas mais complexas e desafiadoras. Mickey 17 não é um blockbuster tradicional – é uma obra de autor disfarçada de filme comercial. Isso abre caminho para mais diretores criarem projetos pessoais com orçamentos maiores, equilibrando arte e entretenimento de forma inteligente.
