Em contextos do dia a dia, é comum que a palavra paz apareça apenas no singular, ligada à ideia de tranquilidade ou ausência de conflito. No entanto, a forma pazes existe, é reconhecida pela gramática normativa e tem uso legítimo em situações específicas da língua portuguesa, sobretudo quando se quer indicar diversidade de contextos, repetição de períodos tranquilos ou acordos sucessivos.
Qual é a origem de paz e qual a explicação para o plural pazes
O substantivo paz vem do latim pax, pacis, que designava acordo, tratado ou estado de concórdia entre partes, além de tranquilidade social. Em latim, a flexão de caso já apresentava variações de forma, e a passagem para o português consolidou paz como forma de base, com plural regular em pazes, seguindo o padrão de substantivos terminados em -z (raiz → raízes, cruz → cruzes).
Autores de referência em língua portuguesa, como Celso Cunha, Lindley Cintra e Evanildo Bechara, indicam que nada impede a formação do plural em palavras abstratas desse tipo, desde que haja motivo semântico para isso. Assim, a forma pazes decorre da morfologia regular do idioma e de uma tradição histórica que remonta ao latim, sendo registrada também em dicionários de prestígio e em corpora de textos literários.
Por que pazes soa estranho e ainda assim está correto
A principal razão para a estranheza em relação a pazes é o uso dominante do singular em contextos cotidianos, como “viver em paz” ou “ter paz interior”. A ideia de paz costuma ser tratada como um estado único e global, o que afasta, no uso comum, a percepção de que podem existir várias formas de paz: paz social, paz familiar, paz política, paz individual, entre outras.
A gramática normativa, contudo, não restringe o plural, reconhecendo nele um emprego estilístico e expressivo. De acordo com a ABL (Academia Brasileira de Letras), o plural pazes é aceito e aparece com marcas de uso literário e estilizado, especialmente quando se deseja marcar diversidade, reiteração ou contraste entre diferentes tipos de concórdia e de serenidade.

Como pazes aparece na literatura e em textos formais
No campo literário, a forma pazes é utilizada para enfatizar nuances da experiência humana, aproximando-se de construções como “alegrias”, “tristezas” ou “liberdades”. Escritores usam o plural para destacar que não há uma única paz, mas várias formas de concórdia e de sossego, vividas em tempos, espaços e relações diferentes, o que enriquece a expressividade do texto.
Textos jurídicos e diplomáticos também registram a expressão “fazer as pazes”, que indica restabelecimento de relações cordiais entre pessoas, grupos ou Estados. Nesses casos, o plural reforça a ideia de um ato de reconciliação e de acordos firmados ou renovados, mais do que de um estado permanente, podendo aparecer em contratos, tratados e declarações oficiais.
Quais são exemplos de uso de pazes em diferentes contextos
O quadro a seguir apresenta exemplos de uso de pazes em diferentes contextos, com foco em trechos representativos e próximos de ocorrências encontradas em obras literárias, dicionários e gramáticas. Cada exemplo evidencia um valor semântico específico, como multiplicidade de acordos, períodos tranquilos sucessivos ou formas distintas de concórdia ao longo da vida ou da história.
- Literário – sentido de diferentes formas de paz
“Entre guerras e pazes, a cidade aprendeu a conviver com o silêncio depois do estrondo.”
Emprego de pazes para indicar períodos distintos de tranquilidade ao longo da história da cidade. - Expressão consagrada – “fazer as pazes”
“Depois de anos de desentendimentos, as famílias finalmente fizeram as pazes.”
A locução fixa “fazer as pazes” é registrada em dicionários de referência e aparece com frequência em textos jornalísticos, normativos e conversas formais. - Paz individual em diferentes momentos
“Encontrou várias pazes ao longo da vida: a da infância, a da maturidade e a do reencontro com a própria história.”
O plural destaca fases distintas de serenidade interior, aproximando-se da ideia de etapas de autoconhecimento e equilíbrio emocional. - Contexto diplomático
“Os países selaram novas pazes após décadas de tensão nas fronteiras.”
A forma plural enfatiza diferentes acordos e tratados firmados ao longo do tempo, sugerindo acomodações sucessivas entre as partes.
Em todos esses exemplos, a presença de pazes cumpre papel semântico claro: indicar multiplicidade de acordos, de períodos tranquilos ou de formas específicas de concórdia. Embora a forma possa causar estranhamento em quem está mais acostumado ao singular, ela se mantém amparada por gramáticas, dicionários de prestígio e pela tradição literária, sendo plenamente legítima no português atual.









