No é de hoje que o jeito de lidar com dinheiro passou por uma verdadeira revolução dentro das famílias. O que antes era sinônimo de cédulas, moedas e cofrinhos físicos, agora mudou para pagamentos digitais, carteiras virtuais e aplicativos no celular. Crianças e adolescentes estão cada vez mais próximos do universo financeiro, dominando não apenas o uso de contas digitais, como também a gestão do próprio dinheiro desde cedo. O costume de guardar economia no “porquinho” está, aos poucos, sendo substituído por hábitos mais conectados e tecnológicos.
Com essa transformação, tornou-se frequente ver jovens que, ainda antes da maioridade, movimentam mesadas, fazem transferências, pagam com QR Code e até arriscam em pequenas aplicações financeiras, tudo a partir de celulares. Essa mudança de comportamento acompanha a evolução das próprias famílias, que passaram a conversar abertamente sobre despesas, economia e investimentos, repartindo responsabilidades e desmistificando antigos tabus em torno do tema dinheiro.
Como as famílias hoje ensinam os filhos a lidar com o dinheiro?
Educar financeiramente as novas gerações ganha cada vez mais espaço nos lares brasileiros. Embora no passado fosse comum tratar esse tipo de assunto como restrito ao mundo adulto, hoje o incentivo ao aprendizado começa cedo. Muitos pais optam por abrir contas digitais ou oferecer cartões pré-pagos para os filhos, possibilitando que aprendam, na prática, sobre o manejo de pequenas quantias e a importância de controlar os próprios gastos.
A exposição a aplicativos e plataformas torna a experiência mais interativa. Funções de meta de poupança, notificações de saldo e simulações de investimento são algumas soluções adotadas por famílias para aproximar as crianças e adolescentes do universo financeiro. A educação financeira infantil deixou de ser apenas sobre guardar dinheiro e passou a envolver temas como organização de despesas, avaliação de necessidades versus desejos e incentivo a buscar informações sobre investimentos.
O celular substituiu o dinheiro em espécie?
O avanço das carteiras digitais permitiu a troca do dinheiro físico por alternativas digitais, principalmente entre os mais jovens. Diversos apps permitem realizar transferências instantâneas, dividir despesas, pagar boletos e até investir sem precisar sacar dinheiro. Essa facilidade é apontada pelos responsáveis como uma forma prática e segura de lidar com imprevistos e controlar melhor o consumo dos filhos.
Além disso, as próprias instituições financeiras acompanham a tendência. Conta digital para menores de idade, cartões pré-pagos que operam com saldo limitado, notificações de cada transação e autorizações de pais ou responsáveis criam uma zona de segurança para ensinar autonomia financeira aos jovens. O uso do celular para pagamentos e transferências traz, como benefício adicional, a possibilidade de monitorar os hábitos e orientar escolhas de forma mais próxima.

Como incentivar o hábito do investimento e da poupança desde cedo?
O incentivo ao hábito de poupar e investir começa, geralmente, com pequenas metas e recompensas alcançáveis. Muitos pais e educadores recomendam criar objetivos claros — como juntar dinheiro para comprar um livro, um brinquedo ou até investir em experiências, como passeios — e ir acompanhando com os filhos a evolução desse valor. O uso de plataformas onde a criança pode visualizar o próprio progresso contribui para tornar o processo mais tangível e menos abstrato.
- Mesadas digitais: transferências semanais ou mensais diretamente para a conta digital do jovem, com registro do histórico de entradas e saídas.
- Cartões pré-pagos: oferecem o benefício do controle de saldo e a vivência da responsabilidade sobre o dinheiro disponível.
- Conteúdos educativos: vídeos, jogos e aplicativos voltados à educação financeira ajudam a apresentar conceitos como rendimento, custo-benefício e planejamento financeiro de forma simples e lúdica.
- Participação nas decisões domésticas: envolver as crianças em conversas sobre orçamento familiar, pequenas compras e prioridades incentiva o desenvolvimento do senso crítico e da autonomia.
Com o uso constante dessas soluções, vai se formando uma geração que aprendeu, desde a infância, a cuidar da própria vida financeira, o que pode ser determinante para um futuro mais responsável e preparado para desafios econômicos.
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Quais desafios ainda existem para democratizar o acesso à educação financeira infantil?
Ainda que a tecnologia ajude a aproximar jovens do mundo financeiro, persistem desafios quanto à inclusão e à superação de antigas desigualdades. Estudos mostram que, mesmo com o avanço das ferramentas digitais, diferenças de gênero e renda ainda influenciam nas oportunidades e modelos de educação financeira apresentados às crianças. Em muitos casos, meninas são ensinadas a poupar, enquanto meninos recebem estímulo para investir e multiplicar recursos, o que contribui para perpetuar disparidades históricas.
Outro ponto relevante é a necessidade de orientar o uso responsável dessas tecnologias, assegurando que jovens não apenas manuseiem bem os aplicativos, mas entendam a importância de evitar dívidas, reconhecer armadilhas financeiras e desenvolver um planejamento sustentável. Para muitos, a experiência de administrar o primeiro salário ou estágio e aprender a lidar com limites financeiros concretos é fundamental nessa trajetória de autonomia.
O novo cenário da relação das famílias com o dinheiro
Os hábitos de gestão financeira familiar mudaram, exigindo flexibilidade e atualização constante das estratégias. Seja por meio do fundo comum, contas separadas ou modelos híbridos, a participação ativa de todos os membros da casa favorece discussões mais transparentes e colaborativas. A digitalização dos hábitos de consumo e o acesso facilitado às informações têm papel central nesta nova dinâmica, onde ferramentas como as carteiras virtuais deixam de ser exclusividade de adultos e passam a ser parte do cotidiano infantil e adolescente.
No fim das contas, a transformação no jeito de lidar com o dinheiro dentro de casa reflete a evolução social, tecnológica e cultural do mundo atual. O aprendizado, agora, ocorre a partir da experiência, do acesso à informação e do diálogo aberto sobre economia e finanças. Assim, espera-se que as próximas gerações estejam cada vez mais preparadas para tomar decisões conscientes e construir uma relação equilibrada e saudável com o dinheiro.










