Caminhar pela rua usando o celular se tornou um hábito comum para muitas pessoas e, do ponto de vista psicológico, pode estar relacionado à regulação da ansiedade social, ao controle do ambiente e à necessidade constante de estímulo, funcionando como uma estratégia para lidar com o desconforto dos espaços públicos.
O celular funciona como escudo emocional durante o deslocamento?
Evitar o contato visual enquanto se caminha utilizando o celular possui explicações importantes sob a ótica da psicologia. Segundo a doutora Sherry Turkle, o celular age como um escudo emocional, permitindo evitar aproximações e controlar a intensidade das interações sociais durante o deslocamento.
Essa compreensão sugere que o motivo do uso do celular enquanto caminhamos vai além do lazer ou do hábito, e pode ser uma tentativa inconsciente de autoproteção emocional em contextos públicos imprevisíveis ou sobrecarregados. Andar olhando para o celular reduz significativamente a atenção ao ambiente, causando atenção dividida e aumentando risco de acidentes, efeito conhecido como inattentional blindness (Hyman et al., 2010).

Descubra por que muitos usam o celular enquanto caminham pelas ruas
O uso do celular durante a caminhada pode servir como uma âncora emocional para quem sente exposição ou sobrecarga ao cruzar espaços públicos. A psicóloga clínica Kristen Fuller destaca o aparelho como regulador emocional, ajudando pessoas a manter o controle em ambientes percebidos como estressantes.
Além disso, algumas pesquisas mostram que caminhar olhando para o celular pode ser uma forma de reduzir a sensação de vulnerabilidade, tornando o ambiente mais previsível e confortável para o indivíduo. Pesquisas mostram que o hábito de caminhar olhando o celular está associado a padrões de evitamento social, atuando como “barreira psicológica” diante de situações sociais desconfortáveis (Kuznekoff et al., 2015).
Leia também: O que significa quando alguém demora muito tempo para responder mensagens, segundo a psicologia
Principais fatores que contribuem para esse comportamento
Os fatores que levam pessoas a usarem o celular enquanto caminham são diversos e, muitas vezes, acontecem de forma inconsciente. Veja abaixo alguns dos fatores mais comuns que motivam este comportamento:
- Ansiedade social: Oferece proteção e evita contato visual inesperado.
- Sobrecarga sensorial: O aparelho ajuda a filtrar barulhos e estímulos excessivos.
- Necessidade de controle: Reduz a incerteza do ambiente.
- Hábito de recompensa: Notificações e novidades ativam o sistema de dopamina.
- Mecanismo de escape: Auxilia a desconectar do estresse cotidiano.
O que as pessoas realmente sentem ao caminhar usando o celular
Para muitos, caminhar pela rua com o celular não é um ato arriscado, e sim um refúgio emocional diante do fluxo social intenso. A sensação de companhia e segurança costuma prevalecer sobre a percepção de perigo, tornando a prática um recurso de regulação emocional.
Esse comportamento pode representar uma forma legítima de lidar com a exposição social e com o estresse, sem necessariamente indicar dependência digital ou vício. O ato também demonstra um instinto de estar sempre com o celular na mão, como explica o especialista Rafael Gratta, em seu perfil @rafaelgrattap:
@rafaelgrattap O ato de pegar o celular impulsivamente e começar a mexer em redes sociais está associado a uma desregulação na dopamina, substância da motivação. Veja o primeiro estudo citado no vídeo! Para parar de procrastinar, você precisa resolver seus conflitos internos. Como o segundo estudo citado mostra, ansiedade é a principal causa de procrastinação. É como se a ansiedade “bloqueasse” seu cérebro. Comece a praticar o silêncio e trazer a qualidade de meditação para o seu dia a dia, ou seja, faça de cada momento uma meditação. E, para acelerar este processo, escrever num papel suas dores, objetivos e o que está na sua cabeça, ajuda muito. Mais Foco e Menos Ansiedade #procrastinação #ansiedade #foco #saúdemental ♬ som original – Rafael Gratta
O celular é mais do que distração nas ruas
Estudos recentes sugerem que o uso do celular durante deslocamentos não é apenas entretenimento, mas pode ser uma ferramenta para enfrentar o desafio dos espaços públicos. A ansiedade social crescente na era digital faz o celular assumir o papel de mediador entre o indivíduo e o ambiente à sua volta.
Além de oferecer uma sensação psicológica de companhia, o celular pode auxiliar no gerenciamento do próprio bem-estar durante trajetos urbanos, transformando-se em um aliado diante da multidão e dos estímulos externos.
Referências bibliográficas
- HYMAN, I. E. et al. Did you see the unicycling clown? Inattentional blindness while walking and talking on a cell phone. Applied Cognitive Psychology, v. 24, n. 5, p. 597–607, 2010.
- KUZNEKOFF, J. H.; MUNZ, S.; TITSWORTH, S. Mobile phones in the classroom: Examining the effects of texting, Twitter, and message content on student learning. Communication Education, v. 64, n. 3, p. 344–365, 2015.







