O interesse por relatos criminais extremos, especialmente séries sobre assassinos em série, tornou-se um fenômeno global nos últimos anos. Plataformas de streaming registram audiências de milhões de pessoas em produções que misturam drama policial, biografia e suspense psicológico, despertando curiosidade, debates em redes sociais e questionamentos sobre o que leva tantas pessoas a buscar histórias marcadas por violência, medo e tensão constante.
Por que relatos de crimes extremos despertam tanta curiosidade
Uma das explicações mais citadas pelos pesquisadores é a chamada curiosidade mórbida, tendência humana a se interessar por situações extremas, perigosas ou socialmente proibidas, desde que exista uma sensação mínima de segurança. Ao acompanhar casos de crimes brutais, o público observa comportamentos fora da norma, tenta entender motivações e analisa como tudo aconteceu, sem precisar se expor diretamente a esse tipo de risco, como explica a pesquisa “The Psychological Benefits of Scary Play in Three Types of Horror Fans”.
Esse mecanismo funciona como uma espécie de “laboratório mental”. Assistir a documentários, séries de true crime ou filmes de suspense criminal permite observar sinais de alerta, padrões de violência e consequências dos atos em um ambiente controlado. Pesquisas recentes indicam que essa combinação entre ameaça simbólica e segurança real ajuda o cérebro a processar informações sobre o perigo e a manter a atenção presa à narrativa.

O que a psicologia revela sobre o gosto por séries de assassinos em série
Estudos em psicologia do medo e da curiosidade sugerem que o interesse por séries de assassinos em série está ligado a uma forma de aprendizado indireto. Ao acompanhar essas histórias, o público observa como as vítimas foram escolhidas, quais estratégias os agressores utilizaram e quais erros permitiram que os crimes fossem descobertos, formando um repertório mental de sinais de perigo.
Pesquisas com audiências de true crime apontam que muitas pessoas relatam consumir esse tipo de conteúdo com uma função considerada prática: entender melhor o comportamento violento e identificar possíveis “red flags”. Em especial, levantamentos após 2020 mostram que uma parcela significativa do público feminino busca nessas obras pistas de comportamentos suspeitos e estratégias de autoproteção, além de exercitar empatia, julgamento moral e reflexão sobre falhas institucionais.
Para aprofundarmos no tema, trouxemos o vídeo da psicóloga Marina Castro:
@psicomarinacastro #truecrime #joegoldberg #psicologia ♬ som original – psicomarinacastro
Como curiosidade e medo atuam juntos nesse tipo de conteúdo
A combinação entre curiosidade e medo é central na atração por séries e documentários sobre assassinos em série. O cérebro humano tende a buscar informações sobre ameaças potenciais, mesmo quando essas ameaças não estão presentes no ambiente imediato, o que tem raízes evolutivas: conhecer o perigo aumenta as chances de reconhecer e evitar situações arriscadas no futuro.
Nesse contexto, conteúdos criminais funcionam como uma forma de exposição controlada ao medo. A pessoa sabe que se trata de uma história mediada e mantém o controle sobre o nível de exposição. Para organizar melhor esse funcionamento psicológico, pesquisadores costumam destacar alguns elementos recorrentes na experiência do público:
- Curiosidade motiva a busca por detalhes sobre o caso, o perfil do agressor e o desfecho.
- Medo mantém o estado de alerta e intensifica a atenção, tornando a experiência mais envolvente.
- Distância psicológica garante a percepção de que não há um risco imediato.
O que os estudos apontam sobre o consumo de true crime hoje
Levantamentos após a expansão das plataformas de streaming mostram um crescimento constante no consumo de true crime e dramas biográficos sobre assassinos em série. Os dados indicam padrões recorrentes, como maior participação feminina nas audiências, interesse por detalhes procedimentais da investigação e uso de fóruns, redes sociais e podcasts para debater provas, teorias e responsabilidades.
Ao mesmo tempo, pesquisadores e profissionais da área jurídica chamam a atenção para dilemas éticos. Há preocupação em reabrir feridas para familiares de vítimas, transformar pessoas reais em entretenimento e romantizar criminosos ao enfatizar apenas seu carisma. Estudos recentes recomendam que produções de true crime incluam contexto sobre as vítimas, abordem impactos sociais dos crimes e evitem glamurizar agressores, revelando como a sociedade lida com traumas coletivos, justiça e responsabilidade.








