Os gostos cinematográficos costumam ser tratados como algo casual, mas diversas pesquisas em psicologia indicam que a preferência por certos gêneros está ligada a traços estáveis de personalidade. Entre esses gêneros, o cinema de terror chama atenção por despertar emoções intensas e reações físicas marcantes, funcionando como um laboratório emocional que ajuda a compreender como cada pessoa lida com medo, adrenalina e situações de risco simbólicas, sobretudo em um contexto de consumo crescente de mídia sob demanda.
O que a psicologia revela sobre quem gosta de filmes de terror
A preferência por filmes de terror costuma se associar a pessoas que lidam relativamente bem com emoções intensas e situações de alta excitação fisiológica, como sustos, tensão e suspense prolongado. Em muitas pesquisas, fãs de terror apresentam níveis mais baixos de neuroticismo, indicando menor tendência à ansiedade crônica e à preocupação excessiva diante de ameaças simuladas.
Esse grupo tende a tolerar melhor o medo controlado, aquele que é vivido na tela, mas não na vida real, percebendo o desconforto como parte do entretenimento. Estudos recentes também sugerem que, para alguns espectadores, o gênero pode funcionar como forma de autorregulação emocional, ajudando a experimentar medo em um contexto previsível e limitado, com,o mostra a pesquisa “Pandemic practice: Horror fans and morbidly curious individuals are more psychologically resilient during the COVID-19 pandemic”.
Para aprofundarmos no tema, trouxemos o vídeo da psicóloga Isabela Leal:
@psiisabelaleal Por que será que algumas pessoas amam filmes de terror e outras não conseguem nem pensar em assistir? ⠀ Nesse vídeo, eu falo sobre o que a psicologia diz sobre o nosso fascínio (ou repulsa) por histórias assustadoras e o que isso pode revelar sobre a gente. ⠀ Já pensou que o terror pode ser uma forma segura de lidar com emoções intensas, explorar curiosidades e até refletir sobre a nossa realidade? ⠀ Assiste e depois me conta: Você curte terror? O que te atrai ou te afasta desse gênero? #psicologia #terror #filmesdeterror #psicologiadomedo #reflexão #tiktokedu #cinemaepsicologia ♬ som original – Isabela Leal l Psicóloga
Como os Cinco Grandes fatores se relacionam com o gosto por terror
A psicologia da personalidade utiliza modelos consolidados, como o dos Cinco Grandes fatores (extroversão, amabilidade, conscienciosidade, neuroticismo e abertura à experiência), para examinar esse tipo de relação. Em diferentes estudos, grupos de participantes classificam seus gêneros preferidos e respondem questionários padronizados, permitindo cruzar dados de preferência cinematográfica e traços de personalidade.
No caso das produções de terror, certos perfis aparecem com frequência, embora não descrevam todos os fãs do gênero. A literatura científica destaca que se trata de tendências médias, e não de regras fixas: pessoas com perfis diversos também podem se encantar pelo terror, seja pelo enredo, pela estética sombria ou pela curiosidade sobre o desconhecido.
Quais traços de personalidade se conectam à preferência por terror
Dentro da psicologia da personalidade, o interesse por histórias assustadoras se relaciona com diferentes combinações de traços. Alguns padrões observados em estudos recentes envolvem características que ajudam a entender por que certas pessoas buscam deliberadamente experiências de excitação emocional na ficção:
- Extroversão moderada a alta: tendência a apreciar experiências intensas, especialmente em grupo.
- Baixo neuroticismo: maior tolerância ao medo simulado e às cenas tensas.
- Conscienciosidade: gosto por certa estrutura e previsibilidade nas narrativas, mesmo quando o enredo é caótico.
- Amabilidade: cooperação e facilidade para compartilhar experiências de entretenimento com outras pessoas.
Curiosamente, alguns estudos apontam uma ligação mais fraca entre o amor por filmes de terror e a abertura à experiência, em comparação com gêneros como mistério ou ficção científica. Enquanto esses últimos costumam atrair pessoas muito curiosas por ideias novas e abstratas, o terror pode seduzir tanto quem busca desafios mentais quanto quem procura apenas sensações fortes, sem grande interesse por especulações filosóficas.
Por que o cérebro aprecia sentir medo em um contexto seguro
Uma das explicações propostas pela psicologia e pela neurociência é que o terror oferece uma forma de medo controlado. O cérebro reage às cenas como se houvesse perigo real, liberando adrenalina e outros neurotransmissores ligados à excitação e ao estado de alerta, mas com a informação de fundo de que não há ameaça concreta no ambiente.
Para algumas pessoas, esse tipo de entretenimento funciona como um laboratório interno: é possível observar como o corpo reage, testar limites e experimentar sensações que dificilmente seriam buscadas na vida cotidiana. Já indivíduos com maior sensibilidade à ansiedade tendem a evitar esse conteúdo por perceber que o desconforto emocional supera qualquer prazer derivado da experiência.

De que forma os gostos cinematográficos influenciam a identidade
A psicologia social destaca que preferências culturais, incluindo o gosto por filmes de terror, contribuem para a construção da identidade. Escolher determinados gêneros ajuda a comunicar quem se é e com que grupos se deseja se relacionar, atuando como um marcador simbólico de valores, interesses e estilos de vida.
Alguém que se apresenta como fã de terror pode transmitir uma imagem de coragem, irreverência ou interesse por temas sombrios, independentemente do quanto essas características aparecem na vida prática. Em 2025, com plataformas de streaming e algoritmos de recomendação, esse efeito se intensifica, reforçando comunidades online dedicadas ao gênero e moldando conversas, amizades e rotinas de consumo.
Gostar de filmes de terror é considerado algo positivo ou negativo
Do ponto de vista científico, a preferência por terror não é classificada como positiva nem negativa. Trata-se de uma expressão de diferenças individuais, influenciada por traços de personalidade, experiências de vida e contexto cultural, na qual o medo é explorado como forma de entretenimento e, em alguns casos, de reflexão sobre temas difíceis.
Em termos psicológicos, a questão central não é o gênero escolhido, mas o impacto do consumo de conteúdos na rotina, no sono, no humor e nas relações. Quando o hábito não interfere no bem-estar, o interesse por histórias assustadoras pode ser entendido como mais um caminho pelos quais a personalidade se manifesta e encontra formas de se expressar no dia a dia.








