Aprender a dizer não costuma ser um ponto de virada na vida de muitas pessoas. A partir do momento em que alguém começa a estabelecer limites claros, torna-se mais fácil preservar o equilíbrio emocional, administrar o próprio tempo e agir de acordo com os próprios valores. Em vez de aceitar tudo para evitar conflitos ou desagradar os outros, a pessoa passa a ouvir o próprio corpo e suas necessidades internas, reduzindo a sensação de sobrecarga.
Por que aprender a dizer não é essencial para a saúde emocional
A capacidade de dizer não está diretamente ligada à preservação da autonomia emocional. Quando alguém aceita tudo o que lhe pedem, mesmo contra a própria vontade, aumenta a chance de desenvolver ansiedade, irritação e sensação de injustiça, além de favorecer quadros de estresse e possível esgotamento emocional, como explica a pesquisa “Assertiveness Training: A Forgotten Evidence-Based Treatment”.
Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, recusar pedidos pode fortalecer vínculos, pois quem respeita o outro tende a aceitar também seus limites. Quando o “sim” passa a ser mais consciente, alinhado a prioridades e valores pessoais, a pessoa sente maior coerência interna, diminuindo a culpa e a autoexigência exagerada.
Para aprofundarmos o tema, trouxemos o vídeo da psicóloga Lígia Mendes:
@psicologaligiamendes Necessidade de dizer SIM para tudo! Vem aqui que eu vou te explicar como esse comportamento pode ser uma resposta traumática da sua história! #trauma #apegoansioso #apegoevitativo #emdr #dicadapsi ♬ som original – Psicóloga Lígia Mendes
Como a personalidade influencia o processo de aprender a dizer não
A personalidade exerce papel central na forma como alguém lida com pedidos, convites e cobranças. Indivíduos mais complacentes, que evitam conflitos a qualquer custo ou que necessitam frequentemente de elogios e validações, tendem a ter mais dificuldade para recusar algo, temendo rótulos de “egoístas” ou “mal-agradecidos”.
Outro elemento relevante é a educação na infância. Crianças ensinadas a não contrariar adultos, a obedecer sem questionar ou a priorizar sempre o bem-estar dos outros podem chegar à adolescência e à vida adulta com forte desconforto diante da palavra não. Em muitos casos, apenas em psicoterapia elas identificam crenças como “se eu recusar, vão deixar de gostar de mim” e começam a construir uma postura mais assertiva.
Como funciona o método sanduíche para aprender a dizer não
Uma das estratégias mais mencionadas em contextos de comunicação assertiva é o chamado método sanduíche. A lógica é simples: envolver a mensagem de recusa entre dois elementos positivos, o que ajuda a minimizar mal-entendidos e a reduzir a culpa de quem está tentando estabelecer limites.
Na prática, essa técnica segue a sequência positivo – negativo – positivo. Primeiro, vem uma frase de consideração; depois, a recusa objetiva; por fim, algum tipo de abertura ou valorização do vínculo, mantendo o respeito mútuo mesmo diante do não.
- Parte positiva: reconhecer o convite, a iniciativa ou o esforço do outro.
- Parte negativa: expor o não de modo direto, sem justificativas excessivas.
- Parte positiva final: sugerir outra possibilidade ou afirmar o respeito pela relação.
Alguns exemplos de frases que utilizam o método sanduíche ao aprender a dizer não são:
- “Gostei muito do convite, mas neste momento não consigo participar. Quem sabe numa próxima oportunidade?”
- “Entende-se que isso seja importante para você, porém agora não é possível assumir mais essa tarefa. Se algo mudar, será avisado.”
- “Agradece-se por ter lembrado, porém a agenda está cheia hoje. Pode-se avaliar uma nova data mais adiante.”

Quais passos podem facilitar o processo de dizer não no dia a dia
Para muitas pessoas, mudar o padrão de comportamento exige treino gradual. A orientação geral é começar por situações de menor impacto emocional, em que a recusa não trará grande tensão, permitindo ganhar segurança para lidar com contextos mais delicados.
A seguir, alguns passos simples podem tornar o processo de aprender a dizer não mais concreto e prático, ajudando a consolidar novos hábitos de comunicação e proteção psicológica:
- Reconhecer os próprios limites: identificar sinais de exaustão, falta de tempo ou desconforto diante de determinados pedidos.
- Preparar frases curtas: ter algumas respostas prontas, diretas e respeitosas, reduzindo a tendência de se justificar demais.
- Praticar em situações simples: começar recusando pequenos favores ou convites que realmente não fazem sentido naquele momento.
- Manter a coerência: evitar ceder logo após dizer não, para não reforçar a ideia de que basta insistir para conseguir um sim.
- Buscar apoio profissional, se necessário: em casos de dificuldade persistente, psicoterapia pode auxiliar na revisão de crenças e no desenvolvimento da assertividade.
Com o tempo, aprender a dizer não deixa de ser visto como gesto de rejeição e passa a ser compreendido como uma forma de cuidado com a saúde mental. Ao alinhar ações, prioridades e valores, a pessoa constrói relações mais equilibradas, em que o respeito é recíproco e os limites são encarados como parte natural e saudável da convivência.









