Querer ter sempre a razão é um comportamento que costuma aparecer em diferentes contextos: no trabalho, na família, entre amigos e até em debates nas redes sociais. Em muitos casos, essa postura é interpretada apenas como “gênio forte” ou “personalidade difícil”. No entanto, a psicologia aponta que esse hábito pode estar ligado a mecanismos internos mais profundos, relacionados à forma como a pessoa lida com inseguranças, críticas e com a própria imagem.
O que significa sempre querer ter razão segundo a psicologia
A psicologia descreve esse padrão como um conjunto de fatores cognitivos e emocionais. Um dos conceitos frequentemente associados a esse comportamento é a inflexibilidade cognitiva, isto é, a dificuldade de mudar de ideia, considerar novas perspectivas ou revisar crenças antigas (Hohl e Dolcos, 2024).
Nesses casos, a pessoa tende a interpretar divergências como desafios pessoais, e não como diferenças naturais de opinião. Assim, o diálogo deixa de ser um espaço de troca e passa a funcionar como um “campo de prova” em que é preciso defender a própria imagem a qualquer custo.
Essa tema viralizou nas redes, como o vídeo da psicóloga Larissa Storino, em que ela responde sobre esse tema:
@psilaristorino Respondendo a @🫧 #psicologia #amizade #conselhos #saudemental #relacionamento ♬ som original – Larissa Storino l Psicóloga
Quais são as principais causas de querer ter sempre a razão
De acordo com abordagens clínicas atuais, o comportamento de precisar estar certo o tempo todo costuma ter raízes em diferentes áreas da vida emocional. Em muitos casos, ele é um reflexo de experiências anteriores, modelos de relacionamento e estratégias de proteção que foram sendo construídas ao longo dos anos.
Além de fatores individuais, como traços de personalidade mais rígidos, o ambiente em que a pessoa cresceu também pode reforçar esse padrão. A seguir, algumas causas comuns ajudam a entender por que a necessidade de ter razão se torna tão intensa, como explicita o estudo de Souza, Pelegrini e Fineberg (2024).
- Medo de errar: o equívoco é visto como falha pessoal, o que gera desconforto intenso ao reconhecer um engano.
- Baixa autoestima e insegurança: confirmar que está certo funciona como uma forma de reforçar o próprio valor.
- Inflexibilidade cognitiva: há resistência em rever crenças ou aceitar informações que contrariem o que já se pensa.
- Necessidade de controle: manter opiniões firmes oferece sensação de ordem em situações que parecem imprevisíveis.
Como esse comportamento afeta relacionamentos e bem-estar emocional
Do ponto de vista das relações, a necessidade constante de ter a razão pode gerar desgaste. Conversas simples podem transformar-se em disputas, já que o objetivo passa a ser provar algo em vez de compreender o outro, o que reduz a empatia e a sensação de parceria.
No campo emocional, insistir em estar certo o tempo todo pode aumentar a ansiedade e a tensão interna. A pessoa passa a monitorar situações para garantir que não será desmentida, limita a abertura ao aprendizado e pode sentir solidão por ser vista como pouco acessível ou rígida.
- Discussões tendem a se prolongar além do necessário.
- Erros menores ganham proporções maiores por falta de admissão.
- Outras pessoas podem evitar conversar sobre determinados temas.
- A pessoa corre o risco de ser vista como pouco acessível ou rígida.

É possível lidar de forma diferente com a necessidade de ter razão
A psicologia indica que, embora esse comportamento possa estar bem enraizado, ele não é fixo. Com autoconhecimento e, em alguns casos, acompanhamento profissional, é possível reconhecer padrões, entender de onde vem a dificuldade em admitir erros e desenvolver formas mais flexíveis de se relacionar com opiniões diferentes.
Algumas estratégias simples podem ajudar a flexibilizar esse padrão, favorecendo relações mais saudáveis e uma postura interna menos defensiva. Entre elas estão práticas que estimulam a escuta ativa, a tolerância ao erro e a compreensão de críticas como oportunidades de crescimento:
- Perceber os gatilhos: identificar situações em que a necessidade de ter razão aparece com mais força, como em discussões específicas ou diante de certas pessoas.
- Diferenciar crítica de ataque pessoal: separar a ideia que está sendo questionada da própria identidade ajuda a reduzir a sensação de ameaça.
- Praticar escuta ativa: prestar atenção real ao que o outro diz, em vez de preparar contra-argumentos o tempo todo.
- Normalizar o erro: encarar equívocos como parte do desenvolvimento, e não como sinal de fracasso.
Referências bibliográficas
- Hohl K, Dolcos S. Measuring cognitive flexibility: A brief review of neuropsychological, self-report, and neuroscientific approaches. Front Hum Neurosci. 2024;18:1331960. Published 2024 Feb 19. doi:10.3389/fnhum.2024.1331960
- Frota Lisboa Pereira de Souza AM, Pellegrini L, Fineberg NA. Cognitive inflexibility, obsessive-compulsive symptoms and traits and poor post-pandemic adjustment. Neurosci Appl. 2024;3:104073. Published 2024 May 23. doi:10.1016/j.nsa.2024.104073










