A expressão “entre eu e você” costuma aparecer em conversas cotidianas, músicas, séries e até em postagens nas redes sociais. Apesar de a norma culta da língua portuguesa apontar outra forma como mais adequada na escrita formal, a fala do dia a dia segue seu próprio caminho, o que ajuda a entender como o português brasileiro funciona na prática e como a variação linguística reflete contextos sociais, graus de formalidade e até marcas de identidade.
O que é a norma culta e qual sua relação com o português falado
A norma culta é o conjunto de usos da língua considerados mais adequados em contextos formais, como textos acadêmicos, documentos oficiais e comunicação profissional. Ela se apoia em gramáticas normativas, dicionários e modelos de escrita socialmente valorizados, funcionando como um parâmetro de prestígio.
No caso da expressão “entre eu e você”, a norma culta recomenda o uso de pronomes pessoais na forma oblíqua depois de preposição: “entre mim e você”. Já o português informal, ou língua em uso, prioriza a espontaneidade, o que explica a preferência pela forma que soa mais natural na fala, ainda que não siga a recomendação escolar.
Para entender a regra gramatical, trouxemos o vídeo da professora Rô Lopes:
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Por que se fala “entre eu e você” se a gramática indica outra forma
Do ponto de vista da gramática normativa, a preposição “entre” exige pronome pessoal no caso oblíquo, por isso a forma sugerida é “entre mim e você”. Contudo, na comunicação espontânea, muitas pessoas sentem que “entre eu e você” é mais natural, pois o pronome “eu” é mais frequente, mais simples e muito recorrente na aquisição da linguagem.
Pesquisas em linguística, inclusive em universidades como a USP, mostram que a língua falada segue regras próprias, diferentes das descritas em manuais escolares. Em vez de encarar “entre eu e você” apenas como erro, esses estudos a veem como parte de um sistema linguístico vivo, enquanto a escola prioriza a norma culta para garantir acesso a uma variedade prestigiada, importante em exames, vida profissional e leitura de textos escritos.
Como a fala influencia o português informal no dia a dia
A força da oralidade sobre o português brasileiro aparece em vários exemplos além de “entre eu e você”. Na conversa espontânea, é comum a redução de sons, a preferência por formas mais curtas e o uso de construções que facilitam a fluidez, mesmo quando entram em conflito com a prescrição da gramática tradicional.
Essa influência se percebe em situações diversas do cotidiano, nas quais o português informal é dominante:
- Conversas familiares: em casa, prevalece a fala espontânea, com pouca preocupação com regras explícitas.
- Redes sociais: posts e mensagens reproduzem a oralidade, como em “entre eu e você, isso é complicado”.
- Mídia e entretenimento: séries, novelas e músicas usam linguagem próxima da fala, para representar o cotidiano de forma mais autêntica.

Como diferenciar norma culta e uso popular na fala e na escrita
Observar a distância entre o “como se fala” e o “como se escreve” ajuda a entender que as variedades da língua não se anulam, mas se complementam em contextos distintos. Em geral, o português formal é exigido em avaliações, processos seletivos e documentos, enquanto o português informal marca identidade, pertencimento e espontaneidade nas interações diárias.
- Entre eu e você
- Como se fala (uso popular): “Isso fica entre eu e você, tá?”
- Como se escreve (norma culta): “Isso fica entre mim e você.”
- Pra mim fazer
- Como se fala: “Pra mim fazer isso, preciso de tempo.”
- Como se escreve: “Para eu fazer isso, preciso de tempo.”
- A gente vamos
- Como se fala: “A gente vamos sair mais tarde.”
- Como se escreve: “A gente vai sair mais tarde.”
- Entre eu e ele
- Como se fala: “Isso é entre eu e ele.”
- Como se escreve: “Isso é entre mim e ele.”
- Para mim é melhor assim
- Como se fala: “Pra mim é melhor assim.” (usual na fala, com valor de opinião)
- Como se escreve: “Para mim é melhor assim.” (aceito, pois “mim” funciona como objeto, não antes de verbo)
No caso específico de “entre eu e você”, a forma recomendada em textos normativos continua sendo “entre mim e você”. A circulação intensa da variante informal, porém, mostra como a língua se adapta às práticas comunicativas das pessoas e como o falante alterna, de modo consciente ou não, entre registro formal e registro informal conforme a situação.








