Ao lembrar de um momento muito marcante, o corpo costuma reagir de formas físicas claras: o coração acelera, a respiração muda e, em muitos casos, surgem arrepios pela pele. Esse fenômeno é comum tanto em lembranças agradáveis, como uma música especial, quanto em recordações ligadas ao medo ou à vergonha, pois a explicação passa pela maneira como o cérebro organiza memórias, ativa regiões ligadas às emoções e integra essas respostas ao sistema nervoso autônomo.
O que é o sistema límbico e por que ele é decisivo nas emoções
Esse arrepio não aparece isolado. Ele faz parte de um conjunto de respostas automáticas comandadas por áreas profundas do cérebro, especialmente o sistema límbico, que atua como um hub de processamento emocional e motivacional, modulando também hormônios do estresse como o cortisol e a adrenalina, de acordo com pesquisas como “Neurobiological models of emotion regulation: a meta-analysis of neuroimaging studies of acceptance as an emotion regulation strategy“.
O sistema límbico é um conjunto de estruturas envolvidas na emoção, na memória e na motivação. Entre as principais partes estão a amígdala, o hipocampo, o giro do cíngulo e partes do hipotálamo, que avaliam o que é significativo, armazenam experiências e orientam reações rápidas, como fugir, aproximar-se ou ficar em alerta.

Como o sistema límbico registra experiências emocionais
Quando uma experiência é vivida com alta carga emocional, o sistema límbico a registra com mais intensidade, tornando a lembrança mais vívida e fácil de ser retomada depois. O hipocampo organiza os detalhes da situação, enquanto a amígdala avalia o grau de ameaça ou de importância emocional, influenciando a liberação de neurotransmissores como dopamina e noradrenalina.
Anos depois, ao lembrar desse evento, o cérebro reativa parcialmente o mesmo circuito, o que ajuda a explicar por que uma simples memória pode gerar respostas físicas como o arrepio. Esse resgate funciona como uma espécie de “replay emocional”, em que o corpo reage como se uma parte do episódio estivesse acontecendo novamente naquele momento.
Por que arrepiamos ao lembrar de algo marcante
O arrepio ao lembrar de algo marcante está ligado à forma como o sistema límbico se conecta ao sistema nervoso autônomo, responsável por reações involuntárias do corpo. Ao acessar uma lembrança carregada de emoção, a amígdala envia sinais a outras áreas cerebrais que acionam o tronco encefálico e o hipotálamo, modificando circulação, respiração e musculatura da pele.
Esse processo pode acontecer em diferentes contextos, e cada tipo de memória tende a acionar um padrão corporal específico. Abaixo estão alguns exemplos de situações comuns em que essa resposta aparece, mostrando como o cérebro interpreta a lembrança como relevante e desencadeia respostas típicas de situações de grande impacto:
- Lembranças de sustos ou acidentes podem gerar arrepio e aceleração do pulso.
- Memórias afetivas intensas costumam provocar frio na barriga e pele arrepiada.
- Situações de vergonha ou exposição também podem ativar o mesmo circuito emocional.
Para aprofundarmos no tema, trouxemos o vídeo do especialista Fabrício Carpinejar:
@carpinejar O ARREPIO É RARO E INESQUECÍVEL #carpinejar #inteligenciaemocional #belezadavida ♬ Only Love Can Hurt Like This (Slowed Down Version) – Paloma Faith
Como acontece a ativação do sistema límbico nesse processo
Ao recordar um episódio marcante, o cérebro não reproduz apenas imagens ou pensamentos soltos: ele reativa um padrão de conexões formado na época do acontecimento. O hipocampo resgata o contexto da memória (onde, quando, com quem), enquanto a amígdala recupera a carga emocional, fazendo da lembrança um “evento em miniatura” capaz de disparar reações reais.
Essa ativação se espalha por outras áreas, como o córtex pré-frontal, que interpreta o significado da lembrança, e o hipotálamo, que aciona respostas fisiológicas. A partir daí, o sistema nervoso autônomo entra em cena: vasos da pele se contraem, pequenos músculos ao redor dos pelos se ativam e surge a piloereção, mecanismo com origem evolutiva ligado à proteção térmica e à postura de defesa em animais.
Quais etapas levam do acesso à memória até o arrepio
O caminho que vai da lembrança ao arrepio segue uma sequência relativamente previsível no cérebro, envolvendo tanto regiões emocionais quanto centros de controle corporal automático. De forma resumida, o processo pode ser descrito em etapas que mostram a integração entre mente, emoção e resposta física:
- Uma lembrança marcante é acessada.
- O sistema límbico avalia o conteúdo emocional dessa lembrança.
- A amígdala envia sinais ao hipotálamo e ao tronco encefálico.
- O sistema nervoso autônomo é ativado, modificando batimentos, respiração e músculos da pele.
- Surge o arrepio, acompanhado de outras sensações físicas.
O arrepio sempre indica uma emoção muito forte
O arrepio ligado à memória marcante costuma sinalizar que o cérebro classificou aquela recordação como altamente significativa, mas nem sempre significa uma emoção intensa naquele exato momento. Em alguns casos, o fenômeno é rápido e discreto; em outros, vem acompanhado de taquicardia, sensação de calor ou de frio e até lágrimas, dependendo da sensibilidade emocional da pessoa.
Esse tipo de resposta varia ao longo da vida. Fatores como estresse, sono, uso de medicamentos e histórico de experiências traumáticas podem tornar o sistema límbico mais reativo, enquanto práticas de regulação emocional — como terapia, técnicas de respiração e atenção plena — podem reduzir a intensidade das reações físicas, mesmo que o arrepio ocasional continue a aparecer.
Como mente e corpo se integram na experiência do arrepio
No dia a dia, o arrepio ao lembrar de algo marcante funciona como um lembrete de que mente e corpo atuam de forma integrada. A memória não fica apenas guardada em forma de palavras ou imagens; ela envolve circuitos emocionais, hormônios e músculos, conectando o que pensamos ao que sentimos fisicamente.
A ativação do sistema límbico, nesses momentos, mostra que o cérebro trata certas lembranças como experiências ainda vivas, capazes de mobilizar todo o organismo por alguns instantes. Compreender esse mecanismo ajuda a normalizar a reação e pode ser o primeiro passo para lidar melhor com memórias difíceis ou potencializar o impacto positivo de lembranças agradáveis.








