O arrepio que surge durante uma doença costuma chamar atenção porque aparece de forma repentina, muitas vezes acompanhado de frio intenso e mal-estar. Esse fenômeno não é aleatório: ele está ligado à maneira como o organismo regula a própria temperatura e ativa o sistema de defesa. Entender esse processo ajuda a compreender melhor o que acontece no corpo em períodos de febre, infecção e inflamação, e por que o arrepio pode ser um sinal de que o corpo está trabalhando para se proteger.
O que é a regulação térmica do corpo e como ela funciona
A regulação térmica é o conjunto de processos que mantém a temperatura do corpo relativamente constante, mesmo com mudanças no ambiente externo ou no metabolismo interno. Essa função é comandada principalmente pelo hipotálamo, região do cérebro que atua como um “termostato biológico”, recebendo informações de sensores espalhados pela pele e pelos órgãos internos, como explica a pesquisa “
Fever versus hyperthermia“.
Quando a temperatura sobe demais, o corpo tende a perder calor por meio de suor, vasodilatação (dilatação dos vasos sanguíneos próximos à pele) e redução da produção interna de calor. Quando a temperatura cai, o organismo faz o oposto: contrai vasos periféricos, reduz a perda de calor pela pele e aumenta a produção de calor por meio de contrações musculares rápidas, que se manifestam como tremores e arrepios.

Arrepio e produção de calor qual é o papel desse mecanismo natural
Nesse contexto, o arrepio é uma das ferramentas que ajudam o corpo a se aquecer. Pequenas contrações involuntárias dos músculos geram calor adicional, enquanto os pelos se eriçam, reduzindo a perda de calor na superfície da pele, ainda que de forma discreta em humanos quando comparados a animais com pelagem densa.
Além do arrepio, o organismo também recorre a estratégias como a postura encolhida e o uso reflexo de roupas e cobertores para manter o calor. Embora sejam comportamentos conscientes, eles complementam o ajuste fisiológico iniciado pelo sistema nervoso central, mostrando como corpo e comportamento atuam juntos na conservação da temperatura.
Por que o corpo arrepia quando estamos doentes
Durante uma infecção, como uma gripe ou um quadro viral, o sistema imunológico libera substâncias chamadas citocinas e outros mediadores inflamatórios. Esses compostos circulam pelo sangue e chegam ao cérebro, indicando que há um agente agressor a ser combatido; o hipotálamo então “reprograma” o ponto de ajuste da temperatura corporal, elevando o valor considerado adequado naquele momento.
Esse novo ponto de ajuste, mais alto, é o que leva à febre. Enquanto a temperatura real do corpo ainda está abaixo desse novo parâmetro, o organismo “entende” que está com frio, mesmo que o ambiente esteja quente. É nesse intervalo que surgem a sensação de frio intenso, os tremores e o arrepio, funcionando como mecanismos para gerar calor e alcançar a nova temperatura ideal para enfrentar a infecção.
Para aprofundarmos no tema, trouxemos o vídeo do perfil @fatosdesconhecidos:
@fatosdesconhecidos Por que ficamos arrepiados?
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Como a resposta imunológica se relaciona com a febre e o arrepio
A resposta imunológica envolve diversos tipos de células e moléculas que atuam em conjunto para reconhecer, atacar e eliminar agentes infecciosos. Quando um vírus ou bactéria entra no organismo, células de defesa identificam suas estruturas e passam a liberar mediadores químicos que estimulam inflamação local e sistêmica, incluindo substâncias que atuam diretamente no centro de controle térmico do cérebro.
Entre esses mediadores estão compostos que elevam a temperatura-alvo, o que explica por que a febre é um sinal clássico de ativação imunológica. O arrepio aparece como um passo intermediário: é o caminho que o corpo utiliza para acelerar a subida da temperatura até o novo patamar estabelecido pela resposta imune, tornando o ambiente menos favorável à multiplicação de alguns microrganismos.
- Um microrganismo invade o corpo e começa a se multiplicar.
- Células de defesa reconhecem o invasor e liberam citocinas e outros mediadores.
- Esses mediadores alcançam o hipotálamo e elevam o ponto de ajuste da temperatura.
- O corpo passa a sentir frio e reage com tremores e arrepios para produzir mais calor.
- A temperatura sobe, estabelece a febre e reforça a eficiência de várias etapas da defesa imunológica.
Quais outros sinais costumam acompanhar o arrepio na doença
O arrepio raramente aparece isolado durante um quadro infeccioso e costuma vir associado a outros sintomas gerais. Esses sinais refletem o esforço do organismo para lidar com o problema e ajudam a perceber que há algo em curso na regulação térmica e no sistema imunológico, indicando que o corpo está em alerta.
- Febre: aumento da temperatura corporal acima do valor habitual, muitas vezes com sensação de calor após a fase de calafrios.
- Sudorese: após o pico febril, o corpo pode ativar o suor para dissipar o calor quando o ponto de ajuste volta a baixar.
- Cansaço: o organismo direciona energia para o sistema de defesa, o que contribui para a sensação de fadiga.
- Dor de cabeça e desconforto corporal: associados à liberação de mediadores inflamatórios e à própria febre.
Em algumas situações, o arrepio intenso e repetido pode indicar febre alta ou início rápido de um quadro infeccioso mais grave, especialmente quando acompanhado de mal-estar acentuado, alteração de consciência ou dificuldade respiratória. Nesses casos, a avaliação médica é importante para investigar a causa, afastar complicações e orientar o tratamento adequado.
Como o organismo retoma o equilíbrio após a doença
À medida que o sistema imunológico controla a infecção, a produção de mediadores inflamatórios diminui. Com menos sinais circulando no sangue, o hipotálamo reduz novamente o ponto de ajuste da temperatura, aproximando-o dos valores habituais, o que pode levar a uma fase de calor intenso e suor enquanto o organismo tenta perder o excesso de calor acumulado.
Depois dessa etapa, a temperatura volta gradualmente ao normal, o arrepio desaparece e a sensação térmica se estabiliza. O fim dos calafrios, da febre e de outros sintomas indica que a resposta imunológica cumpriu seu papel, restabelecendo o equilíbrio entre regulação térmica e defesa do organismo, e mostrando como arrepio, febre e sistema imune fazem parte de um mesmo conjunto de ajustes fisiológicos coordenados.








