O aumento da expectativa de vida tem trazido à tona preocupações relacionadas à saúde cerebral, especialmente entre adultos de meia-idade e idosos. Entre as condições que mais preocupam especialistas está a demência, caracterizada pela perda progressiva de memória e habilidades cognitivas, afetando a autonomia e a qualidade de vida. Estudos recentes apontam que hábitos cotidianos, como a escolha do meio de transporte, podem influenciar significativamente o risco de desenvolver doenças neurodegenerativas.
Atividades físicas regulares são amplamente reconhecidas por seus benefícios à saúde geral, incluindo a prevenção de doenças crônicas. No entanto, a prática de exercícios nem sempre faz parte da rotina da maioria das pessoas. Nesse contexto, o chamado “transporte ativo”, que engloba caminhadas e o uso da bicicleta para deslocamentos diários, surge como uma alternativa viável para incorporar movimento ao dia a dia e, ao mesmo tempo, promover a saúde do cérebro.
Como o transporte ativo pode impactar o risco de demência?
O termo transporte ativo refere-se ao uso de meios não motorizados, como caminhar ou pedalar, para realizar trajetos cotidianos. Pesquisas realizadas no Reino Unido com quase meio milhão de participantes indicam que a adoção desse tipo de deslocamento está associada a uma redução significativa no risco de demência, incluindo o Alzheimer. O estudo acompanhou os participantes por mais de uma década, analisando seus hábitos de locomoção, histórico de saúde e fatores genéticos relacionados à predisposição para doenças neurodegenerativas.
Os resultados revelaram que pessoas que utilizavam a bicicleta, sozinhas ou combinadas com outros meios de transporte, apresentaram uma diminuição de até 19% no risco de desenvolver demência e 22% no risco de Alzheimer, em comparação com aqueles que utilizavam apenas veículos motorizados ou transporte público. O impacto positivo foi observado mesmo entre indivíduos com maior predisposição genética para essas condições, sugerindo que o transporte ativo pode beneficiar diferentes perfis populacionais.
Quais mudanças o transporte ativo provoca no cérebro?
Além da redução do risco de demência, o transporte ativo parece influenciar diretamente a estrutura cerebral. Exames de ressonância magnética realizados em parte dos participantes mostraram que o hábito de pedalar estava relacionado ao aumento do volume de massa cinzenta em regiões do cérebro associadas à memória, como o hipocampo. Esse aumento pode indicar maior proteção contra o declínio cognitivo, já que a massa cinzenta está envolvida em funções essenciais como aprendizado e retenção de informações.
Por outro lado, o estudo observou que a caminhada isolada não apresentou o mesmo efeito protetor do ciclismo, e em alguns casos, esteve associada a uma leve redução do volume cerebral em determinadas áreas. Ainda assim, a combinação de caminhada com outros meios de transporte mostrou benefícios moderados, reforçando a importância de incorporar diferentes formas de movimento à rotina.

O transporte ativo pode beneficiar qualquer pessoa?
Uma dúvida comum é se os benefícios do transporte ativo se estendem a todos, independentemente de fatores genéticos. De acordo com a pesquisa, mesmo pessoas com variantes genéticas associadas a maior risco de demência, como o gene APOE ε4, podem se beneficiar da prática regular de atividades físicas durante o deslocamento. No entanto, os efeitos parecem ser mais expressivos entre aqueles sem essa predisposição genética, especialmente em relação à demência de início tardio.
- Redução do risco de demência: Pedalar regularmente pode diminuir a probabilidade de desenvolver a doença.
- Proteção contra o Alzheimer: O ciclismo mostrou impacto relevante na prevenção dessa condição.
- Benefícios para diferentes faixas etárias: Os efeitos positivos foram observados tanto em adultos mais jovens quanto em idosos.
- Independência do fator genético: O transporte ativo apresenta vantagens mesmo para quem possui predisposição hereditária.
Como adotar o transporte ativo no cotidiano?
Incorporar o transporte ativo à rotina pode ser mais simples do que parece. Pequenas mudanças, como trocar o carro pela bicicleta em trajetos curtos ou caminhar até pontos de ônibus mais distantes, já contribuem para o aumento da atividade física diária. Em cidades com infraestrutura adequada, o uso da bicicleta para ir ao trabalho ou realizar tarefas cotidianas pode ser uma alternativa prática e eficiente.
- Identifique trajetos curtos que podem ser feitos a pé ou de bicicleta.
- Adapte a rotina para incluir mais deslocamentos ativos, mesmo que em parte do percurso.
- Utilize equipamentos de segurança, como capacete e roupas adequadas, ao pedalar.
- Busque opções de transporte misto, combinando caminhada, bicicleta e transporte público.
- Consulte um profissional de saúde antes de iniciar atividades físicas, especialmente em caso de condições pré-existentes.
O transporte ativo representa uma estratégia acessível para promover a saúde cerebral e reduzir o risco de demência, especialmente em um cenário de envelhecimento populacional. Ao adotar hábitos simples, como caminhar ou pedalar, é possível contribuir para a preservação das funções cognitivas e melhorar a qualidade de vida a longo prazo. A integração de diferentes formas de movimento ao cotidiano, aliada a outros cuidados com a saúde, pode ser fundamental para manter o cérebro saudável ao longo dos anos.








