Imagina só: estamos em 1902, os aviões eram quase uma novidade, e um cara francês chamado Georges Méliès teve a ideia maluca de fazer um filme sobre uma viagem à Lua. Não era qualquer filme. Era uma aventura espacial completa, com aliens, naves e efeitos especiais que nunca ninguém tinha visto antes. “Le Voyage dans la Lune“ não foi só o primeiro filme de ficção científica da história, foi a prova de que o cinema podia ser muito mais que apenas filmar o dia a dia das pessoas.
Méliès não era um diretor comum. Ele era um mágico de verdade, dono do teatro Robert Houdin em Paris, onde fazia truques de ilusionismo. Quando viu a invenção dos irmãos Lumière, o cinematógrafo, ele entendeu na hora que aquilo era a ferramenta perfeita para criar mágicas ainda maiores. Enquanto outros cineastas filmavam trens chegando na estação, Méliès quis filmar uma nave batendo no olho da Lua. E conseguiu.
Como um ilusionista revolucionou a linguagem do cinema?
Méliès tratou o cinema como se fosse um grande palco de teatro. Ele montou cenários pintados à mão, criou figurinos fantásticos e desenvolveu técnicas que viraram a base dos efeitos especiais modernos. Para fazer objetos sumirem, ele parava a câmera, retirava o item e continuava filmando. Simples assim, mas na época aquilo era pura mágica.
O cara construiu o primeiro estúdio de cinema da Europa na sua propriedade em Montreuil, perto de Paris. Era uma casa de vidro que aproveitava a luz natural do sol. Ali ele criou mais de 500 filmes ao longo da carreira. “Viagem à Lua” levou três meses para ficar pronto, uma eternidade para os padrões da época, e custou 30 mil francos, uma fortuna. Mas o resultado foi um filme de 14 minutos que mudou para sempre o que as pessoas esperavam do cinema.
Por que essa obra ainda impressiona mais de 120 anos depois?
A história é simples e genial ao mesmo tempo. Um grupo de cientistas com longas barbas (que mais pareciam magos) constrói uma nave e é lançado à Lua por um canhão gigante. Lá eles encontram os Selenitas, criaturas que vivem no satélite, lutam contra eles e conseguem voltar para a Terra. A cena da nave cravada no olho da Lua virou um dos símbolos mais reconhecidos do cinema mundial.
Méliès não estava tentando fazer ciência de verdade. Ele estava contando uma história divertida, quase uma comédia, onde zombava um pouco dos cientistas da época. Os Selenitas viravam fumaça quando tocados com um guarda-chuva. A Lua tinha rosto humano. Era fantasia pura, mas feita com tanto capricho e criatividade que encantou o mundo inteiro. Diretores como Martin Scorsese e Tom Hanks já homenagearam essa obra em seus próprios filmes.
O que aconteceu com o criador dessa obra-prima?
Infelizmente, a história de Méliès não teve um final feliz como seus filmes. Thomas Edison, o famoso inventor americano, fez cópias ilegais de “Viagem à Lua” e distribuiu pelos Estados Unidos sem pagar nada para Méliès. Edison faturou uma fortuna, enquanto o criador original não viu um centavo do sucesso americano.
Méliès acabou falindo em 1912 e teve que abandonar o cinema. Durante anos, ele vendeu doces e brinquedos numa estação de trem em Paris para sobreviver. Foi redescoberto apenas em 1926, quando um editor de revista de cinema o encontrou no seu pequeno quiosque. Em 1931, finalmente recebeu o reconhecimento que merecia: a Legião de Honra da França. Charlie Chaplin o chamava de “alquimista da luz” e D.W. Griffith disse “devo tudo a ele”. Hoje, “Viagem à Lua” está disponível gratuitamente na internet e continua inspirando novos cineastas a sonhar grande e usar a criatividade para criar o impossível.










