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postado em 05/08/2020 18:00
A missão do voluntário é fazer as fotos para o plantel da Fundação e cobrir demais ações do Zoo. O catálogo de espécies é atualizando sempre que chega um novo animal ao local, mas nunca antes a repercussão das fotos foi tão grande. O interesse da população pode ser explicado por todo enredo de crime e mistério que envolve o surgimento das serpentes, além do fato de as cobras apresentarem altíssimo risco, já que não têm antiofídico no Brasil.
“Foi uma novidade muito grande e gratificante fazer essas fotos, são animais incríveis. A estrutura do animal é incrível e até a história de como eles chegaram ao Zoológico. E, realmente, se você pegar numa escala do próprio plantel do Zoológico é um dos animais mais perigosos, a naja, a víbora-verde-de-voguel então foi emocionante registrar esse animal tão perto”, disse Ivan Mattos.
O fotógrafo conversou com exclusividade com o Correio, detalhou como foi o trabalho com as serpentes e revelou técnicas para o clique perfeito com os animais. Sobre a repercussão do trabalho, Ivan Mattos destaca que o ponto positivo é que muitas pessoas passaram a prestar atenção em assuntos que antes passavam desaparecidos. “O que é mais legal é que essa comunicação não verbal que é a fotografia realmente acabou chegando a muitas pessoas. E pessoas que nunca tinham falado sobre cobra, nunca tinham falado sobre animal silvestre ou qualquer coisa relacionada, de repente tava ali comentando, fazendo meme, compartilhando.”
Naja de monóculos
O trabalho de Ivan de maior repercussão até agora foi o registro da naja de monóculos para o plantel da Fundação Zoológico de Brasília. Assim que foram publicadas, as fotos da serpente viralizaram. Foram transformadas em figurinhas, memes e avatares de perfis de humor.
O fotógrafo destaca que em todos os trabalhos há um protocolo de segurança e os voluntários do Zoológico são treinados antes de executar qualquer tarefa, mas, no dia das fotos com a naja, as medidas foram ainda mais rígidas. “Eu não tive acesso algum a nenhuma parte interna, nenhuma visão privilegiada. Eu cheguei ao Zoológico e fui informado pela assessoria de comunicação de que eu ia ter que fazer aquela foto como se fosse um visitante”, disse Ivan. O desafio foi imposto devido ao risco e à importância que o animal ganhou.
O fotógrafo conta que, no dia das fotos, a naja se mostrava agitada, pois tinha acabado de chegar ao recinto onde vive até hoje e estava explorando o ambiente. Ele ficou em frente ao vidro, tentando buscar o melhor ângulo por horas, até que o animal se mostrasse mais à vontade. “Eu imagino que era uma novidade absurda pra ela. Se é pra gente, imagina pro animal."
"Eu utilizei um equipamento, uma câmera full frame, com sensor full frame, que é o antigo filme 35mm, e ela capta mais informações. É uma lente com mais nitidez, um pouco maior. Usei uma lente que eu consigo aproximar bastante, macro. Foi mais ou menos 1 hora e meia, duas horas, pra gente conseguir fazer um foco legal, e também pra conseguir fazer o animal se acostumar com nossa presença porque. A gente ficou em frente ao vidro e isso assusta no início, mas, mantendo a calma e a paciência, sempre priorizando o bem estar do animal”, explica.
Víbora-verde-de-voguel foi fotografada a distância
Depois da naja, o desafio de Ivan Mattos foi fotografar a víbora-verde-de-voguel. O animal exótico foi entregue ao Ibama e, assim como a naja, não tem antiofídico no Brasil. Por causa da diferença de porte entre as duas serpentes, a técnica para fazer a foto teve que ser outra.
A víbora tem cerca de 40 centímetros e pesa apenas 38 gramas, enquanto a naja tem cerca de 1,60 metro. Por isso, a víbora-verde-de-voguel continua vivendo dentro de uma caixa. O registro da serpente para o plantel do Zoológico foi feito num curto intervalo de tempo, durante a limpeza da caixa onde ela vive.
“A víbora é muito pequena então a gente aguardou o procedimento de limpeza do recinto para não ficar estressando o animal. A fotografia é apenas a consequência de um trabalho, a gente costuma falar isso no Zoológico. Então, quando tirou a víbora do recinto menor e colocou no maior eu falei: não vai dar pra fazer a foto em detalhe porque ela é muito pequena e obviamente não dá se aproximar nem um pouco”, detalha Ivan. A solução para o problema veio com a ajuda da tecnologia.
A câmera de Ivan tem um dispositivo que permite que a foto seja feita a distância, com o auxílio do smartphone. A equipe então observou o animal e o retirou do recinto, colocando a câmera na posição propícia para capturar a imagem da serpente.
“A gente focou mais ou menos onde ela estava anteriormente, colocamos uma pedra para marcar o lugar. Aí, pelo smartphone, eu fiquei visualizando o que a câmera estava focando. Quando o Carlos Eduardo, diretor de Répteis, colocou o víbora, eu toquei na tela e o foco foi realizado. E, por ser uma cobra que, diferentemente da naja, não se movimenta muito, foi mais fácil de focar. Todas aquelas fotos da víbora foram feitas a uma distância realmente muito grande. A câmera que estava perto."
Para além das cobras mais perigosas do país
Ivan Mattos é fotógrafo profissional desde 2017 e foi por causa de um curso na área que se aproximou do Zoológico. Ele narra que tinha uma visão negativa da missão dos zoológicos, com foco na atração, Assim, usou a necessidade de elaborar um projeto para conclusão de um curso para se aproximar da Fundação Zoológico de Brasília e conhecer o trabalho realizado no local, verdadeiramente.
“Eu criei um projeto chamado texturas, que era pra aproximar o animal do espectador", afirma. "Foi quando eu conheci o Igor Morais, biólogo do Zoológico de Brasília, e ele me deu uma aula fantástica sobre como o zoológico moderno atua, como os profissionais atuam, o objetivo e os pilares desse tipo de zoológico, que é a educação ambiental, conservação", completa.
Meses após o projeto, a Fundação Zoológico abriu uma convocação de trabalho voluntário e Ivan foi selecionado. Há pouco mais de um ano ele fotografa, sem remuneração, os animais para o plantel.
Ao lembrar das fotos feitas com grandes animais, como elefantes, girafas e hipopótamos, o profissional destaca que continua se incrédulo com as experiências que viveu. “Eu nunca imaginei ver um animal desse tão de perto, fotografar. E o trabalho da equipe de condicionamento é impressionante. Você vê o elefante enorme erguendo a pata pra ser examinado. Uma girafa que se abaixa pra comer na mão. Além do trabalho ser lindíssimo, é um carinho absurdo”, admira-se.
Já entre os filhotes, Ivan menciona as fotos feitas com os cinco filhotes de lobinhos-guará, que chegaram ao Zoológico no começo do ano e, seguindo o plano de conservação do zoo, serão devolvidos à natureza, além do chá de bebê do bugiu Tutu. O desafio imposto pela equipe de comunicação da Fundação era fotografar o momento exato em que a mãe do Tutu abriria uma caixa para sair um balão. “Dentro da caixa tinha um alimento que era pra ela puxar o alimento e vir o balão, mas ela fazia um movimento que ela puxava só comida e o balão ficava. Foi muito tempo nisso, já tava com o ombro doendo, mas aí depois deu certo. Todo mundo bateu palma, aquela coisa, aquela alegria, e era o Tutu que tinha chegado.”
Artur (ou Tutu, para os íntimos) é um bugio-ruivo-de-Purus que nasceu no Zoológico de Brasília em 22 de maio de 2019. Seus pais, Chokito e Riquinha, foram resgatados pelo Ibama no Acre. Sua espécie sofre devido à destruição das florestas na Amazônia e ninguém sabe ao certo quantos ainda sobrevivem na natureza.
Tigresa Maya
Maya era uma tigresa-de-Bengala branca que veio do ZooParc de Beauval, na França, para Brasília em 2011. Sua vinda para o Distrito Federal representou a mentalidade de outra época, quando o Zoológico preocupava-se apenas em exibir animais exóticos. O tigre-branco é uma variedade altamente consanguínea que foi criada no cativeiro na metade do século 20.
Ela foi o primeiro animal a ser fotografada por Ivan, ainda no projeto de conclusão de curso. Para ele, foi uma das fotografias mais marcantes e emocionantes.
“É um animal bem raro, que na natureza é bem difícil de se ver. Foi um animal que me tocou muito, era uma conexão incrível que a gente fazia. Ela me olhava diretamente pela câmera. Eu ficava assim, que não sei nem explicar, tenho nem palavras pra falar. Porque pela lente você vê bem de perto, como em um retrato. E o olhar dela impressionava, como se fosse uma troca sem palavra alguma. É uma conexão que você cria com o animal, e foi isso que motivou a realizar esse trabalho.”
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