Caso naja

Servidora diz ser perseguida

Afastada do Ibama por suspeita de envolvimento em um esquema de tráfico internacional de animais exóticos e silvestres, Adriana Mascarenhas afirma que pessoas do instituto querem prejudicá-la

Darcianne Diogo
postado em 07/08/2020 22:23
 (crédito: Reprodução/Redes Sociais)
(crédito: Reprodução/Redes Sociais)

Afastada há mais de 15 dias do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por suspeita de envolvimento em um esquema internacional de tráfico de animais exóticos e silvestres, a servidora Adriana Mascarenhas afirmou, em entrevista ao Correio, que há pessoas dentro do órgão que estão a “usando, perseguindo e assediando”.

A funcionária, que atuava como coordenadora do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (Cetas), é investigada por conceder, ilegalmente, licenças de animais que não pertencem à fauna brasileira para “conhecidos”, inclusive para Gabriel Ribeiro de Moura, de 24 anos, amigo de Pedro Henrique dos Santos Krambeck Lehmukl, 22, picado por uma naja kaouthia em 7 de julho.

Com a autorização expedida pela servidora, Gabriel recebeu uma jiboia-arco-íris, nativa do Brasil. Porém, ele não tinha autorização para criá-la. O jovem chegou a ficar preso na Divisão de Controle e Custódia de Presos (DCCP) por ocultar provas e atrapalhar as diligências, mas teve a prisão revogada e foi liberado. Ao Correio, Adriana se diz inocente e acredita que alguns funcionários de dentro do Ibama querem prejudicá-la. “Isso fica notório. Estão tentando me tornar irregular e todos que estiveram à frente, fizeram. A única coisa que posso dizer é que tem pessoas lá dentro que estão me perseguindo, assediando e me usando”, finalizou.

Segundo o advogado da servidora, Rodrigo Videres, antes de serem concedidas, as licenças passam pelas mãos de mais funcionários, o que pode levantar a hipótese de que outras pessoas tenham expedido autorizações de maneira ilegal. “Não é só uma pessoa que libera essas certidões. Provavelmente, outros servidores emitem esses documentos”, enfatizou.

Ele disse, ainda, que os animais considerados ilegais sequer passaram pelo Cetas e questiona a atitude do órgão. “O juiz determinou que ela (Adriana) entregasse o crachá e o token ao órgão. No entanto, um servidor do Ibama chegou na casa dela, recolheu esse material e ela não tem ciência de onde estão os itens”, questionou. A reportagem entrou em contato com o Ibama para esclarecimentos, mas, até o fechamento desta edição, o órgão não havia respondido.

Licenças

Adriana da Silva autorizou, também, a entrega de outras quatro cobras de espécie corn snake, dos Estados Unidos. As licenças foram emitidas em 13 de fevereiro de 2018 e em 19 de fevereiro de 2019, respectivamente. Ficou comprovado que a prática ilegal cometida pela servidora havia beneficiado pessoas próximas, como a manicure dela, que recebeu um mico-estrela, e a amiga do namorado de Adriana, que conseguiu a autorização para a criação de dois papagaios.

Em declaração ao órgão, a manicure alegou que ela e Adriana são amigas e que o animal foi entregue como uma forma de ajudá-la no enfrentamento a uma depressão. No caso da outra mulher, a justificativa era a vontade de ter papagaios.

O modelo de licença do Cetas segue as recomendações das Divisões Técnico-ambientais (Ditec). É comum, por exemplo, expedições de licenças para o transporte de animais silvestres que necessitam de atendimento veterinário externo, deslocamento entre unidades do Ibama e para a destinação, seja até a soltura no ambiente natural ou para um cativeiro legalmente admitido.

Entre os locais aptos a receberem esses animais estão o Zoológico de Brasília e hospitais veterinários. Fora isso, é vedada a autorização de licença para outros meios. No caso da servidora, o Ibama considerou que, além de violar gravemente a legislação de regência, ela demonstra a intenção em conceder o documento infringindo a norma legal, uma vez que, à época dos fatos, era responsável pelo Cetas, possuindo larga experiência da função.

Além dela, um outro servidor também está afastado do Cetas. Ele é acusado de conceder licenças irregulares para o transporte de animais. Dois militares do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) também estão afastados das atividades externas por suspeita de “protegerem o alvo” das investigações.


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