Chef investe em um bufê a quilo e um café do cerrado na 116 Sul

Mesmo em meio à pandemia, o empreendedorismo da chef Keli Cristina Mayer continua, dessa vez com um bufê a quilo e um café do cerrado na 116 Sul

Liana Sabo
postado em 14/08/2020 06:00 / atualizado em 14/08/2020 10:05
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

Desde quando abriu o self-service, em 2009, a intenção da chef e nutricionista Keli Cristina Mayer Wojtunik sempre foi muito clara: ter sucesso no fornecimento de comida brasileira por quilo. O comércio com apenas quatro mesas, um fogão de duas bocas e panelas de segunda mão, ainda está localizado numa lojinha do Bloco C, na Quadra 104 do Sudoeste. Ela sabia perfeitamente que, com uma filha pequena, de colo, teria muita dificuldade de retornar ao mercado de trabalho.

Treze anos depois, é possível perceber nas mesas (eram 60 antes da pandemia) espalhadas pela área de frente à meia dúzia de lojas ocupadas por ela, que a meta foi alcançada com sucesso. Não sem muito sacrifício, relembra Keli, uma paranaense alegre e bem-humorada, que conta com muita graça a trajetória de empreendedora. “Tive ajuda de algumas pessoas que foram importantes na minha carreira, como uma amiga que se tornou ajudante no fogão e um cozinheiro, em cuja mão esquerda faltavam dois dedos.”

A empresária e tecnóloga em gastronomia, formada pelo Iesb, também é muito agradecida ao vizinho do Mayer Self Service, Claudio Tavares Santos, dono da loja Portal do Sol, uma funerária, onde a filha Karolina Mayer, hoje com 13 anos, aprendeu a andar em meio aos caixões de madeira. “Como eu era muito ocupada, os vizinhos tomavam conta da minha filha, que espalhava os brinquedos pela funerária”, recorda a mãe com humor.

Jardim de orquídeas


É com esse cacife de luta e persistência que Keli decidiu, há mais de um ano estender seus domínios para a Asa Sul. Alugou na 116, primeiro a loja da ponta do Bloco B, onde funcionava uma farmácia, e deu início à obra, acompanhada pelo marido Celso Zuza que, no passado, foi contra o fato de a mulher vender o carro para abrir no Sudoeste o restô de frente para a quadra residencial, onde mora a família, que ainda tem uma caçula Karla, de 8 anos. Diante do evidente sucesso — 400 refeições vendidas por dia antes da pandemia —, ele decidiu apoiar a empresária.

Ao presenciar os fundos do prédio, o casal ficou surpreso com o lixo amontoado. “Foram removidos 15 caminhões de entulho antes de mandar aterrar para dar lugar ao jardim”, conta Celso que, durante a remoção, ouviu aplausos dos vizinhos. “Os moradores da quadra desciam dos blocos e vinham dar força ao trabalho de limpeza”, lembra. Apaixonado por orquídeas, o potiguar Celso, nascido em Natal e que pertence aos quadros da Polícia Federal, tem na planta o seu hobby. Mais de 100 espécies podem ser vistas grudadas nas árvores do jardim. Inclusive já conseguiu a rara orquídea negra.

Quase ao mesmo tempo, Keli descobriu outra loja, de roupas prontas, em vias de desocupar no Bloco A. Fechou o negócio, imaginando compor um conglomerado: restaurante em uma das lojas e café, em outra, tendo no meio, além da passagem de pedestres, “o salão com a clientela sentada confortavelmente apreciando as flores e degustando nosso menu”. Daí, surgiu o Café das Orquídeas, que oferecerá a bebida produzida no cerrado, doces, bolos e pães artesanais com fermentação natural.

Sabores brasileiros


O projeto saiu da prancheta da arquiteta Simone Turíbio Brígido, da Choque Arquitetura & Design, responsável pela criação de outros ambientes gastrôs da cidade, como o Café Daniel Briand, a rede Taikan e o pastifício Ravioli & Cia. Inspirada na proposta da casa, que mistura cores e sabores do Brasil, Simone fugiu completamente da ideia de um bandejão e criou para o restaurante de comida por quilo “uma estética capaz de conectar as diversas regiões do país”. Grandes janelões, revestimento em madeira dourada louro freijó, considerada a nogueira brasileira, e luminárias de design exclusivo resultaram na sensação de conforto e aconchego completada pelo mobiliário de mesas e cadeiras assinado pela Breton.

Com o mesmo cardápio do Sudoeste e mais as carnes nobres grelhadas na brasa do renomado chef Marcello Piucco, o restô Mayer Sabores do Brasil não deixa dúvidas: oferecerá uma comida simples e bem-feita com ingredientes de primeira qualidade. Todos os legumes e verduras são orgânicos, vêm do Sítio Samambaia e da Fazenda Malunga, a ave também é orgânica. “Não servimos espuma de jaca, mas comida de verdade”, ironiza Keli, que também é diplomada em gestão de negócios de alimentação.

Foi essa opção que tem garantido à grife os primeiros lugares no concurso O quilo é nosso, promovido nos últimos anos pela Abrasel, em parceria com a revista Prazeres da Mesa. Em 2017, o prato vencedor foi rabada com agrião orgânico e polenta cremosa, no ano seguinte, panqueca com farinha de berinjela recheada de palmito do cerrado, pesto de azeite de abacate e pepita de girassol. Ano passado, o Mayer Self-Service venceu com lombo de bacalhau, mel do cerrado e pimenta-de-macaco, triturada no pilão artesanalmente.

O cardápio da nova casa, cuja abertura está prevista para o final de setembro, ainda está sendo elaborado, mas, se seguir o planejamento da matriz, servirá rabada, segunda-feira; frutos-do-mar, terça; delícias árabes, quarta; comida mineira, quinta; feijoada, sexta e sábado, além de bacalhau à portuguesa, também no sábado, e parmigiana de filé-mignon, domingo. Todos os dias, há dois pratos de carne e peixe — pescada amarela no ceviche é uma delícia!

Entre as benfeitorias locais, Keli instalou uma coleta seletiva de óleo de cozinha usado, que é todo doado para reaproveitamento, e assim não entope o ralo de esgoto. Ela gosta de contar que os outros locatários do prédio se surpreenderam quando expandiu a grife para seis lojas, considerando-a “uma mulher de sorte”, ao que ela própria rebate: “Sorte não, foi com muita canseira e trabalho”. Veja no instagram: @mayersaboresdobrasil e @cafedasorquideas.

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