Morreu, por volta das 9h desta sexta-feira (14/8), Alexandre Ferreira Abade, homem que inspirou familiares, amigos, alunos e os leitores do Correio Braziliense com seu exemplo de superação. Alexandre nasceu com uma doença rara, a osteogênese imperfeita, ou doença de Lobstein, cuja principal característica é ter ossos que quebram muito facilmente. Apesar das limitações e da previsão dos médicos de que não chegaria à vida adulta, ele viveu até os 41 anos.
Na sua página no Facebook, Alexandre definia a própria trajetória como “uma história de superação diária, de vida, de amor, de perseverança, de determinação e de fé”. Nos primeiros 17 anos de vida, quando a doença é mais grave, Alexandre sofria várias fraturas. Estava sempre usando gesso, principalmente nas pernas, e fazendo tratamentos no Hospital Sarah do Aparelho Locomotor.
Ele começou a estudar em 1996, quando a condição da doença melhorou, e terminou a faculdade em 2009, concluindo o curso superior de gestão em marketing e microempresas. Foi no ano de conclusão do curso que o jornalista Marcelo Abreu trouxe a história de Alexandre às páginas do Correio. “Ouvi toda a história de Alexandre Abade, um rapaz de inteligência rara. Raríssima. Escrevi a reportagem”, lembrou o jornalista, que se tornou amigo de Alexandre, em relato nas redes sociais.
“Devoto de Nossa Senhora e com uma fé inquebrantável, era um dos mais ativos da igreja que frequentava em Sobradinho. Eu ouvia as suas histórias e dizia: ‘Alexandre, reza por mim’. Ele me respondia: ‘Meu amigo, você está em todas as minhas orações’. Eu me sentia mais forte. Nos falamos pela última vez na Páscoa”, contou Marcelo Abreu.
Depois da primeira reportagem publicada em 2009, um grupo de moradores do Plano Piloto, sensibilizados com a trajetória do ‘menino dos ossos de vidro’, fizeram uma vaquinha para comprar uma cadeira adaptada para Alexandre, no valor de R$ 8 mil. “Os ossos de Alexandre até podem ser de vidro, mas a sua determinação é de ferro. Ele, com apenas 1,20 cm, tornou-se gigante na arte de transformar a própria vida e se superar. Eu o chamava de Alexandre, o grande”, conclui Marcelo.
A professora Glória de Lourdes, 43 anos, irmã de Alexandre, afirma que a doença nunca o impediu. Ao longo da vida, Alexandre viajou com o grupo de teatro, foi palestrante, participava da igreja, escreveu dois livros e era professor. “A trajetória dele é linda e abençoada, a expectativa de vida do Alexandre quando nasceu era de 17 anos, mas foi justamente com 17 anos que ele nasceu para o mundo através da escola. Ele começou tarde nos estudos mas isso não foi um empecilho”.
“Ninguém saía de perto dele sem se sentir melhor, mais fortalecido. Há umas semanas, uns parentes distantes, que moram no Piauí, sofreram um acidente, o Alexandre deu tanta força para esses primos, a família toda foi reerguida por causa dele. As palavras que ele falava, a confiança que ele transmitia. E não era só de falar, era de ver, era na prática”, lembrou Glória.
Alexandre estava internado no Hospital Santa Helena e morreu com pneumonia e falência dos rins. O velório dele será amanhã (15/8), das 8h30 às 10h, e o sepultamento, às 10h30.
* Estagiário sob supervisão de Mariana Niederauer
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