Cara leitora, caro leitor solteiro. Talvez você não saiba, mas hoje é seu dia. Sim, existe o Dia do Solteiro. E ele é celebrado em 15 de agosto. Sei disso porque estava sem ideias para esta crônica e decidi fazer o que sempre faço quando o prazo para entregar o texto está muito próximo e eu ainda nem sei sobre o que falar: digito o dia do mês na Wikipedia e rezo para que a data represente algo que me inspire.Vendo a cara de impaciência e desespero do Adson, o gentil editor desta página, notei que tinha de cumprir logo minha tarefa. Entrei na enciclopédia virtual e fui à caça do meu tema. Em 15 de agosto, aconteceu o fim do cerco a Constantinopla, a consagração da Capela Sistina, a inauguração do Canal do Panamá... Sem graça, sem graça, sem graça. Continuei. Aniversário da Jennifer Lawrence e do nosso vice-presidente, Hamilton Mourão. Hum... Leoninos que nem eu. Pensei em fazer uma crônica sobre leoninos, exaltando nossas inúmeras qualidades e personalidade marcante, mas achei que isso seria muito leonino de minha parte. Talvez tenha sido o ascendente em câncer a me demover da ideia.
Aí entrei da seção de datas comemorativas. Dia do Fotógrafo, Dia da Informática, Dia da Gestante, Dia do Solteiro. Ao ler essas últimas três palavrinhas, senti algo que acendeu a lâmpada da criatividade sobre minha cabeça. Parei para refletir, buscando identificar que emoção era aquela. Tristeza, talvez... Não. Era pena mesmo. “Coitados dos solteiros”, cheguei a murmurar baixinho sob minha máscara de pano. A pandemia virou tudo de cabeça para baixo, a gente já sabe. Mas, no caso dos solteiros, não é que essa doença tenha mudado as coisas. Ela simplesmente demoliu tudo que há de bom em ser solteiro. Ou quase tudo, é verdade. Só que sobraram pouquíssimas vantagens. Não precisar fechar a porta do banheiro, espirrar sem freios no meio da sala, adiar a hora de lavar a louça ou até a de tomar banho. Essas continuam. Mas só. Chegar ao cinema em cima da hora e ainda achar um lugar bom, perdido ali no meio da fila? Acabou. Sair com outro amigo solteiro para paquerar? Acabou. Não se preocupar com a hora de voltar para a casa se a farra ficar boa? Acabou. Abraçar todo mundo sem deixar a cara metade enciumada? Acabou. Na verdade, acabou qualquer abraço... E é por isso que dá pena dos solteiros.
Conversando com amigos solteiros nestes dias, tenho percebido claros sinais de solidão extrema. Uma amiga ficou toda afoita para desligar o Skype quando percebeu que o entregador do iFood estava quase chegando. Ela ainda não tinha terminado de pentear o cabelo e colar os cílios postiços. “Quero realçar os olhos”, justificou, enquanto escolhia uma máscara da mesma cor da sombra que tinha passado. Já um outro amigo passou horas elogiando como a seleção de piadas da Alexa é fenomenal. Para provar o que me dizia, fez uma demonstração. “Alexa, conta uma piada”, disse, na entonação típica de quem está muito acostumado a dizer aquela frase. E caiu na gargalhada com uma piada que ele certamente tinha ouvido pela primeira vez na 3ª série. E teve ainda o que mandou um emoji de carinha chorando quando encerrei uma troca de mensagens pelo WhatsApp com um simples “abração”.
Não está fácil para os solteiros conscientes do risco que essa pandemia representa. E por isso queria homenageá-los neste dia. Vocês são heróis. E digo isso sem ironia. A solidão, a falta de contato e de carinho, é, sem dúvida, uma das maiores punições que podemos impor ao ser humano. E pelo bem de todos, vocês estão enfrentando essa barra. Muito obrigado.
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