Covid-19

Pandemia mostra importância do sistema público de saúde, diz especialista

Em entrevista ao Correio, a infectologista Joana D'arc Gonçalves avalia o momento atual da pandemia de covid-19 no Distrito Federal

Tainá Seixas
postado em 16/08/2020 06:00
 (crédito: Divulgação/Governo Federal)
(crédito: Divulgação/Governo Federal)

Em entrevista ao Correio, a infectologista Joana D'arc Gonçalves avalia o momento atual da pandemia de covid-19 no Distrito Federal e afirma que, caso as medidas de contenção não sejam cumpridas, o número de casos - agora estáveis - pode voltar a aumentar. Reforça ainda que a crise sanitária mostrou a importância do sistema público de saúde. No Brasil, cerca de 80% da população não conta com convênio e a atuação do Sistema Único de Saúde (SUS) nesse cenário comprova a essencialidade desse serviço.

O governo alega que a pandemia tende a diminuir daqui para a frente. Qual a sua projeção para as próximas semanas?
A gente reabriu vários serviços no pico. Em outros locais, a reabertura de serviços foi no momento de queda. A gente não esperou a queda para a reabertura, então, estamos contribuindo para a manutenção do platô. E logo vem a reabertura de escolas e, com isso, a gente vai ter um aumento significativo do número de casos. Da forma que estamos caminhando, não vejo que a gente vá reduzir. Com a reabertura, o que acredito, na verdade, é a tendência de aumentar.

O que é a imunidade de rebanho e como funciona?
A imunidade de rebanho é quando há um grupo de pessoas que já estão imunes, geralmente mais de 60% da população. Quanto mais pessoas estiverem imunes a uma doença, você protege o coletivo. Ou seja, se eu estou imunizada, eu vou ter contato com o vírus, mas eu não vou pegar nem transmitir, então a doença vai parar em mim. Só que para você ter a imunidade de rebanho, com relação à covid, temos que ter um número alto de infectados. Para isso, nós vamos ter que ter um alto número de pessoas graves, sobrecarregando o sistema (de saúde), e com possibilidade de óbito. O ideal é que as pessoas até tenham contato com o vírus, mas que seja paulatino, gradual, não seja de forma intensa. A gente está vivendo de forma muito intensa a infecção. Isso traz consequências muito desagradáveis.

Estamos nesse estágio ou próximo dele?
Para chegar nesse estágio, tem que ter muita gente que já passou pela infecção. Não sabemos, porque é preciso saber quantas pessoas foram infectadas e não testamos em massa. Tiveram países que pensaram em chegar rapidamente à imunidade de rebanho, mas o preço com o número de óbitos seria tão alto que eles retrocederam e fizeram o bloqueio, com isolamento e diminuição do número de infectados, porque você pode correr o risco de muita gente grave, sem estrutura para atender. E aqui a gente não tem como saber, porque nossos dados têm o viés da falta de exame laboratorial adequado. O ideal é o RT-PCR - com amostra colhida por via nasal -, só mediante sorologia - exame de sangue - há muito falso positivo e muito falso negativo. É muito complicado ainda saber o percentual da população que já foi infectado.

Vida normal no DF novamente só após a vacina?
Existem muitas formas de surgimento de vírus e bactérias multirresistente que podem desencadear surtos de pandemias. O que aconteceu nesse ano a gente já viveu em outras décadas com outros vírus e bactérias. Eu acredito que algumas coisas, a gente vai ter que manter para a vida por proteção futura de outras doenças. Acho que todo mundo que tiver com uma gripe, coriza, futuramente, vai usar máscara. Acho que distanciamento social é algo que a gente devia implementar. Agora, com a vacina, com certeza, a gente vai retornar a um ambiente mais tranquilo, mais calmo. O que a gente mais quer é voltar a uma certa normalidade. Porque todo mundo quer sentar, respirar no parque, parar com o uso da máscara. Mas a normalidade do passado, acho que será um pouco complexo.

Qual será o legado da pandemia?
Apesar das coisas ruins associadas à pandemia, esse tem sido um momento de grande aprendizado para a gente e valorização também do nosso sistema público de saúde. Oitenta por cento da população não tem plano de saúde, precisamos de uma estrutura de saúde forte para atender essas pessoas. Espero que isso sirva para revermos os paradigmas em relação à assistência. Valorizar nosso sistema público de saúde para melhor servir à população.

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