Pandemia

Pirenópolis reabre para turistas sem barreira sanitária contra a covid-19

Prefeitura desistiu de fiscalizar destinos por questões financeiras. Barreira sanitária prevista em decreto para evitar contaminações pela covid-19 não foi feita

Jaqueline Fonseca
postado em 16/08/2020 21:39 / atualizado em 16/08/2020 21:39
 (crédito: Marcos Vinícius Ribeiro dos Santos)
(crédito: Marcos Vinícius Ribeiro dos Santos)

Depois de cinco meses fechada para turistas como medida de contenção ao avanço do novo coronavírus, o primeiro fim de semana de Pirenópolis aberta para visitantes não teve barreira sanitária. O município fica a 150km de Brasília e é um famoso atrativo turístico da região. A reabertura do município para quem é de fora dividiu opiniões, alguns moradores ficaram descontentes com a postura adotada pela prefeitura. Outros, acharam positivo a volta dos turistas para a retomada da economia da cidade.

Ronaldo Félix, 34 anos, servidor público e morador da cidade reclamou. “Estava um tumulto grande. Não tinha barreira. O povo andando sem máscara na rua. Bares lotados. Na rua do lazer não abriram todos os bares, mas em frente aos do início da rua tinha aglomeração.”

O presidente da Associação dos Comerciantes e Moradores da Rua do Lazer de Pirenópolis (ACMRL), Jairo Mendonça, informou que de 17 estabelecimentos da rua, apenas seis bares e restaurantes abriram neste fim de semana. Segundo ele, muitos empresários temem fazer investimentos para se adequar às novas regras sanitárias e, depois, um novo decreto volte a fechar o turismo na cidade.

Na visão do presidente, que é proprietário de um dos restaurantes que abriu, o retorno dos turistas à cidade foi bom. “Vimos como positiva a abertura para o turista. Tendo em vista que 90% dos turistas que nos visitaram estavam também preocupados com a prevenção, tomando as devidas precauções com uso de máscaras e seguindo os protocolos. Os restaurantes da rua do lazer também estavam seguindo os protocolos das normas técnicas estabelecidas pela prefeitura. Na rua do lazer, temos uma responsabilidade maior tendo em vista que somos uma rua típica de comércio, cartão-postal da cidade.”

O presidente da ACMRL destacou que a prefeitura realizou fiscalizações durante todo o fim de semana orientando os visitantes e notificando os empresários que descumpriram alguma das medidas estabelecidas no decreto de retomada.

Embora também dependa dos turistas, Marcos Vinícius Ribeiro dos Santos, 27 anos, funcionário do setor de hotelaria, achou a abertura incoerente. O estudante de arquitetura e urbanismo, nascido em Pirenópolis, achou a abertura incoerente. “Cinco meses e volta pior em todos os sentidos.”

Ele, o pai e o irmão trabalham em hotéis diferentes na cidade. No sábado, Marcos Vinicius esteve no Rio das Almas, espaço aberto para banho localizado no centro da cidade, e flagrou pessoas sem máscara. Para ele, o retorno dos turistas que não se hospedam nem compram na cidade não ajuda a recuperação da economia local.

“O público que se hospeda nas pousadas, tiro como exemplo a que trabalho, usa máscaras, vieram em família para realmente aproveitar. Mas o povão de modo geral, os que não se hospedam, trazem de tudo, tudo mesmo e não consomem nada na cidade, além de deixarem somente lixo, não trazem benefício algum", reclama. 

O decreto de abertura assinado pelo prefeito João Leo (DEM) previa que apenas turistas com voucher de hospedagem ou ingresso para atração turística poderiam entrar. Mas não houve barreira sanitária ou fiscalização de destino. Em nota nas redes sociais, a prefeitura disse que "as barreiras foram desativadas, e toda a equipe que estava trabalhando nas barreiras foi remanejada para a fiscalização sanitária". "Hoje, nós contamos com 3 equipes de manhã, 3 à tarde e 2 à noite, e estamos fiscalizando aleatoriamente os estabelecimentos."

Segundo explicou a assessoria de comunicação da prefeitur,  a barreira sanitária seria feita com a fiscalização de destinos dos turistas, mas a proposta se mostrou inviável por questões financeiras. Afirmou ainda que a barreira se mostrou desnecessária na entrada da cidade, já que todos os estabelecimentos realizam os procedimentos de aferição de temperatura.

Nas atrações turísticas, como cachoeiras e parques, o decreto prevê a necessidade de uso de máscara todo tempo, inclusive nas trilhas, já que pode haver o contato com outros visitantes. Apenas durante o mergulho é autorizada a retirada do equipamento. Estabelecimentos particulares como pousadas e parques ecológicos sinalizaram a necessidade de uso de máscara e distanciamento social, mas na prática não há como fiscalizar se todos estão de máscara em todas as áreas e, no fim das contas, vale o bom senso.

Thalita Braga, 32, mora em Goiânia. Os pais dela vivem em uma fazenda em Pirenópolis e há anos a jornalista modera uma página de sucesso que incentiva a visitação à cidade. Mesmo sendo apaixonada pela vocação turística do município, vê com preocupação a reabertura da cidade da forma como foi feita. Para ela a prefeitura deveria ter adotado métodos mais rígidos de controle.

“A prefeitura criou um falso fechamento para cidade, no qual os turistas ficaram impedidos de entrar, mas os moradores continuaram circulando para cidades vizinhas, e recebendo o turismo informal nas casas de temporada. Agora que os casos estão aumentando a cada dia, a prefeitura permitiu a reabertura com uma série de exigências estabelecidas em um protocolo sanitário que ela mesma não cumpriu, o turismo informal, sem qualquer controle tomou conta da cidade", afirma.

"E na próxima semana, o aumento dos casos de covid-19 vai para conta de quem? Precisamos nos adaptar a esse novo modelo de convivência em tempos de pandemia, mas essa é uma responsabilidade que precisa ser dividida entre os empresários, setor público, turistas e moradores. Todos precisam cumprir o seu papel", finaliza.

A reportagem solicitou à prefeitura de Pirenópolis um balanço da fiscalização realizada na cidade neste fim de semana, mas não teve resposta até a última atualização desta matéria.

O último boletim da covid-19 no município foi divulgado pela prefeitura foi na sexta-feira (14/08) e contou 142 casos confirmados e quatro mortes. Cinco pessoas seguem internadas para tratar a doença em hospitais da cidade.

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    Rio das Almas, Pirenópolis Foto: Marcos Vinícius Ribeiro dos Santos
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    Rio das Almas, Pirenópolis Foto: Marcos Vinícius Ribeiro dos Santos

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