Após construir um importante legado no que diz respeito à educação trânsito e perder a luta para o câncer, o nome de Luis Miúra foi reverenciado por estudiosos e servidores que lamentaram a morte do ex-diretor do Detran nesta segunda-feira (17/8).
Em primeiro de abril de 1997, foi implantada a faixa de pedestre no DF com a campanha Paz no Trânsito. A ação do Detran-DF, Correio Braziliense e Polícia de Trânsito foi responsável por criar uma política inédita que, aos poucos, foi disseminada por todo o país: a travessia segura para os pedestres.
Antes da implantação houve muita resistência dentro do governo pois servidores e assessores acreditavam que a medida mataria mais pessoas no trânsito em decorrência da falta de preparação dos motoristas diante da nova postura. Diversas ações de conscientização foram feitas. O governador da época, Cristovam Buarque, hoje senador pelo Cidadania, narra que, por seis meses, palhaços e policiais ficaram nas faixas distribuindo flores e falando sobre o novo hábito necessário: respeitar o pedestre.
Segundo Buarque, Miúra fez muito mais que implantar faixas de pedestre. Além de conscientizar e educar, o ex-diretor do departamento de trânsito construiu uma marca que orgulha todo brasiliense. “Nós temos orgulho pelos momentos visíveis de Niemeyer e temos orgulho por um monumento invisível, imaterial que é o respeito à faixa de pedestre. Ele educou o DF com a política de trânsito que ele formulou. O respeito à faixa é a mais visível, mas não é a única. No DF se usa menos buzina. Se ultrapassa mais respeitosamente um carro, se cuida melhor do estacionamento. Ele foi o maior educador que tivemos no Distrito Federal. Ele educou o trânsito, educou todo mundo. Miúra fez o que a palavra educação quer dizer que é mudar a maneira das pessoas se comportarem. Mas tem uma coisa: O Miúra não teria conseguido implantar tudo isso sem o apoio do Correio Braziliense. O Correio foi fundamental nessa conquista”.
Luis Miúra esteve à frente do Detran entre 1995 e 1999. Nesse tempo, implantou radares de velocidade e faixas de pedestre em toda cidade, além de desenvolver uma base de dados sobre os acidentes e vítimas do trânsito no DF. Quando assumiu, 10% das mortes no Distrito Federal eram provocadas por acidentes de trânsito.
O diretor-geral do Detran-DF, Zélio Maia emitiu nota lamentando a morte de Miúra e destacando a importância do trabalho desenvolvido por ele. “Um dos grandes aprendizados que o Miura nos deixa é que o trânsito precisa ser mais humano. Ele pensava muito na vida das pessoas no trânsito e atuava no sentido de protegê-las. Miura sempre esteve à frente do seu tempo, visionário e corajoso, ele criou, participou e apoiou ações extremamente importantes para a história do trânsito do DF e de outros Estados. A ele, o nosso eterno muito obrigado”, disse Zélio.
O Instituto Movimento pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade também emitiu nota em homenagem a Miúra e a outros importantes nomes do movimento Paz no Trânsito que já partiram. “São muitas vidas salvas nesses 23 anos, pelo menos mais de 120 mil, pelo programa Paz no Trânsito e o povo de Brasília precisa render homenagem a esses líderes do Programa em particular hoje que nos deixou a Luís Miúra que comandou o DETRAN na ocasião.”
O professor David Duarte, doutor em Segurança de Trânsito e coordenador do Fórum pela Paz no Trânsito, lamentou a morte do amigo de longa data. Morando atualmente em Portugal para uma nova especialização, ele narra os desafios encarados por Miúra junto à gestão do Detran. “Quando ele assumiu, os servidores do Detran de greve, aí eu fui até o gabinete dele e a gente passou a tarde conversando sobre como resolver. Decidimos fazer uma passeata. Esse movimento começou a engrossar e foi a maior manifestação pública realizada até então no Distrito Federal desde o tempo das Diretas Já.”
David Duarte também destaca a integridade moral do amigo. “Honestidade a toda prova. Competente. Correto. Rígido nas suas atuações e muito simples.”
A mesma característica é citada pelo analista de trânsito e ex-diretor geral do Detran,
José Alves Bezerra. Ele discorre sobre como Miúra foi responsável e correto ao longo de sua gestão. “O Dr. Miura, como nós o chamávamos, era o típico asiático que amava tudo que fazia, renunciava a tudo pelo trabalho, dedicado e sem limites pra trabalhar. Eu o vi virar noites no Detran, era muito competente. Homem correto nas atitudes, honesto no trabalho era reconhecido no Brasil inteiro por conta da sua capacidade intelectual e sensibilidade para entender o trânsito.”
O agente de trânsito e fundador do sindicato dos agentes, Rômulo Augusto de Castro Félix, também relembra a parceria na luta pelo trânsito seguro e relata o avanço da atuação de Miúra para outras regiões do país. “Miúra era um colega de trabalho altamente capacitado, de trato fácil e uma boa relação com os colegas. Após sua saída da Direção do DT, atuou em vários estados no planejamento de trânsito. Leva consigo um grande conhecimento desse conturbado segmento que é mobilidade e conflito de pessoas e veículos.”
Também ex-diretor do Detran, o agente Silvaim Fonseca lamentou a morte e disse que conversava com Miúra para ouvi-lo por conta da larga experiência nas questões de trânsito. “Com certeza, a morte do Miúra é muito triste. A experiência dele sempre nos ajudou, conversávamos bastante. Teve a campanha Paz no Trânsito com a participação do Correio. É muito triste a morte dele, pra gente é uma perda lamentável.”
Luis Riogi Miúra tinha 71 anos e morava em Taguatinga. Era casado com Catharina Shisuka Fukushima e deixa três filhos. O corpo dele será cremado amanhã, em uma cerimônia privada em Valparaíso.
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