Esta coluna conseguiu uma nova entrevista mediúnica exclusiva com o padre Antonio Vieira, o autor de Os sermões. Fiat lux, mestre (tradução livre: dá uma luz, mestre).
Em quem o senhor buscou inspiração para compor os seus sermões?
No mais antigo pregador do mundo: o Céu. Aprendamos com ele o estilo da disposição, e também o das palavras.
O senhor é um homem ilustrado. O que vê de tão interessante nos livros?
O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. Existem muitas formas de amar.
Qual é a verdadeira?
Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amem, nem para que o ame, só esse é fino.
Em Brasília, é muito comum as pessoas buscarem a distinção pelo dinheiro, pelas roupas, pelas posses ou pelas relações. Como o senhor vê isso?
Há fidalguia que é quantidade: são fidalgos porque têm muito de seu; há fidalguia que é qualidade, porque muitos, não se pode negar, são muito qualificados; há fidalguia de relação: são fidalgos por certos respeitos; há fidalguia de ubis: são fidalgos porque ocupam grandes lugares; há fidalguia que é hábito: são fidalgos porque andam bem-vestidos.
E qual dessas é a verdadeira fidalguia?
Nenhuma. A verdadeira fidalguia é ação. As ações generosas, e não os pais ilustres, são as que fazem fidalgos. Cada um é suas ações, e não é mais nem menos.
Assistimos a muito crescimento sem mérito. Isso é justo?
O crescer nos que o merecem é crescimento; o crescer nos que o não merecem é crescença; o crescimento é grandeza, a crescença é feldade.
Qual é a responsabilidade dos eleitores na continuidade de políticos corruptos?
Se o que elegeste furta (não o ponhamos em condição, porque está claro que há de furtar), furta o que elegeste, e furta por si e por todos os seus, como costumam os semelhantes; e Deus há-vos de pedir a conta a vos, porque o vosso voto foi a causa de todos aqueles males.
Ao falar assim, o senhor não tem receio de desagradar a muitos?
Verdadeiramente, não sei de que mais me espante, se dos nossos conceitos, se dos vossos aplausos.
O que o senhor quer dizer com isso?
Eis aqui o que devemos pretender dos nossos sermões: não que os homens saiam contentes de nós, senão que saiam muito descontentes de si; que lhes pareçam mal os seus costumes, as suas vidas, os seus passatempos, as suas ambições e, enfim, todos os seus pecados.
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