EDUCAÇÃO

Aula presencial na rede pública é suspensa; nas particulares, tem audiência na Justiça hoje

Com decisão anunciada nesta quarta (19/8), estudantes de todas as escolas do Distrito Federal devem permanecer em casa por tempo indeterminado. Secretaria de Educação reforçará alcance do ensino a distância e fará obras em colégios durante a interrupção das atividades

Jéssica Eufrásio
Caroline Cintra
postado em 20/08/2020 06:00
 (crédito: Renato Alves/Agencia Brasília)
(crédito: Renato Alves/Agencia Brasília)

A falta de condições favoráveis em meio ao cenário de pandemia fez com que o Governo do Distrito Federal (GDF) optasse por suspender o calendário de volta às aulas na rede pública de ensino. Nesta quarta-feira (19/8), representantes da Secretaria de Educação reuniram-se com gestores das 686 escolas e decidiram que o mais indicado para o momento seria adiar o retorno até que haja “segurança absoluta” para estudantes e profissionais. Com isso, todos os estabelecimentos da educação básica no DF ficam sem data definida para continuar as atividades presenciais.

Em coletiva no Palácio do Buriti, nesta quarta, o secretário de Educação, Leandro Cruz, afirmou que a mudança não representou interrupção das aulas, pois a norma que liberava a reabertura de colégios, a partir de 3 de agosto, deixava a definição do calendário a cargo da pasta. As primeiras turmas voltariam no próximo dia 31. “Mesmo com o decreto que autorizava (o retorno), por decisão da Secretaria de Educação e com orientação do governador Ibaneis (Rocha), só o faremos quando estivermos em condições epidemiológicas perfeitas para isso”, destacou.

O secretário acrescentou que, nesse período, os colégios passarão por reformas, e o ensino pela internet será reforçado. Atualmente, a plataforma digital da rede pública conta com mais de 460 mil estudantes cadastrados e soma mais de 4 milhões de acessos. O Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro) aprovou a decisão do Executivo local. No entanto, cobra esforço para garantir que todos os estudantes tenham acesso aos conteúdos virtuais. “Sabemos que as aulas remotas estão acontecendo, mas temos uma parcela muito grande de alunos que não estão conseguindo acessá-las e que não conseguirão se o governo não assumir a parte dele de providenciar condições para isso”, afirmou Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro.

Mesmo se as aulas presenciais voltassem na data prevista, a recepcionista Rute Maria Santos, 29 anos, estava decidida a não mandar a filha, Sofia Santos, 7, de volta à escola pública, em Samambaia. Embora a menina esteja em fase de alfabetização, ela prefere manter as atividades de ensino em casa. “O número de casos é o que me assusta. Tenho lido bastante sobre a doença e sei que muitas crianças são assintomáticas. Se uma estiver infectada, a chance de passar para outras é grande. Estamos falando dos nossos filhos. Nosso bem maior”, disse.

O comerciante Samuel Cardoso, 37, compartilha da opinião. Pai de três filhos, de 14, 10 e 7 anos, ele decidiu manter todos em casa. “Sei que o virtual não substitui o olho no olho com o professor, mas estamos vivendo algo novo. Será que pouca gente tem enxergado isso?”, questionou. Em julho, Samuel foi um dos mais de 122 mil pacientes diagnosticados com a covid-19 no DF. Ele considerou os sintomas “cruéis”. “Sou um homem saudável e fiquei de cama. Se um filho meu pegar essa doença, não sei se aguenta. Por isso, nossa decisão aqui é: nada de volta à escola, por enquanto”, reforçou.

A Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa/DF) considerou a suspensão das aulas presenciais nas escolas públicas prudente e necessária. Vice-presidente da entidade, Anapaula Carreira comentou que a interlocução entre as secretarias de Saúde e Educação é essencial para a tomada de decisão. “Isso deveria ser estendido à rede particular também. Acaba que o retorno das aulas (nos colégios privados) ficou na disputa judicial, em um cabo de guerra entre sindicatos. Entendemos a importância de o governador assumir seu papel diante dessa situação”, destacou.

Divergências


Na rede particular, o retorno presencial segue sem definição. A decisão de abrir colégios depende da Justiça do Trabalho. Hoje, haverá uma nova audiência de conciliação entre as partes, na tentativa de que entrem em acordo sobre o novo calendário. O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe/DF) afirma que os colégios estão preparados para a volta, que têm acumulado prejuízos econômicos. Contudo, para o Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinproep/DF), a expectativa é de que as atividades continuem suspensas devido aos riscos da pandemia da covid-19.

A volta às aulas presenciais também divide opiniões entre as famílias. A administradora de empresas Verônica Alves, 39, sente-se insegura com o retorno. “A minha filha quer ir, mas não pretendo mandá-la agora. Vamos esperar como as coisas vão acontecer. A escola fez reunião e disse que vai tomar as medidas (necessárias), mas a gente fica inseguro”, afirmou Verônica, que vive em Sobradinho. No entanto, o marido dela, o bancário Roberto Mauro, 39, pensa o contrário.

Mãe de dois filhos matriculados em colégio privado, Gabriel Asevedo, 17, e Anannda Asevedo, 13, a administradora Daniella Asevedo, 41, acredita que os colégios estão preparados para receber os alunos. Para a moradora de Vicente Pires, tanto a comunidade escolar quanto os pais estão comprometidos com um retorno seguro. “Precisamos desconstruir essa ideia de que apenas as escolas têm proliferação do vírus em massa. Ela é tão importante e essencial quanto os outros segmentos que estão abertos”, avaliou. Daniella considera que muitos pais precisam desse serviço por terem retornado ao trabalho. “As crianças precisam ter os direitos de desenvolvimento e de aprendizagem garantidos, e isso é realizado, principalmente, na escola”, completou.

* Colaboraram Alan Rios e Mariana Machado

 

  • Daniella Asevedo defende o retorno das aulas particulares dos filhos
    Daniella Asevedo defende o retorno das aulas particulares dos filhos Foto: Arquivo Pessoal
  • Verônica e Roberto divergem quanto à reabertura do colégio
    Verônica e Roberto divergem quanto à reabertura do colégio Foto: Arquivo Pessoal

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