Samu completa 15 anos no DF com "boom" de atendimentos durante a pandemia

Em 2020, até a primeira quinzena de agosto, foram realizados 3.407 atendimentos dessa natureza, enquanto que em todo ano de 2019 foram 4.687

Jaqueline Fonseca
postado em 24/08/2020 06:00
 (crédito: Divulgação/Samu)
(crédito: Divulgação/Samu)

Esta segunda-feira (24/8) é de comemoração para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que completa 15 anos e mostra-se cada vez mais essencial à população. Durante a pandemia, o trabalho de motoristas, enfermeiros, médicos, atendentes, socorristas, técnicos e psicólogos tem sido ainda mais solicitado. Além de resgates, buscas e atendimentos que já faziam, esses profissionais passaram a integrar a batalha no combate ao novo coronavírus.

Dados do Samu mostram um “boom” no número de atendimentos, como define o diretor-geral do órgão no Distrito Federal. O médico Alexandre Garcia relata que o transporte de pacientes entre unidades de saúde aumentou muito nos últimos meses. “No caso das pessoas que entram em um hospital e precisam ser intubadas, a necessidade delas é um leito de UTI (unidade de terapia intensiva). Quando são transferidas, quem faz esse transporte é o Samu”, explica.

Em 2020, até a primeira quinzena de agosto, foram realizados 3.407 atendimentos dessa natureza, enquanto que em todo ano de 2019 foram 4.687. Doutor Garcia, como é conhecido, frisa que, no contexto da pandemia, a dificuldade é manter os atendimentos aos pacientes e, simultaneamente, cuidar dos profissionais. Segundo ele, a aquisição de equipamentos de proteção individual (EPI), em especial no início da crise sanitária, mostrou-se muito complexa pela alta busca por esses materiais em todo mundo. “EPIs são produtos que hoje valem ouro”, diz.

Segundo Garcia, 311 servidores do complexo regulador do Samu foram afastados por causa da covid-19. “O grande desafio na pandemia foi manter o atendimento pré-hospitalar e, além disso, dar fluxo aos atendimentos de leitos de UTI por causa do coronavírus e também de outras patologias, como infarto, AVC (acidente vascular cerebral) e assim por diante”, informa. “Outro desafio é reduzir o tempo de resposta entre o chamado e o atendimento.”

Trabalho de risco

Enfermeira há 18 anos e membro da equipe do Samu há 10, Vanessa Rocha da Silva estava no helicóptero compartilhado entre o Corpo de Bombeiros e o Samu que caiu próximo a uma faculdade particular no começo do mês de agosto. Ela responde pela Gerência de Atendimento Pré-Hospitalar Móvel, integrando o quadro administrativo, sem deixar de lado a assistência aos pacientes. No dia do acidente, a enfermeira e a equipe estavam indo dar suporte a um atendimento de parada cardiorrespiratória que havia sido iniciado pelos socorristas de motocicleta.

O susto foi grande, mas ela conta que enfrentar o medo e dar respostas rápidas fazem parte do trabalho. “Também tive uma situação de colisão de viatura. Realmente, é um serviço que traz riscos para a gente, mas o trabalho é extremamente gratificante”, define. “Essas duas situações envolveram muita emoção, foram muito rápidas, fizeram a gente pensar rápido. Posteriormente, o que a gente faz é ficar cada vez mais grata tanto a Deus quanto ao serviço que a gente pode prestar à população”, reflete.

Falta de respeito

Os riscos da profissão são extremos e, embora a diretoria do Samu perceba que a população tem reconhecido o trabalho do Samu com mais clareza nos últimos meses, algumas perturbações desnecessárias continuam sendo recorrentes. “Ainda sofremos muito com trotes”, diz o diretor do Samu, Alexandre Garcia. Na primeira quinzena de agosto, o Samu recebeu 41.270 chamadas, das quais 1.035 eram ligações criminosas e indevidas. No acumulado do ano de 2020, os trotes passam de 14 mil.
O diretor pede mais consciência e lembra que passar trote é crime. “Não façam trote nem para a Segurança nem para a Saúde. Se você passa um trote e a gente manda uma viatura, outra pessoa que precisa está deixando de ser atendida. O trote é um crime e acaba complicando a vida do cidadão que realmente precisa de socorro”, destacou Garcia.


Em 2020

(até a primeira quinzena de agosto)

190.338
Atendimentos regulados

3.407
Transporte de pacientes entre hospitais

55.833
Atendimentos atrelados a ocorrências

14.058
Trotes recebidos

Em 2019

281.863
Atendimentos regulados


4.687
Pacientes transportados entre hospitais


88.967
Atendimentos atrelados a ocorrências


51.744
Trotes recebidos

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  • Demanda por transferências de pacientes aumentou com a pandemia
    Demanda por transferências de pacientes aumentou com a pandemia Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 7/5/20
  • Alexandre Garcia, médico e diretor geral do Samu no DF
    Alexandre Garcia, médico e diretor geral do Samu no DF Foto: Divulgação/Samu
  • Enfermeira Vanessa da Silva estava no helicóptero que caiu este mês
    Enfermeira Vanessa da Silva estava no helicóptero que caiu este mês Foto: Gustavo Moreno/CB/D.A Press - 18/2/16

Modelo em saúde mental

 (crédito: Breno Esaki/Agencia Brasilia - 30/1/19)
crédito: Breno Esaki/Agencia Brasilia - 30/1/19

Servidores ouvidos pela reportagem destacam que, ao longo dos últimos anos, o Samu-DF evoluiu muito, crescendo no que diz respeito à complexidade e à especialização de atendimento, além da profissionalização das equipes. Entre os serviços de excelência prestados pelo órgão, destaca-se o trabalho inédito, pioneiro e de referência em todo o Brasil de suporte e atendimento de pessoas com transtornos mentais e psicológicos.

Trata-se do Núcleo de Saúde Mental (Nusam) que ajuda pessoas em surto ou em situação de vulnerabilidade emocional. Camila Carvalho Nascimento do Carmo, psiquiatra do Nusam, explica que o atendimento é feito de forma ampla, com possibilidade de acompanhamento posterior e, eventualmente, também envolve os parentes. “Nós atendemos ao paciente no local e, em cerca de 90% dos casos, conseguimos evitar hospitalizações”, comemora.

“Temos atendimento amplificado à família, atendemos à família em conjunto, e também conseguimos orientar e encaminhar esse paciente à rede de Saúde. Somos uma equipe única, mas atendemos em todo DF”, detalha. O Nusam é composto por uma equipe multidisciplinar de 31 profissionais, entre psicólogos, assistentes sociais, médicos psiquiatras, enfermeiros e condutores de ambulância.

A psicóloga Renata Kaiser Guimarães, chefe substituta da Central de Informações Toxicológicas e Atendimento Psicossocial (Ceitap), gerência que engloba o Nusam e a Central de Informações Toxicológicas (Ciatox), conta que a equipe interdisciplinar foi montada em 2016 e atua em todo o DF 24 horas por dia, sete dias por semana. “Somos uma equipe única e pioneira no país.

Gostaríamos que essa ideia se expandisse para todo o Brasil porque é muito importante ter um time especializado em saúde mental para socorrer a população nessas horas de crises”, afirma.
Desde 2013 no Samu, a psicóloga Lucciana Gomes Teixeira Souza narra que o Nusam nasceu para atender a uma demanda interna, reprimida até então. “Em 2012, foi identificado que profissionais do Samu estavam em grande sofrimento mental, inclusive com pensamentos suicidas”, recorda. “Em 2013, o serviço foi ampliado porque a gente percebeu a necessidade de dar suporte às equipes que atuam na rua e aí começamos, com psiquiatras, assistentes sociais e psicólogos, a fazer atendimento em emergências psiquiátricas junto à população”, conta.

Samita Vaz, psicóloga no Nusam, faz regulação e atendimento por telefone. Ela comenta que o serviço foi inspirado em experiências internacionais e adaptado para a realidade brasileira. Ela também destaca que o Nusam e o Samu estão sempre disponíveis para prestar todo auxílio necessário à sociedade. “Nosso trabalho é único no Brasil e foi inspirado em um serviço de emergência de Portugal e adaptado à nossa realidade e às políticas públicas do Brasil. Nós estamos aqui para dar suporte e apoio à população em situação de crise.”

Como é o acionamento de uma ambulância?

Todo atendimento passa pela triagem de um médico, que verifica a gravidade do caso para identificar a melhor técnica de resgate ou socorro. O Samu alerta que é necessário dar detalhes da situação e conversar com o médico regulador com paciência. Afinal, é nessa fase que é definido o tipo de resgate necessário. Algumas vezes, a assistência não demanda deslocamento de equipes e pode ser feita por telefone.

Em outras, no entanto, é necessário envio de ambulância, seja de alta, seja de baixa complexidade. Atualmente o Samu tem 30 unidades de suporte básico, oito de suporte avançado e 20 motocicletas. Este ano, foram feitos 190.338 atendimentos que exigiram envio de viaturas ao paciente. Um obstáculo que o condutor da ambulância pode ter no trajeto até o paciente é o trânsito. As viaturas das forças de segurança ou de saúde pública têm preferência nas ruas e estradas quando sinalizam urgência com o uso da sirene ou do giroscópio. Mesmo assim, 212 motoristas foram multados no DF este ano por não darem passagem a carros nessas condições. O Código Brasileiro de Trânsito (CTB) prevê multa de R$ 293,47 para essa infração.

Outro veículo de transporte e resgate utilizado pelo Samu é um helicóptero de uso compartilhado com o Corpo de Bombeiros. O uso tem três principais objetivos, conforme explica a enfermeira Vanessa Rocha da Silva. “O aéreo tem as premissas de atendimento de longa distância, chegar rápido ao local e ser uma equipe avançada para agregar a outras equipes que estão em atendimento.”

Como acionar?

O atendimento do Samu está disponível todos os dias e horários pelo telefone 192

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