Crônica da Cidade

Caminhada no parque

Severino Francisco
postado em 24/08/2020 22:04

Que me desculpem os leitores, mas esta crônica será de utilidade pública. A rigor, os epidemiologistas alertam que não existem ambientes com risco zero de contaminação pelo coronavírus. Mas admitem que caminhadas leves ao ar livre em parques, sem aglomerações e com uso de máscara, apresentam pouco perigo.

Na verdade, as pessoas precisam se exercitar para manter a saúde física e mental. A questão é quando, como e em que lugar. De minha parte, adoro andar pelos parques da cidade-parque. No entanto, não frequentarei nenhum até o fim da pandemia. Enquanto o mundo explode, tenho um amigo que sempre faz caminhadas pelo Parque da Cidade, pelo Parque Olhos d’Água e pelo Parque de Águas Claras.

Em suas andanças, uma pergunta o persegue de maneira obsessiva, como se ouvisse vozes: “Presidente, afinal, por que Fabrício Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da Michele?”. Além disso, ele depara-se com outro problema mais prosaico: o fechamento dos banheiros, determinado pelo protocolo sanitário. Com isso, só consegue aliviar a bexiga escondendo-se atrás das árvores.

Pois bem, o meu amigo resolveu conversar com um senhor, vigia de um parque, para saber mais informações. O vigia era muito bem-humorado e confessou que não aguentava mais tanta pressão. Algumas pessoas achavam que ele tinha a chave do banheiro para uso exclusivamente pessoal. De nada adiantava explicar que obedecia ordens superiores. Em sua teoria, os parques deveriam ser regidos pelo regulamento de uma suposta “ABA”.

Meu amigo imaginou que o funcionário errara a pronúncia; o nome correto da sigla seria APA (Área de Proteção Ambiental). Mas o vigia esclareceu que se tratava mesmo de ABA e significava: água, banheiro e árvore. Sem esses três componentes essenciais, um parque não poderia ser chamado de parque. Como fazer longas caminhadas sem beber água e sem descarregá-la em algum momento do trajeto?, indaga o servidor.

E aponta a incongruência: se os shopping centers, ambientes fechados, com risco muito maior de contaminação, oferecem banheiros, por que são interditados nos parques? Apenas exponho o caso e deixo a palavra final com os epidemiologistas.

No entanto, apesar das incoerências nos protocolos estabelecidos pelos governantes e dos argumentos engenhosos do vigia, pelo que li, os banheiros públicos aumentam a possibilidade de transmissão do vírus. Talvez o meu ilustre amigo, que presta relevantes serviços à cultura, fique bravo comigo. Todavia, prefiro que fique bravo e protegido, bravo e vivo.

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