O poeta Bolsonaro resolveu falar novamente. Ao ser indagado por um repórter com a pergunta “porque a sua mulher, Michelle, recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?”, o presidente deu a resposta daqueles que não têm resposta. “A minha vontade é encher a sua boca de porrada”. Não dá para entender essa reação em alguém que gosta tanto de alardear o versículo bíblico: “A verdade vos libertará”.
Surpreende a hostilidade à imprensa, uma instituição que lida precisamente com a verdade e a falsidade. Se a verdade está do lado do presidente ou se ele é a verdade, não haveria motivo para esse medo pânico. Sempre age assim.
Se as decisões do Congresso não lhe agradam, ele ameaça fechar. Se as deliberações do STF lhe são desfavoráveis, também acena com a interdição imediata ou com a nomeação de alguém “terrivelmente evangélico”. Se a Constituição não dá respaldo a seus atos, pior para ela: “Eu sou a Constituição”.
Em um enredo de teatro do absurdo, o presidente resolveu celebrar a morte de 115 mil brasileiros pela covid-19 com um evento no Palácio do Planalto, quando o Brasil se tornou referência de gestão desastrada da pandemia para o mundo inteiro.
Claro, como considerar bem-sucedido o enfrentamento da doença quando morreram 115 mil brasileiros e não temos ministro da Saúde há mais de 100 dias? O nosso país só perde para os Estados Unidos em número de óbitos. Bem, durante a cerimônia de teatro do absurdo, o poeta não resistiu à inspiração, louvou o passado de atleta e insultou os jornalistas presentes, chamando-os de “bundões”, que não resistiriam se pegassem a covid-19.
Como mostrou a jornalista Eliane Cantanhede em artigo para o Estadão, o presidente atirou nos jornalistas, mas acertou nos 115 mil brasileiros que morreram. É possível inferir, imediatamente, pela lógica de sua excelência, que os que sucumbiram à covid-19 sejam também “bundões”, fracos, sem passado de atleta, sem planos de saúde, sem dinheiro para pagar um exame e sem direito a se tratar com a urgência necessária no Hospital das Forças Armadas.
E, mais: sem vagas nos hospitais públicos, pois vários governantes falseiam os dados das UTIs disponíveis. Para conseguir ser internado, não raras vezes, é preciso entrar com uma ação pela Defensoria Pública e esperar na fila. O preço da demora pode ser a vida.
Mais respeito com os jornalistas e com os 115 milhões de brasileiros que morreram. O jornalismo vos libertará. E, afinal, presidente, por quê a sua mulher, Michelle, recebeu na conta bancária R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?
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