OPERAÇÃO FALSO NEGATIVO

Investigação na Saúde aponta que testes rápidos de covid-19 tinham lista VIP

Investigação do Ministério Público do DF mostra que secretário de Saúde pediu celeridade nos resultados de exames de pessoas influentes da capital, como o senador cassado Luiz Estevão e o ex-governador José Roberto Arruda

Alexandre de Paula
Ana Maria Campos
postado em 26/08/2020 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Mensagens trocadas pelo secretário de Saúde do Distrito Federal, Francisco Araújo, e o diretor do Laboratório Central do DF (Lacen), Jorge Chamon, mostram que o chefe da pasta pediu que o resultado de testes da covid-19 de figuras influentes da política da capital federal fossem acelerados e considerados prioritários. Entre os privilegiados pela equipe estão o senador cassado Luiz Estevão e o ex-governador José Roberto Arruda. Mais de 170 nomes receberam tratamento especial.

As mensagens foram obtidas a partir da análise do celular de Chamon pelos investigadores do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e fazem parte das informações que embasaram o pedido de prisão preventiva do secretário e mais seis pessoas. Araújo foi preso, na manhã desta terça-feira (25/9), na segunda fase da Operação Falso Negativo, que investiga supostas irregularidades na compra de testes rápidos. Ele é apontado pelo MPDFT como líder de uma organização criminosa, que operava na pasta.

Segundo os promotores, foram inúmeros casos em que Araújo demandou Chamon para que os resultados de algumas pessoas fossem antecipados “com determinação de prioridade para os integrantes dessa espécie de ‘lista VIP’. “Testes eram realizados na frente de outros tantos que estavam na fila de espera, ou seja, tudo em detrimento do atendimento da população mais carente do Distrito Federal, que, obviamente, não tem acesso a essa espécie de tratamento prioritário”, ressaltou o órgão.

Em mensagens trocadas com Chamon, em 25 de março, Araújo diz que precisa urgentemente do resultado do teste de Luiz Estevão. Um dia antes, Estevão conseguiu na Justiça o direito de cumprir a pena de 26 anos a que foi condenado em prisão domiciliar por uma liminar em habeas corpus deferida pelo ministro Rogério Schietti, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O mérito não foi julgado, e Estevão continua em casa.

Em 19 e 20 de junho, o secretário pede pressa nos exames de Arruda. No caso do ex-governador, Chamon respondeu que o resultado só sairia no dia seguinte. Araújo afirmou que precisaria ser naquele dia. “Por isso, a gente leva bronca”, reclamou. Chamon respondeu que não havia como atender a todas essas prioridades, porque o Lacen estava recebendo mais de mil amostras por dia para avaliação. “Então, prioriza o que peço”, rebateu o secretário.

A defesa do secretário alega que ele está seguro de que não cometeu “crime algum”. Os representantes de Chamon não foram localizados pela reportagem.

Investigação exclusiva


A investigação que culminou na prisão preventiva de Francisco Araújo e mais seis pessoas foi feita sem a participação da Polícia Civil, sendo exclusivamente pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Na medida cautelar, os promotores solicitaram que, pelas especificidades das apurações, os mandados fossem expedidos aos cuidados e para cumprimento do MPDFT, além de que fossem mantidos em sigilo até o cumprimento para “resguardar o sucesso das diligências”.

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MPDFT quer dados do Iges

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) impetrou, nesta terça (25/8), mandado de segurança para ter acesso aos dados bancários do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges). A Secretaria de Saúde repassa cerca de R$ 1 bilhão por ano para a entidade, responsável pela gestão dos hospitais de Base e de Santa Maria, além de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Segundo o MPDFT, o acesso a essas informações é a única forma para acompanhar com eficiência a execução dos recursos e confirmar se informações divulgadas são fidedignas. As informações tinham sido negadas ao órgão pelo Banco de Brasília (BRB), onde a instituição tem conta.

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