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EDUCAÇÃO

Sem vacina, aulas na rede pública só devem voltar no ano que vem, prevê secretário

Escolas privadas chegam a acordo com MP e retorno escalonado das aulas presenciais deve começar em setembro. Já na rede pública, secretário de Educação afirma ser pouco provável retorno este ano sem que haja uma vacina contra a covid-19

A retomada presencial das aulas na rede particular de ensino do Distrito Federal deve começar de forma escalonada a partir de 21 de setembro. A decisão é resultado de audiência de conciliação realizada ontem entre representantes de escolas, de professores e do Ministério Público do Trabalho (MPT). Na rede pública, no entanto, o secretário de Educação, Leandro Cruz, prevê que as atividades só devam retornar nessa modalidade no próximo ano, uma vez que, sem vacina contra a covid-19, o regresso é improvável.

Na audiência, ficou decidido que as aulas em escolas privadas para os alunos da educação infantil e ensino fundamental 1 poderão voltar na modalidade presencial em 21 de setembro, assim como as creches particulares. O fundamental 2 ficará liberado para retomada em 19 de outubro; e os estudantes de nível médio poderão frequentar as instituições a partir do dia 26 do mesmo mês. A ocupação máxima permitida das salas de aula será 50% e as carteiras deverão ficar a uma distância de 1,5 metro, assim como os alunos.

O único impasse que permaneceu é com relação à testagem dos profissionais. Para MPT, responsável pela ação civil pública que suspendeu a retomada das aulas em escolas particulares, o exame do tipo RT-PCR — colhido pelas vias nasais —aliado ao sorológico, é indispensável. Contudo, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF) argumentou não ser uma alternativa viável financeiramente para as instituições de ensino e sugeriu a aplicação apenas de exames de sangue para diagnóstico da covid-19.

Diante disso, o juiz titular da 6ª Vara de Trabalho de Brasília, Antônio Umberto de Souza Júnior, pedirá a análise de um perito para decidir sobre a questão. Durante a audiência, ele destacou que foi intimado a comparecer, mas não se apresentou. Questionada pela reportagem, a Procuradoria-Geral do Distrito Federal informou entender ser prescindível sua “participação em audiência ocorrida na data de hoje (ontem), que tratou sobre acordo de reabertura das escolas privadas, por caber aos estabelecimentos de ensino e às demais partes transigirem sobre o tema”. Também estavam presentes à audiência representantes do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinproep-DF).

À espera da vacina

“Eu acho que este ano voltaríamos se houvesse uma vacina. Não conseguimos voltar do dia para a noite, isso exige uma preparação. Então, acredito que dificilmente voltaríamos este ano”, afirmou o secretário de Educação, Leandro Cruz, em entrevista ao Correio, sobre a situação da retomada das aulas presenciais nas escolas públicas.

Uma das soluções para a interrupção do cronograma presencial seria considerar o ano de 2020 e 2021 como um ciclo do ano letivo. “E nós buscaremos, nos próximos anos, uma série de ações e atividades pedagógicas com o objetivo de minimizar os problemas a toda essa geração”, garantiu o secretário. Além disso, o governo mantém algumas atividades vigentes para uma retomada dos alunos às salas de aula de maneira mais segura e eficiente, por meio de reformas e construção de algumas unidades, desinfecção e higienização dos espaços e previsão de testagens nos profissionais.

De acordo com a Secretaria de Educação, todas as unidades da rede pública passaram por desinfecção. A meta agora é reiniciar o ciclo de sanitização nas 686 escolas, com hipoclorito de sódio. A ação é uma parceria da pasta com a Secretaria de Estado de Governo do DF, por meio da Secretaria Executiva das Cidades e da Diretoria de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde.

“Nós estamos mantendo as atividades nas escolas com a atuação dos gestores no auxílio da retirada e entrega de materiais impressos e acompanhamento das reformas”, detalha Leandro Cruz. Por isso, a pasta planeja que, ainda este ano, esses gestores realizem testes para detecção de Sars-Cov-2. Outra medida será a continuidade do pagamento de auxílios mensais da Bolsa Alimentação e Bolsa Alimentação Creche, para suprir a falta das merendas escolares. Os valores referentes ao período de 1º a 31 de agosto foram creditados na última semana e contemplam 129 mil alunos e as crianças matriculadas em instituições parceiras da Educação.

Ensino remoto

Enquanto o governo planeja os próximos passos do ensino na rede pública, professores, pais e gestores lidam com os desafios das aulas remotas. “Como muitos alunos moram na área rural foi necessário ir presencialmente às casas dos pais para avisar sobre o retorno. Esse foi o meu primeiro choque”, conta a docente Sílvia Maria Justino, 38, do Centro Educacional Irmã Maria Regina Velanes Regis, em Brazlândia. “Aprender a mexer com a plataforma e criar um conteúdo especial para meus alunos deficientes visuais tem sido desafio enorme”, completa.

Já a advogada Maria Aparecida Mesquita, 37, tem equilibrado a rotina escolar da filha Rihanny Oliveira, 11, com a dela. “Os professores postam atividades duas vezes na semana por videoconferência e têm as tarefas postadas na plataforma de ensino, em média três ou quatro disciplinas”, afirma. “Estou achando muito difícil, porque não consigo tirar as dúvidas imediatamente. Não vejo a hora de esse período passar”, torce Rihanny.

* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer.

 

Perspectivas no ensino

O Correio promove, hoje e amanhã, lives nas redes sociais para discutir desafios e possibilidades do ensino no contexto da pandemia de covid-19. A iniciativa faz parte do especial Novas Diretrizes para a Educação. A primeira entrevista, às 18h de hoje, será com a diretora geral das escolas premium do Grupo SEB, Lady Christina Sabadell, que discutirá as novas abordagens para a educação, peça fundamental na formação do cidadão do futuro, com foco no ensino médio. Para ser avisado sobre as lives basta se inscrever em www.correiobraziliense.com.br/diretrizesdaeducacao. Em 3 de setembro, será publicado um caderno especial com conteúdo exclusivo sobre o tema.

DF ultrapassa 150 mil infectados

O Distrito Federal passou dos 150 mil casos de infecção pela covid-19. Das 150.519 notificações, 131.599 representam pacientes recuperados. O número de mortes chegou a 2.316, de acordo com balanço divulgado pela Secretaria de Saúde na noite de ontem. Entre as vítimas, 2.119 moravam na capital e 197 em outras unidades da Federação, mas estavam internadas em hospitais de Brasília.

O total de mortes registradas em 24 horas foi de 42. No entanto, apenas cinco deles ocorreram ontem. As vítimas mais recentes são três mulheres e dois homens. Todos elas apresentavam comorbidades, como doença cardiovascular, distúrbios metabólicos, obesidade e pneumopatia. Ceilândia continua a concentrar o maior número de mortes causadas pela doença. São 409 até o momento. Taguatinga vem em seguida, com 224 mortes óbitos; e Samambaia, com 188.

Especialistas analisam que o cenário atual da pandemia no DF é de estabilidade e que a retomada das atividades comerciais contribui para que o número de registros de infecções pelo coronavírus se mantenha em patamar alto. Uma análise mais detalhada do estágio epidemiológico em que a capital se encontra, no entanto, pode demorar alguns dias ou semanas para ocorrer, devido à mudança na forma de divulgação dos dados de óbitos.

“Com a mudança de metodologia na contagem do número de mortes, em que vemos os eventos pela data de ocorrência e não quando aparece no sistema, temos um retrato mais fiel”, pondera Mauro Niskier Sanchez, professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB) e integrante da Sala de Situação da instituição de ensino. “No entanto, só temos informações confiáveis do que já passou e não do que está acontecendo, portanto essa tendência pode facilmente mudar”, completa o especialista.

O pesquisador Paulo Angelo Resende, da Associação GigaCandanga e do Observatório PrEpidemia da UnB, observa uma tendência de queda no número de infectados, já que as características da região não indicam que a capital passará por um platô muito alongado, como ocorre no caso do Brasil. “Mas, caso haja uma mudança significativa no padrão de contatos, aí sim pode aumentar a velocidade com que o vírus se espalha e teremos um platô”, comenta.

* Estagiários sob supervisão de Mariana Niederauer