Coronavírus

Ibaneis libera cinemas e teatros no DF

Decreto será publicado hoje. O documento estabelece uma série de restrições para o funcionamento desses setores, como venda de ingresso, exclusivamente, pela internet. Medida altera, ainda, regras para academias, templos religiosos e clubes recreativos

Jéssica Eufrásio
Thais Umbelino
postado em 02/09/2020 22:56
 (crédito: Junior Aragão/divulgação)
(crédito: Junior Aragão/divulgação)

O Executivo local publica, hoje, no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF), um decreto que libera a retomada imedita de mais atividades presenciais. A norma inclui cinemas, teatros e o uso de piscinas em clubes recreativos. Na noite de ontem, o Correio teve acesso à versão preliminar do documento, que determina uma série de medidas para o funcionamento desses estabelecimentos e modifica algumas das regras em vigor.

Para ocorrerem, os encontros em teatros e cinemas deverão obedecer a orientações, como disponibilização de produtos para higienização das mãos e dos calçados na entrada; disposição alternada das fileiras de cadeiras, sendo uma ocupada e outra vaga; venda de ingressos, exclusivamente, on-line; limitação de até seis pessoas por grupo de espectadores; e proibição da entrada e da permanência de pessoas sem máscara.

Para as piscinas, as diretrizes incluem o funcionamento, apenas, para práticas desportivas e em ambiente aberto; distanciamento mínimo de 2,5 metros entre cada atleta; ocupação de raias e bordas de forma intercalada; limitação de até dois treinadores para acompanhamento das equipes; e interrupção das atividades, ao menos, duas vezes por dia para limpeza geral.

O documento altera dois decretos que tratam de áreas liberadas. Em igrejas, templos e locais religiosos, não há mais a obrigatoriedade de intervalos de, no mínimo, duas horas entre as celebrações presenciais. Nos parques, ficam abertas as demais áreas de atividades coletivas, exceto os pontos com equipamentos de musculação. O funcionamento permanece entre as 6h e as 21h.

Nas academias, ficam liberados os bebedouros, as aulas coletivas e a utilização de chuveiros. O uso obrigatório de máscaras de proteção estendeu-se para funcionários e colaboradores, além de alunos e professores. A minuta estabelece restrição do número de alunos nas áreas de circulação e a ocupação máxima de uma pessoa a cada quatro metros quadrados da área disponível para treino. O documento preliminar inclui, ainda, a recomendação de não haver contato físico entre frequentadores e funcionários.

Contágio
Estimativas calculadas por pesquisadores que acompanham o avanço da covid-19 indicam que a capacidade de o novo coronavírus se transmitir entre a população do Distrito Federal diminuiu. O índice que analisa a possibilidade de o micro-organismo se replicar ficou abaixo de um, a partir da segunda quinzena de agosto, segundo boletim divulgado, ontem, pelo Observatório PrEpidemia. O resultado indica que o pico da doença passou. No entanto, isso não significa que seja o momento de baixar a guarda, pois as quantidades de mortes provocadas pela doença e de pessoas infectadas continuarão a subir.

O observatório reúne pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), além de instituições de ensino e laboratórios associados. Para Paulo Angelo Resende, da Associação GigaCandanga, a queda no índice de transmissibilidade ocorre às custas de mortes e sequelas. “Há estudos que indicam a possibilidade de reinfecção, mas, o que temos observado é uma imunidade após o primeiro contágio. Esses indivíduos recuperados dificultam a continuidade da epidemia, pois ela depende de pessoas suscetíveis a serem contaminadas. Se isso é bom por um lado, por outro, é desastroso, pois a imunidade natural tem o custo das mortes, além das sequelas”, alerta Paulo Angelo.

O cenário de transmissão é avaliado com base na taxa R(t). Ter esse indicador igual a 1,00 durante a pandemia de covid-19 significa dizer que cada grupo de 100 infectados é capaz de transmitir o novo coronavírus para outras 100 pessoas. Na última segunda-feira, por exemplo, o valor calculado para o DF ficou em 0,98 — assim, estatisticamente, um conjunto de 100 contaminados poderia infectar, em média, 98 indivíduos.

Em julho, quando José Donizete da Costa, 57 anos, ficou doente, o DF enfrentava o pico da epidemia. Os incômodos no corpo foram um sinal de que algo estava errado. Com o tempo, os sintomas evoluíram para febre alta, dores de cabeça, diarreia e baixa oxigenação. “Decidi ir a um hospital particular e pedir (para indicarem um) teste da covid-19. Estava achando estranha a minha piora”, conta. Na unidade de saúde, o paciente confirmou o esperado: “Testei positivo para o (novo) coronavírus. Quando cheguei ao hospital, meu pulmão estava comprometido em 40%. Se demorasse, talvez, teria uma piora e poderia até morrer”, acrescenta José Donizete.

O aposentado mora no Gama, uma das cinco regiões administrativas com maior número de casos, no DF. Ele é um dos 148.980 recuperados na capital, com base nos dados monitorados pela Secretaria de Saúde. Ontem, segundo o último boletim da pasta, o total de infectados chegou a 164.649. As mortes alcançaram 2.606 notificações, incluindo vítimas de Goiás e de outros sete estados. Entre 29 de junho e ontem, a secretaria contabilizou 36 óbitos.

Além de tratar do pico de casos, a pesquisa do Observatório PrEpidemia indicou a possibilidade de haver menos mortes por semana, a partir dos próximos dias. No entanto, o total de óbitos acumulados vai continuar a subir. Atualmente, os cálculos indicam que entre 22% e 50% dos brasilienses tiveram contato com o novo coronavírus. A divergência entre o possível número de 1,5 milhão de habitantes infectados — metade da população do DF — e os 162 mil casos confirmados pela Secretaria de Saúde até 31 de agosto deve-se à subnotificação da doença.

Professor da Escola Superior Ciências da Saúde (Escs), José Roberto Bittencourt considera que o aumento da porcentagem de pessoas imunizadas trata-se de uma situação “extremamente dramática e danosa”. “No caso da vacina, as pessoas ganham imunidade, adquirem anticorpos, não ficam doentes e não morrem. Mas, a perspectiva da vacina é só para o ano que vem. Até lá, vamos sofrer muito. A tendência é de queda, como foi identificado pelo observatório, mas há uma tendência lenta, com muito sofrimento, gente infectada e pessoas morrendo até o fim do ano”, alerta José Roberto. “Não precisava ser desse jeito. Se os governos tivessem coordenando ações de vigilância epidemiológica, conseguiríamos conter a transmissão do vírus”, argumenta.

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