Crônica da Cidade

Entregadores, cuidem-se

Severino Francisco
postado em 04/09/2020 21:38 / atualizado em 04/09/2020 21:38

Caros entregadores, esta crônica é para vocês. Porque realmente me preocupo com vocês, trabalhadores tão essenciais neste momento terrível de covid-19. Graças ao que fazem, muitas pessoas podem reduzir significativamente a quantidade de vezes que saem de casa, algo que, nunca é demais lembrar, continua necessário.

Mas, tenho reparado que vocês andam imprudentes no trânsito. Imagino que a pressa faça parte da equação, mas desconfio que, talvez, os tempos de ruas vazias do início da pandemia os tenha acostumado mal. Nos primeiros meses de isolamento social, as ruas ficaram desertas e entendo que alguns "gatos" tenham se tornado quase irresistíveis. Para que percorrer toda a entrequadra e fazer o retorno no balão se não há ninguém por perto? Por que não fazer essa curta contramão se a rua está um deserto?

Claro que infrações de trânsito nunca devem ser cometidas. Pedestres, ciclistas, veículos podem surgir "do nada", mesmo nas horas de movimento quase zero. Seguir o código é a única forma de não dar sorte ao azar e não colocar a própria vida e a de outros em risco. Mas sei como nossa cabeça pode funcionar às vezes e, diante do vazio das pistas, a tentação para não cumprir as regras acaba aparecendo.

Só que as ruas não estão mais vazias. Deveriam estar, mas não estão. O trânsito está voltando a ter quase o mesmo fluxo de antes da pandemia. Mas, alguns de vocês parecem acostumados ao "território livre" de meses atrás. Mais de uma vez, recentemente, tive de frear enquanto fazia um balão porque o motoqueiro, que não tinha a preferência, não respeitou a regra e avançou assim mesmo na rotatória.

E noite dessas, quando voltava do trabalho pelo Eixinho da Asa Norte, fui surpreendido por um ciclista saindo de uma comercial e entrando na minha pista, pela contramão. Pior: sem capacete nem qualquer acessório de luz que deixasse a bicicleta visível no escuro. Tanto ele quanto eu tivemos de dar uma guinada para não bater de frente. Se eu me assustei, imagino ele, que certamente seria o maior prejudicado em caso de batida.

Não estou na pele de vocês, mas posso imaginar a rotina dura que enfrentam para ganhar a vida. O trabalho sem vínculos e sem direitos — injusto, portanto — força-os a fazer mais e mais entregas no menor espaço de tempo possível. É assim que vocês garantem o mínimo para sustentar a família. Mas tentem não deixar essa dura rotina torná-los descuidados com a própria vida, que é muito valiosa. E a saúde é fundamental para prosseguir na batalha do dia a dia. Cuidem-se, por favor. Desejo bons dias de trabalho e gorjetas cada vez mais generosas. E muito obrigado pelo que vêm fazendo por nós.

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