O isolamento social continua a ser a recomendação de especialistas e autoridades para se proteger do novo coronavírus. Entretanto, os desafios de se manter confinado em casa têm afetado o bem-estar da população. Fatores como solidão, falta de contato físico, incertezas do futuro, perda ou diminuição da renda e medo do contágio propiciam que a saúde mental das pessoas seja abalada e aumente o número de casos de estresse, depressão e ansiedade, de acordo com especialistas.
“A pandemia de covid-19, e o isolamento social que ela impôs, podem ter criado uma outra pandemia paralela, de sofrimento psíquico”, avalia Artur Mamed Cândido, psicólogo especialista em saúde mental e membro do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP/DF).
Uma forma de lidar com esses impactos é se dedicar a atividades que possam relaxar e descansar a mente e o corpo. “Sobretudo as que tragam a mente para o ‘aqui e agora’, como pintura, jardinagem, culinária. Elas são muito recomendadas para diminuir o grau de ansiedade. Dedicar-se a um hobby, desenvolver novas habilidades, aprender algo novo, fazer uma atividade física, dar atenção ao ambiente doméstico são estratégias poderosas no enfrentamento da ansiedade e da depressão”, completa o especialista.
Foi o que fez o assessor de investimentos Paulo Bessoni, 26 anos. Ele começou a cultivar plantas em casa quando iniciou a quarentena. Desde então, adquiriu 45 novas mudas. “Colocar a mão na terra é uma forma de diminuir a tensão. Até quando estou de home office, poder olhar para o lado e ter uma planta ali para dar uma atenção ajuda muito”, conta.
Ele também tem aproveitado o tempo no lar para fazer atividades “do it yourself” (faça você mesmo), baseado em vídeos do YouTube. Aprendeu a pintar parede, para dar uma repaginada na sala, e começou a confeccionar móveis a partir de madeiras de uma cama antiga. “Fizemos um móvel para o banheiro, alguns nichos e prateleiras. Tem muita madeira, ainda, para fazer outras coisas.”
Mudança de ares
Clara Cunha, 28 anos, teve três crises de asma desde o início da pandemia. Ela credita isso ao fato de ter passado a ficar muito mais tempo dentro do apartamento, com pouca ventilação e espaço, além dos impactos psicológicos do confinamento. Ela relata que os primeiros meses foram os mais difíceis devido à reorganização do trabalho doméstico e ao fim dos limites entre espaço de trabalho e pessoal. “A gente trabalhava na nossa salinha, mas ela não tinha janela. É muito ruim essa lógica de shopping. Você não vê o dia passar, trabalha sem ter a noção da hora de parar”, desabafa a analista de projetos.
Por isso, tomou uma decisão: mudou-se, em junho, com a companheira, para uma casa no Córrego do Urubu. Lá, elas têm mais espaço ao ar livre e uma melhor qualidade de vida em meio a uma quarentena que não tem data para acabar. “A casa ajuda a sentir menos falta de sair, porque dá para fazer atividade física, passear no quintal”, completa.
Reformar o cômodo vazio para transformá-lo em escritório se tornou prioridade para Marcus Thulio Bezerra, 33 anos. O servidor público havia se mudado para o apartamento onde mora, no Noroeste, no início do ano, e mobiliar o escritório estava no fim de sua lista de prioridades. Entretanto, ao começar a trabalhar em casa, criar um ambiente adequado virou necessidade.
“O escritório ficou pronto em junho e melhorou demais a vida aqui em casa. Eu estava trabalhando na mesa da cozinha. Meu quarto ainda não está pronto, mas o escritório está, porque ter um ambiente em que eu trabalhe com qualidade ajudou bastante, até para que eu possa respeitar a quarentena, ficar tranquilo em casa, sem ânsia de sair”, explica.
A mudança no comportamento da população pode ser observado na economia. De acordo com o presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi/DF), Eduardo Aroeira, desde o início da pandemia, houve um aumento na procura por casas e apartamento maiores, com espaços abertos, como varanda e coberturas.
O setor de materiais de construção também se beneficiou dessa mudança de paradigma, segundo Carlos Aguiar, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Materiais de Construção do Distrito Federal (Sindmac/ DF). Ele avalia que o momento propiciou a realização de reparos em casa para quem tem condição de fazê-los agora, o que contribuiu para a normalização das vendas.
Meditação
A professora de psicologia da Universidade de Brasília (UnB) Suely Sales Guimarães explica que manter uma rotina diária é fundamental, uma vez que a falta de planejamento pode aumentar a sensação de caos e descontrole. Além disso, ela indica a meditação como ferramenta importante para manutenção do bem-estar. “Essa prática auxilia muito na redução da ansiedade e em uma avaliação menos negativa do momento”, justifica.
O consultor de marketing digital Augusto Berto, 28, estava acostumado a passar os dias fora de casa e teve dificuldade com o isolamento social. “Manter a cabeça no lugar é muito difícil. Por isso, busquei alguns hábitos novos. Comecei a meditar e vi a diferença que isso faz para você manter a sanidade. É surreal a melhora que traz para a sua respiração e para o seu controle mental”, afirma.
Outro costume que ele adotou, após descobrir os benefícios em um documentário, são os banhos gelados pela manhã. “Nunca fui de banho frio. Mas, desde que comecei a tomá-lo, mudou minha vida.” Segundo Augusto, a prática aumenta a disposição e previne doenças. “Puxa até um pouco para a meditação, porque você faz um exercício de respiração para suportar a água gelada. Se puder enumerar, esse foi o hábito que mais me fez bem durante a quarentena”, diz.
Saúde mental
O psicólogo Artur Mamed Cândido afirma que é natural que as pessoas fiquem tristes e preocupadas em um momento de tantas mudanças e perdas. Embora alguns consigam lidar com esses sentimentos sozinhos, outros precisam buscar ajuda profissional. “Sentimentos intensos e persistentes de tristeza, desânimo, pensamentos sobre morte, crises de ansiedade recorrentes e persistentes, episódios de pânico podem indicar a necessidade de ajuda profissional de psicólogo ou psiquiatra”, recomenda.
Ter a dimensão de que o momento é difícil, mas vai passar, é uma opção para encarar o isolamento. Enquanto isso, é importante manter hábitos e práticas saudáveis. “É importante usar o tempo para descobrir prazer naquilo que for viável neste momento. Muitas atividades foram limitadas, mas, enquanto houver vida, ela deve ser vivida conforme as condições reais, os recursos disponíveis e o interesse de cada um. Só não vale deixar a vida passar sem usufruir daquilo que for viável”, completa Suely Sales Guimarães.
» Lidando com o
isolamento
» Aprenda a reconhecer os sinais de ansiedade e depressão. Nem todas as pessoas sabem, de fato, reconhecer, esses estados em si mesmas
» Permita-se, eventualmente, vivenciar um pouco desses sentimentos, lembrando que você não precisa ser forte o tempo todo
» Uma vez reconhecendo e se permitindo sentir tristeza ou ansiedade, busque e construir alternativas saudáveis de enfrentamento
» Evite recorrer ao uso abusivo de álcool e outras drogas. Elas costumam ser péssimas formas de mascarar a ansiedade e a depressão
» Cultive e preserve relações afetivas, mesmo que remotamente, estabelecendo uma rede de suporte emocional e de solidariedade para compartilhar sentimentos e percepções, oferecer e receber apoio. Vale intensificar o contato virtual com familiares e amigos distantes
» Mantenha uma atitude positiva diante das mudanças, aceitando a nova realidade e buscando, de maneira ativa, descobrir possíveis ganhos nessa nova realidade. Você pode constatar, por exemplo, que o isolamento possibilitou mais tempo de convivência com os filhos, a família; de dedicação a atividades prazerosas, como culinária, jardinagem; a projetos pessoais que estavam engavetados; ao convívio com animais de estimação
» É importante diminuir, repensar e, se possível, negociar as expectativas e os antigos padrões de produtividade laboral. Isso cobra um exercício de reconhecimento das limitações, que pode ser um passo importante para lidar com a nova realidade
» Pratique atividades físicas, lembrando que o cuidado com o corpo é um meio de acesso rápido e fundamental à retomada do bem-estar, autoestima e equilíbrio emocional
Fonte: Artur Mamed Cândido, psicólogo especialista em saúde mental e membro do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP/DF)
» O que abre e o que fecha no feriado
Comércios
Lojas de shoppings: funcionam normalmente das 11h às
21h no feriado
Lojas de rua: expediente é opcional. Quem for atender ao público, pode abrir as portas a partir das 11h
Transporte público
Metrô: hoje, das 7h às 19h
Ônibus: hoje, vão rodar conforme a tabela de horários dos domingos
Órgãos do GDF
Ceasa: hoje, das 4h30 às 17h
Na Hora: agências fechadas
Detran-DF: agências fechadas
Restaurantes comunitários: fechados
Agências do Trabalhador: fechadas
SLU: funcionamento normal
Saúde
Unidades Básicas de Saúde: fechadas
Ambulatórios: fechados
Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) tipos 1 e 2, fechados.
Já os tipos 3, abertos
Unidades de pronto atendimento (UPAs): funcionam normalmente, 24 horas por dia
Hospitais: emergências funcionam normalmente, 24 horas por dia
Bancos
BRB: agências fechadas. Terminais de autoatendimento funcionam
das 6h às 22h
Espaços culturais e turísticos
Permanecem
Parques
Unidades do Ibram: funcionam normalmente, das 6h às 21h
Parque da Cidade: funciona normalmente, das 5h às 21h
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DF registra mais 10 mortes por covid-19
O Distrito Federal registrou mais 10 mortes neste domingo por covid-19. As mortes ocorreram entre primeiro de julho e sábado, mas entraram ontem nas estatísticas. As vítimas — seis homens e quatro mulheres — tinham mais de 40 anos e a maioria tinha comorbidades que agravaram o caso. Uma das vítimas era residente em Goiás. Com as novas mortes, total chega a 2.710.
São mais 1.012 casos em 24 horas, contabilizando 169.617 diagnósticos positivos do novo coronavírus até o momento. Destes, 154.753 (91,2%) estão recuperados e há 12.154 casos ativos (7,2%). Apesar de haver mais mulheres infectadas (53,6%), homens morrem mais pela doença (59,1%). Além disso, 85,5% das vítimas fatais apresentavam outras doenças.
Ceilândia é a região com maior número de casos (20.898) e mais mortes (502), com letalidade de 2,4%. Taguatinga tem 13.684 casos e 268 mortes (letalidade de 2%) e, em seguida, aparece em número de diagnósticos positivos o Plano Piloto, com 13.454 casos. O terceiro lugar em número de mortes, no entanto, é Samambaia, com óbitos entre os 11.010 casos — letalidade de 2%. No Plano Piloto, a letalidade é de 1,3%.
Morte investigada
O médico Álvaro Donizete de Oliveira Resende, de 62 anos, que atuava na cirurgia geral do Hospital Regional de Planaltina, morreu no último sábado, e a suspeita é de que tenha sido em decorrência da covid-19. O óbito foi confirmado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, mas, até a noite de ontem, a pasta não havia confirmado a causa.
Álvaro Donizete tinha sido diagnosticado com o novo coronavírus nas últimas semanas. Ele deixa duas filhas. Em nota oficial divulgada na manhã de domingo, a secretaria destaca que a equipe do hospital “descreve o servidor como um profissional comprometido com seu trabalho, muito querido por todos os colegas e pacientes” e se solidariza com amigos e familiares.
A Superintendência da Região de Saúde Norte também se pronunciou por meio de nota. “Não temos palavras para expressar os nossos sentimentos, pedimos a Deus que conforte o coração dos familiares e amigos neste momento de dor”, descreveu parte do texto, assinado pela titular da área, Sabrina Irene Castro Gadelha.