Entrevista

"O sofrimento social e econômico parece que só irá se postergar", diz professor de epidemiologia da UnB

O processo acredita que ainda não é o momento de relaxar nas medidas de distanciamento social

Alan Rios
postado em 11/09/2020 06:00

Ana Dubeux/CB/D.A Press - 13/5/20
Ana Dubeux/CB/D.A Press - 13/5/20 (foto: Ana Dubeux/CB/D.A Press - 13/5/20)

Em entrevista ao Correio, o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Wildo Navegantes analisa que a flexibilização acelerada das medidas de  isolamento social podem  fazer com que a pandemia dure mais tempo. 

Hoje, a população do DF flexibilizou o isolamento social de forma ainda mais intensa. Do lado do governo, há a informação de que o pior momento da pandemia já passou. Ter esse fluxo de pessoas nas ruas pode fazer com que DF entre em outro momento difícil no enfrentamento contra a covid-19?
Isso só agravará a situação, tanto do ponto de vista do sofrimento das pessoas e suas famílias, quanto do quadro econômico, pois faz “arrastar” a pandemia por mais tempo na nossa sociedade. A certeza da circulação viral nas ruas, no trabalho e nas escolas causa, além do risco de infecção com algum agravamento, óbitos e um sofrimento psíquico contínuo na sociedade. Tudo isso além do atraso da retomada definitiva da economia no país, mesmo que cada vez mais ainda estamos aprendendo como lidar com esta doença. Ou seja, se continuarmos a retomada com a “normalidade” anterior à pandemia, teremos aprendido muito pouco e o sofrimento social e econômico parece que só irá se postergar.

A chamada imunização de rebanho é, vez ou outra, citada nos debates da pandemia. Ela realmente pode ser um caminho para controle da doença ou representa um perigo, já que muitas pessoas teriam que ser contaminadas?
Apostar como ferramenta de gestão pública ou privada de saúde em imunidade coletiva (ou “rebanho”), da tradução literal de herd immunity é uma temeridade, pois há um sofrimento agregado às pessoas, seus familiares e também à sociedade como um todo, além do custo direto sanitário da doença e dos custos indiretos. Isso deveria ser veemente evitado pelos governantes e acompanhado pela sociedade.

Temos algumas vacinas em fase avançada de testes no Brasil. Como o senhor enxerga esses testes? Há motivo para ter esperanças de uma vacina pronta no primeiro semestre de 2021 ou ainda é muito cedo para dar um panorama?
Esse é um passo importante da ciência mundial, que historicamente responde à altura dos desafios da humanidade. Neste caso, estou esperançoso de que os resultados apareçam no primeiro semestre de 2021 sim, o que não quer dizer que já teremos a quantidade de vacina necessária para vacinar todas as pessoas necessárias.

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