Vivemos um "luto coletivo"

Reconhecer os danos causados pela pandemia é o primeiro passo para lidar com os efeitos da crise sanitária que assola o mundo, diz a doutora em psicologia e diretora de Atenção à Saúde da Comunidade da Universidade de Brasília (UnB), Larissa Polejack.

Correio Braziliense
postado em 10/09/2020 23:16 / atualizado em 10/09/2020 23:39
 (crédito:  Ana Rayssa/CB/D.A Press - 9/7/20)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press - 9/7/20)

Todas as pessoas sofreram perdas com as diversas crises causadas pelo surto mundial da covid-19, seja a nível profissional, educacional, ou pessoal — com a morte de alguém para a doença. Isso faz com que vivamos um processo de “luto coletivo”, como explica Larissa Polejack, doutora em psicologia e diretora de Atenção à Saúde da Comunidade da Universidade de Brasília (UnB).

“Quando a gente olha para mais de cem mil mortos, não é possível que a gente mantenha os olhos fechados e não perceba que, como sociedade, a gente está vivendo um luto coletivo. Seja um luto pela morte de muitos brasileiros, seja um luto de projetos de vida. Um trabalho que eu tinha pensado, um estudo que eu ia fazer fora, o ano letivo. Várias coisas mudaram”, detalha.

A pesquisadora falou ao CB.Saúde — uma parceria do Correio com a TV Brasília —, ontem, e traçou um panorama dos diversos riscos à saúde mental que a pandemia apresenta.

Sofrimentos distintos

Apesar de ser um fenômeno experienciado por toda a sociedade, Polejack ressalta que cada um reage de maneiras diferentes aos fatos. Por um lado, há uma negação “extremamente perigosa, tanto para você quanto para as pessoas com as quais você convive”, observa. “Quanto mais a gente negar que a gente está vivendo, de fato, uma crise sanitária, que a gente está vivendo, de fato, um risco para todos nós, menos a gente vai se cuidar, mais mortes a gente vai ter e mais tempo a gente vai passar nessa situação”, alerta.

Para ela, a pior consequência desse comportamento são as mortes registradas em todo o país. “Se seguirmos desse jeito, o que vai acontecer é que nós vamos ter perdas cada vez mais próximas. Se antes era alguém que eu via no jornal, depois passou a ser o tio de alguém. E tem gente que já está vivendo a perda do pai, a perda da mãe, a perda do filho”, frisa.

Procura por ajuda

Problemas complexos, como abuso de entorpecentes, também têm sido recorrentes durante a pandemia. “A gente tem identificado o uso abusivo de álcool e outras drogas, isso ao longo de toda a pandemia”, explica a psicóloga. Como consequência de todo esse contexto, a busca por auxílio profissional aumentou.

No caso dos atendimentos feitos pela UnB, a demanda cresceu, especialmente, com a expectativa do retorno às atividades. “Nas últimas três, quatro semanas, a gente tem identificado um aumento na demanda por atendimento psicológico. Entre as principais queixas estão: ansiedade, depressão e o receio dessa volta — porque a UnB teve uma retomada das aulas, mesmo que remota —, então tem o medo de não dar conta”, analisa.

O primeiro passo

Segundo a psicóloga, o primeiro passo para superar todas essas crises é reconhecê-las. “A gente precisa entender isso, não no sentido de entrarmos todos em depressão coletiva e falarmos todos: ‘Pronto, perdemos’. Mas, o luto precisa ser vivenciado para que a gente possa, como um grupo, como sociedade, sair dele. Quanto mais a gente negar que a gente está vivenciando essa pandemia, mais sofrimento a gente vai ter”, argumenta.

Polejack conclui: “Uma das questões importantes que a gente fala em qualquer terapia que você vai fazer é que o primeiro passo, de você querer fazer uma terapia, já é o começo do tratamento”.

A entrevista completa pode ser vista no site e nas redes sociais do Correio. O CB.Saúde vai ao ar toda quinta, às 13h20.


"Se seguirmos desse jeito, o que vai acontecer é
que nós vamos ter perdas cada vez mais próximas”


"O luto precisa ser vivenciado para que a gente possa, como um grupo,
como sociedade, sair dele. Quanto mais a gente negar que a
gente está vivenciando essa pandemia, mais sofrimento a gente vai ter”

Larissa Polejack,
doutora em psicologia e diretora de Atenção à Saúde da Comunidade da Universidade de Brasília (UnB)

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Ibaneis reúne-se com secretários

 (crédito: Renato Alves/Agencia Brasilia)
crédito: Renato Alves/Agencia Brasilia

Diagnosticado com covid-19 na última terça-feira, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), não parou as atividades à frente do Executivo local. Com sintomas leves e em isolamento, em casa, Ibaneis aproveitou para convocar uma reunião com todo o primeiro escalão do governo a fim de debater as ações em cada secretaria. O encontro ocorreu ontem, por videoconferência, e durou mais de quatro horas. O vice-governador, Paco Britto (Avante), também participou.
Foram abordados assuntos sociais, de saúde, infraestrutura, economia, meio ambiente, entre outros. Um dos destaques que o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, apontou foi a possibilidade de trazer para o DF a vacina russa Sputnik V, contra a covid-19, para fase de testes e estudos. Porém, de acordo com representantes do governo, não há nada definido sobre o assunto. Okumoto aproveitou a ocasião para comemorar os 1.500 pacientes recuperados do hospital de campanha instalado no Mané Garrincha.

Ações

A reforma nas escolas públicas, durante o período que as aulas presenciais estão suspensas em razão da pandemia, também foi discutido na reunião. A Secretaria de Obras ressaltou as intervenções que estão sendo feita na capital. São 385 obras concluídas ou em andamento, em diversos pontos do Distrito Federal.
O secretário do Meio Ambiente, Sarney Filho, informou ao governador Ibaneis Rocha que a Central de Triagem e Reciclagem, na região da Estrutural, está perto de inaugurar. O espaço atenderá a centenas de catadores na região.
A primeira-dama do DF e secretária de Desenvolvimento Social, Mayara Noronha Rocha, ressaltou ações como o programa Prato Cheio e o acolhimento das pessoas em situação de rua. Na área da Segurança Pública, um dos tópicos abordados foi a instalação de mais câmeras de monitoramento pelas ruas do DF. De acordo com o secretário Anderson Torres, até o final do ano, toda a capital estará sob monitoramento. Atualmente, há 877 equipamentos instalados.
A Secretaria de Economia adiantou que o Governo do Distrito Federal (GDF) vai conseguir investir todo o seu orçamento previsto até o fim do ano. Por ora, foram empenhados R$ 28 milhões, de um total de R$ 43 milhões.

DF: 2,6 mil vítimas

Desde o início da pandemia do novo coronavírus na capital, a Secretaria de Saúde contabilizou mais de 2,6 mil mortes de moradores do Distrito Federal pela covid-19. O dado é referente ao último balanço da pasta, divulgado ontem, que registrou 30 vítimas da doença nas últimas 24 horas. Desses, um era morador do Entorno. Ao todo, são 2.843 óbitos por complicações da covid-19 em hospitais da capital.
A maioria das mortes notificadas ontem ocorreu em dias anteriores. Na terça e quarta-feira, 20 pessoas faleceram com suspeita de covid-19, a confirmação, por meio de laudo médico, saiu ontem. A faixa etária com maior incidência de letalidade é acima dos 80 anos, 12 pacientes desse grupo morreram recentemente. A maioria apresentava algum tipo de comorbidade, como doença cardiovascular e distúrbios metabólicos.
O Distrito Federal registrou 923 infecções do novo coronavírus, nas últimas 24 horas, e chegou à marca de 173.631 ocorrências. Desse total, 92,1% são pacientes considerados recuperados. De acordo com o levantamento da secretaria, a maior incidência de mortes está entre os homens, com 59,3%. No entanto, as mulheres são maioria entre os contaminados (53,6%). Pessoas entre 30 e 49 anos foram as que tiverem maior ocorrência da doença. Apesar de ser em menor proporção, 885 crianças menores de 2 anos na capital pegaram a infecção. De 2 a 10 anos o número sobe para 3.032.
Ceilândia segue como epicentro da doença, com 21.243 ocorrências. Taguatinga aparece em seguida, com 14.031 notificações e o Plano Piloto, com 13.755 pessoas que testaram positivo. As cidades com menor índice de casos são: SIA (68), Fercal (112) e Varjão (259). A Secretaria de Saúde investiga a região de outras 6.846 ocorrências do vírus.
O sistema carcerário soma 1.815 infectados. Já entre os servidores da segurança pública do Distrito Federal, 1.470 testaram positivo para o novo coronavírus. E 5.901 profissionais da saúde tiveram a doença. (CM)


92,1%

é a taxa de pacientes considerados recuperados da covid-19

João Bosco Borba, presidente da Anceabra

 (crédito: Reprodução/facebook )
crédito: Reprodução/facebook

Presidente da Associação Nacional dos Coletivos de Empresários afro-brasileiros (Anceabra), João Bosco Borba, 60 anos, morreu devido à covid-19 na noite dessa quarta-feira, em São Paulo. Diretor da entidade, Mário Nelson Carvalho confirmou o óbito do colega. Nas redes sociais, diversas mensagens de carinho ao brasiliense que teve forte participação em movimentos negros no Distrito Federal e militante pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
“As pessoas são insubstituíveis em sua existência, e quando são especiais, além da falta que fazem àqueles que as amam, deixam o mundo mais pobre. Sem o nosso amigo, o mundo perde um pouco do seu brilho, alegria e cor. Não temos palavras para expressar os nossos sentimentos. Pedimos a Deus que conforte o coração dos familiares e amigos neste momento de dor”, diz uma das publicações. “Agradecemos a sua dedicação às causas sociais e pela luta incansável em defesa de uma sociedade digna, fraterna e igualitária. Jamais esqueceremos da sua força, gentileza e sabedoria”, finaliza o texto.
João Bosco Borba atuava, também, como psicanalista clínico e infantil, além de ser fisioterapeuta. Ele era pós-graduado em psicomotricidade e desenvolvia trabalhos como terapeuta corporal com ênfase em bioenergética — um tipo de terapia que utiliza de exercícios físicos específicos aliados com técnicas de respiração.

Drive-thru solidário

O shopping Conjunto Nacional faz uma campanha para arrecadação de alimentos não perecíveis. Quem doar dois quilos leva para casa uma máscara de tecido da marca Puket. Ao todo, são 800 máscaras coloridas disponíveis e a campanha ocorrerá até 30 de novembro, ou enquanto durarem os estoques. Os alimentos arrecadados serão doados para a Casa Azul, uma organização sem fins lucrativos que atende a crianças e adolescentes de Samambaia, Riacho Fundo II, São Sebastião e Vila Telebrasília. As doações funcionam por drive-thru: basta ir ao guichê de pagamento do estacionamento coberto do shopping para fazer a troca pelo brinde. Podem ser doados itens como arroz, feijão, açúcar, macarrão, óleo e leite.

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