Coronavírus

Síndrome do olho seco pode aumentar exposição ao coronavírus

O período de seca favorece a síndrome do olho seco, irritação que pode, entre outras consequências, aumentar exposição ao coronavírus. Problemas respiratórios e nos rins também são possíveis complicações. O melhor remédio é se manter hidratado

Tainá Seixas
postado em 14/09/2020 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Céu azul, cidade pintada de amarelo por ipês floridos e pessoas aproveitando o ambiente ao ar livre. Esse é o retrato atual de Brasília, que caminha para os 120 dias sem chuva. Contudo, apesar de propiciar belas fotografias, a estiagem pode favorecer, também, o desencadeamento de problemas de saúde.

Além dos costumeiros sintomas de pele seca, rachadura nos lábios e sensação de sede mais frequente, os olhos são impactados pela baixa umidade do ar. A síndrome do olho seco trata-se de uma inflamação devido a alterações na composição ou produção das lágrimas e afeta muitas pessoas, em especial durante a seca, que promove a evaporação.

“A lágrima tem uma composição de 90% de água e é importante para a lubrificação do olho, além de ter células protetoras contra agentes infecciosos. Brasília tem um clima mais seco, o que favorece, sem dúvida nenhuma, o ressecamento dos olhos”, explica o médico Rodrigo Pegado, da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.

Micheline Borges Lucas, oftalmologista especialista em córnea e doenças externas do olho do Hospital dos Olhos (Inob), explica que o filme lacrimal é a primeira proteção que preserva o órgão contra agressões do meio ambiente. Essa camada fica alterada no período de estiagem, o que acarreta em redução na capacidade de preservação.

Com isso, as pessoas podem perceber vermelhidão na área e sentir maior necessidade de levar a mão aos olhos para coçá-los – o que é fortemente desencorajado em tempos de pandemia. Por serem considerados porta de entrada para o novo coronavírus, é importante assegurar-se, sempre, de que as mãos estão limpas antes de fazê-lo.

A médica afirma que o estado de irritabilidade do olho pode, inclusive, aumentar os riscos de infecção. “Se a pessoa está com o olho irritado, tem mais receptores nessas células e pode se contaminar mais facilmente”, justifica.

Precauções

Para diminuir riscos de contaminação e os efeitos da seca, especialistas recomendam cuidados especiais neste período. Em primeiro lugar, é importante o uso de colírio para garantir a lubrificação da área. O ato de piscar é uma forma de lubrificação natural, então, lembrar de fazê-lo, de tempos em tempos, pode ser uma solução.

Outro fator importante é reduzir a exposição às telas de computadores, tablets e smartphones, que contribuem para o ressecamento da córnea, uma vez que piscamos menos ao utilizá-los. Como, no mundo moderno, a exposição a esses equipamentos eletrônicos é praticamente inevitável, Micheline Borges recomenda uma pausa de 10 minutos, a cada uma hora no trabalho. O importante, no entanto, é descansar os olhos — ou seja, a pausa do computador não pode envolver passar o tempo no celular.

A qualidade e a produção das lágrimas vão diminuindo com o tempo, portanto, pessoas mais velhas estão mais suscetíveis ao problema. “Estimamos que cerca de 30% das pessoas desenvolvam a síndrome do olho seco. Sabe-se que, depois do 70 anos, esse percentual praticamente dobra. Isso porque ocorre uma redução natural do componente aquoso da lágrima”, avalia Rodrigo Pegado.

No entanto, devido à crescente exposição dos jovens às telas — em especial durante a pandemia —, a aparição de sinais de inflamação e irritação nos olhos dos pequenos também preocupa os especialistas. “É muito frequente, com o envelhecimento, agravarem os sintomas do olho seco. Mas, com a exposição das crianças à tela aumentou muito as queixas delas de olho vermelho ao fim do dia. A gente tem que tomar conta das crianças”, completa Micheline.

Colírio em mãos

A analista de operações Paula Lins, 28 anos, precisa sempre manter cuidados especiais em relação aos olhos. Ela já teve princípio de glaucoma e lida com uma doença crônica chamada uveíte, uma inflamação que causa vermelhidão na parte branca do órgão. Com isso, o uso de colírio deve ser constante.

Neste período de seca, a medida precisou ser intensificada. Ela passou a lubrificar os olhos com o colírio quatro vezes por dia; para a uveíte, o uso do remédio é de duas em duas horas. “Da última vez que fui ao médico, ele falou que meu olho estava um pouco ressecado e que eu deveria utilizar mais o colírio. Depois de tudo que eu tive, todo cuidado com os olhos não é pouco”, explica a moradora da Asa Norte.

Além dos olhos

Mas, não é só a visão que pode ser impactada pela seca. Problemas respiratórios são mais comuns durante o período de estiagem. Com a redução da umidade e o aumento das temperaturas, há maior prevalência de doenças como sinusite, rinite, faringite, bronquite e asma. “Isso se deve à maior concentração de poluentes e agentes como bactérias e vírus, acompanhados da redução da proteção de via aérea pela redução da hidratação”, explica Larissa Camargo, otorrinolaringologista.

Maior incidência de cálculos renais e infecção urinária também são consequências do clima. Responsáveis por filtrar o sangue, os rins necessitam da água para desempenhar a função. Se há desidratação, moléculas retidas pelo órgão, como cálcio, ácido úrico e oxalato, acumulam-se, formando pedras que podem causar dores intensas. Além disso, a pouca ingestão de água pode deixar a urina mais concentrada, formando um ambiente com mais bactérias que, se agressivas, podem gerar infecções.

A nefrologista Maria Letícia Cascelli explica que, devido à pandemia e ao necessário uso de máscaras, as pessoas acabaram reduzindo o consumo de água. “A gente foi habituado a usar as máscaras, e essa educação resultou em detrimento de manter a hidratação. A pessoa acaba se acomodando e esquecendo que o organismo continua precisando de água”, analisa.

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