violência contra a mulher

"Corri sangrando por 500 metros", diz mulher esfaqueada pelo ex em Planaltina

Autora de contos que alertam mulheres para os riscos da violência doméstica, professora do DF se tornou vítima de tentativa de feminicídio 12 anos após rompimento de namoro

Renato Souza
postado em 15/09/2020 12:36 / atualizado em 15/09/2020 13:10
 (crédito: Cristiano Gomes/CB/D.A Press)
(crédito: Cristiano Gomes/CB/D.A Press)

Uma professora de 31 anos foi esfaqueada pelo ex-namorado no Vale do Amanhecer, em Planaltina, no último domingo (13). O homem começou a perseguir a vítima em junho, depois que ela voltou para a casa da avó em razão da pandemia de coronavírus. Ela estava morando em Taguatinga, mas por conta do isolamento, decidiu retornar temporariamente para a casa da família. O relacionamento de ambos havia terminado há 12 anos.

Em conversa com o Correio, a educadora contou detalhes do crime e disse que as ameaças começaram assim que ele notou a presença dela na região de Planaltina. “Nós tivemos algo simples e passageiro há 12 anos. Em junho, quando eu voltei, ele veio atrás e eu disse que queria ele longe, que não queria nem a amizade dele”, explica. A professora conta que, após isso, o ex começou a mandar mensagens ameaçadoras.

A vítima, foi atingida em um bar próximo de casa, quando fazia as unhas. “A dona do bar é manicure também. Ela não pode ir até a minha casa, pois o estabelecimento estava aberto”, disse. A professora foi surpreendida com a chegada do ex-namorado, já com a faca nas mãos. “Quando eu vi ele com a faca, fui pra cima, tentar segurá-lo. Quando consegui um espaço, sai correndo. Foi nesse momento que ele me atingiu. Uma das facadas, nas costas, perfurou o pulmão esquerdo. Então eu saí, desesperada. Eu corri sangrando por 500 metros, pedindo ajuda para os vizinhos”, contou.

A professora está internada em um hospital público do DF e não corre risco de morte. De acordo com boletim médico, a faca passou a menos de 1 centímetro do coração.

O homem foi preso em flagrante, horas após o crime, por policiais da 16ª Delegacia de Planaltina, próximo a uma cachoeira da região. Segundo a Polícia Civil, ele ainda estava com a faca usada no crime. O caso foi enquadrado na lei Maria da Penha por conta do relacionamento que eles tiveram no passado.


Da ficção à realidade

Entre histórias reais e contos imaginários, a professora publica na internet textos com o objetivo de alertar para a violência contra a mulher. Quando era mais jovem, a vítima chegou a se envolver com droga e foi presa na Bahia. Ao sair do encarceramento, ela se dedicou a escrever para afastar as pessoas do mundo do crime e alertar para situações de violência. Uma das postagens, que conta parte da história dela e mistura elementos de ficção, tem 84 mil leituras na internet.

Apesar de escrever sobre o tema, a moradora conta que nunca havia passado por uma situação do tipo. “Eu resolvi fazer textos sobre isso, motivar as mulheres a denunciar, e agora aconteceu comigo. Mas ainda bem que estou viva, e por isso estou aqui contando para o mundo o que aconteceu”, completou.

Em um dos textos, um romance chamado “Doce Veneno de Cascavel”, a escritora conta a história de uma mulher que vive em um relacionamento abusivo, mas tem medo de terminar por conta de ameaças do marido. O roteiro, com 25 capítulos, se entrelaça com o temor vivido por milhares de vítimas de violência doméstica em todo o país.

Como pedir ajuda

Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência — Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República
Telefone: 180 (disque-denúncia)

Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)
» De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
» Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)
» Entrequadra 204/205 Sul - Asa Sul
(61) 3207-6172

Disque 100 — Ministério dos Direitos Humanos
Telefone: 100



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