Natureza

Em meio ao isolamento, o brasiliense descobre a beleza dos pássaros

Em meio ao isolamento social, o brasiliense descobre a beleza de dar comida às aves que vêm pousar no quintal de casa ou na varanda. Saiba como alimentar os bichinhos

Thalyta Guerra*
postado em 20/09/2020 06:00
 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)

Cultivar plantas dentro de casa tem sido uma boa terapia para quem vive em isolamento em meio à pandemia do novo coronavírus. Além disso, para quem aprecia estar sempre perto da natureza, é possível atrair os pássaros para o jardim, quintal ou varanda. Assim, alimentar os pássaros que visitam esses espaços também permite que os bichinhos se sintam mais próximos ao cenário natural encontrado no cerrado. Cantoria de manhã, por exemplo, não falta.

Há quem gosta de alimentar os pássaros desde antes da pandemia, no entanto, a observação e o apreço pelas espécies se tornou uma distração maior em meio à tensão pela situação em que vivemos. A moradora do Guará, Bruna Siqueira, 24 anos, cresceu assistindo aos avós alimentarem os pássaros por meio de uma prática que ela segue até hoje. “Meu avós tinham esse hábito desde a década de 1970, a minha casa sempre foi ponto de referência para essas aves. Aqui a gente coloca mamão ao lado de um recipiente com água e fizemos um jardim com pé de pinha, bananeira e flores”, conta. Eu e meus avós adoramos sentar na varanda e ficar observando o comportamento deles. Durante o isolamento, isso está sendo uma boa distração para nós”, afirma. “O sabiá-laranjeira, sabiá-do-campo, o bem-te-vi e as rolinhas são os que mais aparecem”, observa.

Casinha

Há quatro anos, o professor Eduardo Bessa alimenta os pássaros com alpiste e grãos numa casinha improvisada no quintal de casa. Segundo ele, os passarinhos que comem grãos são os que mais aparecem, no entanto, há também aqueles que adoram as frutas. Cultivar plantas com flores, árvores frutíferas ou com sementes atrativas também é uma boa opção para alimentar os visitantes. “Aqui em casa eles comem muita jabuticaba, também tenho pés de amora, pitanga e manga, por exemplo. Além disso, percebi que eles usaram ramos de uma planta chamada barba de velho para criar ninhos. É muito bacana poder ter esses bichinhos por perto, traz uma sensação de bem-estar, especialmente neste período em que estamos traumatizados, presos e angustiados, o que mais aparecem são as rolinhas, canarinhos e os periquitos. O pica-pau e o alma-de-gato são raros por aqui”, lembra.

Especialista em aves, Mariana de Carvalho destaca que cada espécie tem um cardápio de alimentos parecidos. “Não existe uma regra, as pessoas podem colocar grãos como sementes de girassol ou alpiste, além das frutas ou plantas frutíferas no quintal”, explica. Mariana ressalta que os alimentos devem ser oferecidos com consciência, não deixando as frutas apodrecendo e nem expostas ao sol. “Não é prejudicial oferecer alimentos de forma consciente, o ideal é que não deixe os alimentos expostos ao sol e apodrecendo no comedouro”, finaliza. Além dos alimentos comprados em aviculturas, a ornitóloga Lia Kajiki afirma que as melhores opções de alimentos para oferecer são frutas em geral, mas especialmente, a banana e o mamão são frutos que atraem muitos pássaros. “Banana, mamão, caqui, abacate, laranja são frutos que podem ser oferecidos”, acrescenta.


Fernanda Fernandes: "Como sempre fui ligada à natureza, eu e meu irmão idealizamos um espaço para atraí-los cada vez mais"
Fernanda Fernandes: "Como sempre fui ligada à natureza, eu e meu irmão idealizamos um espaço para atraí-los cada vez mais" (foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press)


A aposentada Fernanda Fernandes, 61, criou um verdadeiro aconchego para ter os passarinhos o mais próximo possível. Ela transformou o quintal em um ambiente agradável para as aves, em troca, despertou a paixão por fotografar as espécies que surgiam. “Antes, o lote era só capim. Como sempre fui ligada à natureza, eu e o meu irmão idealizamos um espaço para atraí-los cada vez mais”, lembra. No quintal de casa, Fernanda cultivou plantas especialmente para a alimentação dos pássaros. A calabura e a erva-de-passarinho, por exemplo, são plantas que as aves adoram. “O que eles mais amam comer é banana e mamão”, destaca a aposentada.

Para Lia Kajiki, as plantas frutíferas são as preferidas das aves. Aqui, na região do cerrado, de acordo com Lia, o pequizeiro também é uma espécie de planta do bioma que atrai muitos pássaros. “Não pelo pequi em si, mas a flor do pequizeiro é fonte de néctar e seduz muitas espécies, como o saí-azul, periquito-de-encontro-amarelo, saíra-amarela, cambacica, entre muitas outras”, enumera.

Para não espantar as aves, os admiradores desta prática precisam estar atentos aos cuidados relacionados à limpeza desses ambientes destinados aos bichinhos. “O interessante é manter o ambiente limpo, para que não ocorra nenhuma doença para os bichinhos. A pessoa deve oferecer o alimento de forma consciente, não deixando os alimentos apodrecendo no comedouro. Quando eles encontram esse tipo de ambiente, eles deixam de visitar o local”, alerta. “Bebedouros devem ser colocados em local sombreado, e a limpeza deve ser preferencialmente diária, ou no máximo a cada dois dias”, completa Lia Kajiki.

Para os beija-flores, é comum que as pessoas deixem um bebedouro com água e açúcar. No entanto, quando adicionado o adoçante à água dos bichinhos é preciso adotar alguns cuidados. “A água com açúcar precisa ser substituída mais vezes do que a água natural. Essa mistura em contato com o sol faz com que ocorra uma fermentação. Por isso, o mais indicado é comprar produtos em lojas veterinárias que possuem sabor semelhante ao néctar”, explica.

Por isso, a Lia Kajiki reforça as orientações. “Nos bebedouros pode-se colocar açúcar na água para atrair os beija-flores, porém use apenas o açúcar cristal na proporção de quatro partes de água para uma parte de açúcar. Outros adoçantes como mel, melaço, açúcar mascavo não devem ser usados, pois os beija-flores não conseguem digerir bem”, alerta.

Apaixonada por plantas, a professora Gabriela Pimenta, 36, estava com dificuldades em manter as plantas saudáveis por causa das lagartas que apareceram na horta de casa. No entanto, ao invés de aplicar venenos, a solução foi atrair os pássaros para que eles pudessem se alimentar delas. “As lagartas tornavam-se lindas borboletas, por isso, não queria matá-las. Foi daí que surgiu a ideia de atrair os bichinhos voadores para o meu quintal”, explica.

Além de se alimentar da própria horta, Gabriela contribui para a interação e alimentação dos pássaros na região. “Aqui vem um pássaro preto que é cego e um dia presenciei um pardal colocando alimentos no bico dele. É um privilégio ter um jardim em casa e ainda por cima ajudar os passarinhos”, conta.

Autorização

No Brasil, a criação de animais silvestres só é permitida com a autorização do órgão ambiental competente, sendo proibida a captura dessas espécies na natureza. Por isso, ao atrair as aves para dentro de casa, é importante não adquirir contato direto com esses animais. As aves costumam ser muito ariscas com a aproximação de humanos, por isso o contato direto costuma ser difícil, pois elas normalmente se distanciam, afirma a ornitóloga Lia Kajiki. “Agora estamos no início da estação reprodutiva de muitas aves, e cuidado especial deve ser tomado em relação a ninhos — muitas espécies de aves nidificam no chão (como a coruja-buraqueira e o quero-quero) ou em baixa altura (como o ferreirinho-relógio)”, explica

Aqueles que possuem animais domésticos, devem manter alguns cuidados caso queiram receber a visita dos pássaros. “Ao encontrar um ninho, não se aproxime ou perturbe o ambiente, pois os parentais podem abandoná-lo ao se sentirem ameaçados ou o ninho pode ser facilmente encontrados pelos predadores”, aconselha.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira


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  • Uma festa matinal
    Uma festa matinal Foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press
  • Fernanda Fernandes
    Fernanda Fernandes Foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press

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