O isolamento social que a pandemia do novo coronavírus trouxe afetou a qualidade de vida dos brasilienses e elevou o sedentarismo da população. Isso é o que afirmam especialistas entrevistados pelo Correio. Segundo eles, o teletrabalho e o confinamento em casa acarretaram na diminuição da rotina de exercícios físicos e acendeu o alerta sobre a importância de se abordar o tema.
“Se a gente não se adaptar a essa nova realidade, vamos sofrer muito no futuro. É necessário que a população se conscientize de que a pandemia não é um motivo para deixar de praticar atividades físicas, mas, sim, de criar uma nova meta de gasto calórico”, afirma o professor e coordenador de Educação Física do Centro Universitário Iesb, Sérgio Avelino.
De acordo com Sérgio, os índices de sedentarismo ficaram piores na capital devido à mudança no estilo de vida dos indivíduos. “Atrelado a isso, intensificou-se problemas de ansiedade, maior ingestão de álcool e alimentação desequilibrada. As pessoas perderam a motivação de fazer atividades físicas, porque a rotina foi alterada e as práticas de exercício deixaram de ser constantes”, avalia.
Foi o que aconteceu com a professora Fabiana Bastos, 35 anos, nos primeiros meses de isolamento social. “No início, não praticava nenhum esporte. Minha energia era toda para as minhas duas filhas e com os cuidados da casa. Essa época de adaptação foi difícil, ainda mais porque estávamos bem apreensivos com o vírus”, conta. Em maio, o diagnóstico positivo para a covid-19 a pegou de surpresa. “Mesmo com sintomas leves, fiquei muito cansada e ofegante e precisava me recuperar”, completa.
Um mês depois, quando voltou a trabalhar, na modalidade a distância, Fabiana tomou a decisão de retomar as atividades físicas, em casa. “Já estou há dois meses fazendo aulas on-line e não pretendo parar. Desde que comecei, sinto-me com mais energia e disposição. As práticas me ajudaram mentalmente e fizeram com que eu me sentisse melhor”, garante Fabiana, que, eventualmente, tem a companhia das filhas Ana Júlia Bastos Durães, 8, e Isabela Bastos, 1, na hora dos exercícios.
Preocupação
De acordo com a última pesquisa divulgada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em 2017, a população do Distrito Federal foi considerada a que mais pratica esportes e atividade física no Brasil. Porém, a presidente do Sindicato das Academias do DF (Sindac-DF), Thaís Yeleni Ferreira, destaca que os hábitos mudaram com pandemia. “Nem 30% das pessoas retornaram para as academias. A situação nos preocupa, principalmente porque a prática de atividades físicas previne diversas comorbidades”, salienta a profissional.
Uma das soluções pensadas pelo consultor fitness Thiago Carlos da Silva, 36, para garantir que os alunos continuassem a malhar foi iniciar o projeto Quarentena Fit, de forma totalmente on-line. “Além da motivação das aulas que têm, em média, duração de 50 minutos ao vivo e em grupo, outro grande diferencial é a variação de exercícios, muitas vezes adaptados com acessórios da casa do aluno, como galões, cadeiras, entre outros”, explica Thiago. “As pessoas descobriram que é possível se exercitar em casa e com o peso do próprio corpo. Sempre digo que qualquer atividade é válida, desde que a pessoa se mantenha em movimento”, aconselha o professor.
Também usando o mundo virtual, os docentes do curso de Fisioterapia da Universidade de Brasília (UnB) Aline Martins de Toledo, Rodrigo Luiz Carregaro, Fernanda Pasinato e Luisiane de Avila Santana desenvolveram o projeto Exercícios Físicos Domiciliares e Práticas de Educação em Saúde: estratégias de enfrentamento durante a pandemia pela covid-19. Com a participação de 25 alunos de graduação e pós-graduação, o objetivo do grupo CONSCiênci@ é tornar acessível discussões sobre exercícios, orientações e outras atividades domiciliares que possam contribuir para a manutenção da saúde das pessoas.
O projeto destina-se a pessoas com dores musculoesqueléticas crônicas, familiares ou cuidadores de lactentes e crianças com ou sem disfunções neuromotoras, além de pacientes de diabetes. “A gente utiliza a rede social do Instagram (@pconscienciaunb) e do YouTube para disponibilizar materiais sobre rotina de exercícios e traduzir informações científicas em saúde para a população”, explica a coordenadora do projeto, Aline Martins.
Segundo Rodrigo Luiz Carregaro, também à frente da iniciativa, falar sobre atividade física neste período de crise sanitária é fundamental: “Se analisarmos o perfil de muitos profissionais na pandemia, vamos perceber um trabalho mais sedentário, no qual a pessoas fica horas sentada em frente ao computador. E mostrar que é possível e necessário fazer exercícios em casa tornou-se um compromisso nosso. As atividades afetam diretamente na saúde e diminui a chance do indivíduo a desenvolver outras doenças”, acrescenta o professor.
Os pesquisadores do projeto chamam a atenção para a importância de incentivar as crianças a realizarem atividades como pular, correr, ultrapassar obstáculos e dançar. “Embora mudar a rotina pareça difícil, os pais podem ir aos poucos adicionando comportamentos que vão ajudar a criança a ser mais saudável, ativa e forte. A pandemia traz muitas consequências para as crianças, e é necessário incentivá-las ainda mais neste período de confinamento”, finaliza a professora Aline Martins.
Saúde
A pessoa sedentária fica mais vulnerável a quais doenças?
Hipertensão
Diabetes
Doenças crônicas
Ansiedade
Depressão
Exercícios para fazer durante a pandemia
Pular corda
Polichinelos
Subir e descer escadas
Burpee simplificado
Fonte: grupo CONSCiênci@
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Bombeiro morre por covid-19
Nas últimas 24 horas, o Distrito Federal registrou mais 11 mortes por covid-19, segundo o boletim epidemiológico publicado diariamente pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Mas, não são só números: cada uma dessas vidas perdidas tem uma história. E uma delas é a de Wanderlan Gonçalves da Silva, 47 anos, o primeiro bombeiro na ativa morto pelo coronavírus no DF.
Silva era 1° sargento do 17° Grupamento de Bombeiro Militar, localizado em São Sebastião. Em nota, o Corpo de Bombeiros lamentou a perda e confortou a família. “Apresentamos nossas condolências à família e aos amigos, desejando que Deus possa confortar cada um e receber nosso combatente em sua morada”, diz a nota.
O bombeiro foi sepultado na tarde de ontem. Ele deixa a esposa, dois irmãos e sobrinhos. A sobrinha Dhéssica Gonçalves conta que ele era uma pessoa brincalhona, que sempre tirava o melhor até das situações ruins. “Se ele estivesse aqui com a gente, passando por isso, estaria levantando o astral de todo mundo”, garante.
Mais de 183 mil casos
O boletim divulgado, ontem, pela SES-DF registra mais 9.432 novos casos de infecção pela covid-19 no DF, totalizando 183.096 pessoas contaminadas. No entanto, o novo coronavírus continua ativo apenas em 8.437 pacientes (4,6%). Os outros 171.611 (93,7 %) estão recuperados.
Desde o início da pandemia, já foram 3.048 óbitos — 1,7% do total de infectados morreram; 2.795 pacientes residiam no DF; e 253 moravam em outras unidades da federação. Das 11 mortes registradas no último boletim, duas eram de pessoas de fora da capital.
Embora registradas só ontem, as mortes não aconteceram nessa data. Elas estão compreendidas no período entre 22 de julho e 18 de setembro. Segundo o boletim, apenas um dos falecimentos não foi nesse mês. As outras 10 foram entre os dias 3 e 18 de setembro, sendo que seis delas foram no último dia 18 (sexta-feira).
Das 11 vítimas, três eram mulheres e oito, homens. Em relação à faixa etária, seis deles tinham mais de 60 anos. Só uma das pessoas não apresentava comorbidades. A mais comum delas são os problemas cardiovasculares, presente em 70% dos casos, seguida por síndrome metabólica.
Por região
Ceilândia ainda lidera o ranking de regiões do DF com mais casos do novo coronavírus, totalizando 21.468 infectados; 525 pessoas já morreram pela covid-19 na cidade, sendo três desses óbitos registrados nas últimas 24 horas. Taguatinga, com 19.595 casos e 307 mortos, e Plano Piloto, com 14.434 notificações e 203 mortes, aparecem na sequência.
9.432
diagnósticos do novo coronavírus registrados, ontem, no Distrito Federal