O que celebras?
A mente é um vazio de ideias povoado por preocupações. Às vezes, eu me sinto refém do que deveria ajudar a organizar os pensamentos e a rotina. Diante das telas e da imensidão de dados e de informações camuflando algoritmos e sistemas binários, não passo de máquina à procura de um porto para ancorar. Pode ser a foto de um amigo querido, a mensagem de um parente, ou até mesmo um texto instigante.
Desde pequena, e isso se repete incessantemente em todas a idades vividas até agora, entro num cômodo e me esqueço o que ia fazer. É como se a porta representasse a entrada em outra dimensão e deletasse da memória aquilo que segundos atrás era claro, evidente, cristalino. Nesse momento, sempre uso a mesma tática (quase) infalível: abrir a geladeira. Quem nunca abriu a geladeira para pensar?
Fui fazer a pergunta ao “doutor Google” e comprovei que a prática está longe de ser exclusividade do meu ser desnorteado. Como resultado da pesquisa, aparece quem questione o porquê do fenômeno ou dê explicações do motivo para ele acontecer, sátiras e até orientações sobre como evitá-lo, com o objetivo de economizar energia elétrica.
Sim, caro leitor, mesmo nos comportamentos mais peculiares somos extremamente previsíveis. Imagino, portanto, que muitos devem estar se sentindo como eu. Em busca de ponto de apoio para ajustar o raciocínio e encontrar dias mais produtivos. Sabe a sensação de dever cumprido? É isso.
Só penso que andamos usando a bússola errada. Os tablets, smartphones e computadores em nossas mãos teimam em nos enganar. Eles até podem ser as pontes necessárias para encontrar as respostas, essencialmente num momento em que o distanciamento representa ato de amor na maior parte das vezes. São a porta da geladeira aberta, mas não a solução.
Algumas notas mentais que podem ajudar a lembrar que o importante mesmo é achar o pote de doce de leite e saboreá-lo sem pudores: tirar um momento no dia para fazer absolutamente nada — e não se culpar por isso; hidratar a pele e tomar bastante água; manter o diálogo com família, amigos e colegas de trabalho, ainda que a distância atrapalhe; manter a mente ativa vai além de acompanhar o noticiário, vale também se divertir, jogar baralho e fazer palavras cruzadas.
Mais do que tudo isso, é preciso se lembrar de celebrar. Alegrias, saúde, recuperação. Momentos de paz. Comida farta à mesa, um café fresquinho ao amanhecer. O amanhecer. Hoje, eu celebrei a vida. E você?
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