O Distrito Federal contempla uma grande diversidade de fauna e flora do cerrado. Animais como onça-parda, veado, lobo-guará, jaguatirica e cachorro-do-mato são algumas das espécies encontradas com mais frequência na capital, principalmente, dentro das unidades de conservação ambiental ou próximas dessas localidades. No entanto, com o crescimento urbano e a necessidade de duplicação de rodovias, criou-se uma problemática: o atropelamento de bichos em BRs que cortam o DF.
Entre os anos de 2010 e 2015, o biólogo Rodrigo Augusto Lima Santos realizou, junto com equipe do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), um mapeamento dos principais pontos com maior incidência de atropelamento de fauna. Durante o período da pesquisa, foram contabilizados 5.355 animais atingidos por veículos em rodovias da capital. Desse quantitativo, 4.422 eram silvestres.
As aves foram as mais atingidas, com 3.009 registros (68%), seguidas de répteis, com 690 (16%), mamíferos com 448 (10%), e anfíbios, com 274 (6%). As áreas monitoradas no estudo foram rodovias próximas a unidades de conservação como a Estação Ecológica Águas Emendadas (Esecae), o Parque Nacional de Brasília, o Jardim Botânico de Brasília, a Reserva Ecológica do IBGE e a Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília.
Rodrigo conta que, em todo o Distrito Federal, a estimativa é de 106 mil animais atropelados por ano em vias da capital. Atualmente, o Ibram não realiza esse tipo de monitoramento. Levantamento feito pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) apontou que apenas nos meses de janeiro a agosto deste ano foram registrados 17 ocorrências nas BR-020, BR-040, BR-060, BR-070. No mesmo período do ano passado, 12 animais morreram após serem atingidos por algum veículo.
Esse número pode ser maior, pois nem todas as ocorrências são notificadas pela PRF. Para mitigar o risco e preservar a vida da fauna que transita nas unidades de conservação ambiental do DF, uma alternativa foi implementada. A passagem de fauna, subterrânea ou de direcionamento com cerca, é uma das apostas para reduzir a incidência de animais atropelados nas rodovias.
Passagem de fauna
De acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF), há sete passagens de fauna instaladas em vários pontos da capital, quatro são subterrâneas e três são corredores de direcionamento com alambrado. O diretor de Meio Ambiente do órgão, Carlos Angelim, explica que existe a previsão para a implementação de mais quatro intervenções como essa: uma na Epia na DF-003 no Ribeirão do Torto e três próximas ao Poço Azul.
No ano passado, foi entregue a passagem de fauna do Córrego Fumal, na Estação Ecológica de Águas Emendadas (Esecae) — uma das principais áreas de conservação do Distrito Federal. No primeiro dia, após entregue, biólogos da unidade encontraram vestígios da presença de lobo-guará e onça-parda. O local tem 200 metros de comprimento e dois de diâmetro.
Para assegurar a travessia dos animais pela passagem de fauna, foi colocada uma barreira de direcionamento, feita de alambrado. Menos de um mês depois, os 200 metros da cerca foram furtados, dificultando o trabalho de preservação. Também há vestígios de pessoas utilizando a passagem com a presença de lixo urbano.
“A fauna está bastante protegida dentro da unidade de conservação. Aqui tem uma grande diversidade de animais que acabam atravessando a BR-020 para buscar alimento. Por isso é importante a construção dessas passagens de fauna, as pessoas precisam respeitar esse espaço. A presença humana também inibe os animais de passarem por ali”, ressalta o administrador da Estação Ecológica de Águas Emendadas, Gesisleu Darc Jacinto.
Furtos
Na última semana, o DER implementou mais 2 mil metros de alambrado em outros pontos da unidade de conservação. A parte onde houve o furto não foi reposta, a equipe de monitoramento da Esecae pretende instalar câmeras para identificar quem está retirando a cerca. O autor do furto, quando identificado, vai responder criminalmente e terá que recolocar o alambrado.
“Esse é um problema que tivemos em todas as passagens de fauna. O alambrado não está ficando nem dois meses. Estamos verificando uma outra maneira de fazer esse direcionamento com outro tipo de material, com cerca-viva ou de pré-moldado”, destacou Carlos Angelim, diretor de Meio Ambiente do DER.
De acordo com ele, uma passagem dessa custa, em média, R$ 300 mil. E não vale a pena abrir outra licitação para repor o alambrado na parte furtada. “Há a possibilidade de quando tivermos um outro material definido, recolocar nos espaços onde não tem mais”, pontuou.
Para o biólogo Rodrigo Augusto Lima Santos, analista de atividade do Meio Ambiente do Ibram, a implementação dessas passagens representa uma grande vitória. “Foram anos para chegar até esse formato. E saber que minha pesquisa contribuiu para isso é muito gratificante”, ressalta.
Esecae
Localizada na região de Planaltina, a Estação Ecológica de Águas Emendadas é considerada por biólogos e ambientalistas um grande refúgio para animais ameaçados de extinção. Com mais de 10 hectares de cerrado preservado, o espaço abriga uma diversidade de fauna, com aparição até de onça-pintada. A variedade de pássaros e répteis que aparecem na unidade é enorme.
Ali, também é possível observar um fenômeno raro: duas nascentes afluem e seguem cada uma para uma direção desaguando nos principais rios e bacias brasileiras. A estação também é responsável pelo abastecimento de água de Sobradinho e Planaltina. A visitação é restrita apenas para educação ambiental e para estudos científicos.
Captura de javaporco
A proximidade com a rodovia trouxe uma situação inusitada para os biólogos e agentes ambientais que atuam na Estação Ecológica de Águas Emendadas. Em janeiro deste ano, foi notada a presença de um javaporco dentro da unidade de conservação. A espécie híbrida, mistura entre porco doméstico e javali, ameaça os animais silvestres da região.
Para evitar desequilíbrio ambiental, a equipe da unidade de conservação montou uma armadilha para capturar o animal. A gaiola, de 1,5 metro de altura e comprimento com um metro de largura, foi instalada em um ponto onde o bicho apareceu mais vezes.
Com uma espécie de acionamento de guilhotina, a armadilha ficará armada por 10 dias no mesmo local sob monitoramento 24h. Ainda não foi definida uma destinação para o animal. Essa é a primeira vez que aparece um javaporco na unidade de conservação, que já tem registros constantes de cães domésticos.
As 10 espécies mais registradas em situação de atropelamento em rodovias do DF no projeto Rodofauna, entre 2010 e 2015
Tiziu (ave) 1.221
Sapo cururu 190
Coruja buraqueira 114
Cobra de duas cabeças 103
Cascavel 93
Cachorro-do-mato 79
Anu Preto (ave) 63
Tesourinha (ave)61
Saruê (espécie de gambá) 61
Jiboia 58
Suindara (coruja) 56
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