Economia

Moradores do DF e Entorno encontram saco de arroz vendido por até R$ 30

Procon-DF recebeu reclamações de consumidores sobre a alta dos itens da cesta básica e visitou 593 supermercados para coletar dados, mas não encontrou abusividade nos preços

Nos últimos dias, o brasiliense tem percebido valores mais altos em itens básicos de alimentação nas prateleiras dos supermercados. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras), assim como sua representação no DF, diz que tem sofrido forte pressão do aumento nos preços de forma generalizada por uma conjuntura de fatores externos.

A dona de casa Geni Costa, 51 anos, também sentiu a forte pressão do aumento nos preços e fechou o negócio que garantia fonte de renda extra à família. No começo da pandemia, ela tinha uma micro-empresa de entrega de marmitas no Plano Piloto, mas, ao ver o lucro despencar, desistiu.

“Antes da pandemia, eu pagava R$ 8 num pacote de arroz da marca que eu usava. Na época (do início) da pandemia subiu para R$ 16, depois caiu de novo. Agora, está de R$ 20 a R$ 30, você acha de todo preço. E eu percebi que não foi só o arroz, subiu o açúcar, o feijão, o leite, o óleo. Então está havendo um abuso no aumento dos preços que precisa ser investigado”, declarou, indignada, a moradora da Asa Sul.

O Procon-DF informou que recebeu reclamações de consumidores sobre a alta dos itens da cesta básica e visitou 593 supermercados para coletar dados. Em nota, o órgão de defesa do consumidor disse que “foi detectada uma variação de preços comum entre as diversas regiões administrativas do Distrito Federal, mas não houve autuações por abusividade nos preços”.

No Entorno, os preços mais altos também foram percebidos. Neide Oliveira Santos, de Águas Lindas de Goiás, reclama: “De um mês para cá aumentou muito. Antes, nós comprávamos o arroz de R$ 13 ou R$ 14. Hoje, a gente foi comprar e o mais barato foi de R$ 20. Tem arroz até de R$ 30. Onde é que vamos parar desse jeito?”

Embora o aumento seja nítido, os institutos de pesquisa ainda não perceberam o acréscimo. No DF, a prévia da inflação indicou queda de 0,41% para o grupo alimentação e bebidas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já no país, o grupo alimentação e bebidas apresentou alta de 0,34% em agosto. O arroz, por exemplo, teve alta 2,22% no período. O Blog do Vicente adiantou que  a inflação dos alimentos deverá ficar em 10% este ano, resultado pelo menos quatro vezes superior às estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

A mais recente pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) também revela aumento no preço dos alimentos na maioria das capitais do país, com exceção do DF. Na variação do mês de agosto, Brasília apresentou redução de 1,48% no valor da cesta básica de alimentos.

Economia externa influencia

O supervisor técnico do Dieese no DF, Clóvis Scherer, explicou que os aumentos relatados pelos brasilienses  podem ter sido registrados após a conclusão do estudo, mas fatores externos têm pressionado os preços em todo o país. “Na variação dos últimos 12 meses, todas as capitais tiveram alta acima de 12%, com exceção de Brasília, que foi de 2,27%. Isso pode estar ligado a algum fator local, como um produto específico que tenha puxado para baixo. Mas os analistas estão apontando dois fatores na elevação dos preços: um deles é a taxa de câmbio, já que muitos produtos consumidos no Brasil são influenciados pelo dólar; e o outro é que, nos últimos meses, a China tem intensificado suas compras de produtos agrícolas primários brasileiros”, explicou o pesquisador ao Correio.

O Ministério da Agricultura (Mapa) também acompanha a situação e disse que a alta de preços da cesta básica, sobretudo com referência ao preço do arroz, é resultado da intensa valorização do grão no mercado produtor. Em nota, a pasta destacou que os fatores econômicos externos contribuem além de novas conjunturas agrícolas.

“Este movimento vem de diversos fatores somados aos efeitos da pandemia. Os elevados patamares de preço internacional anteriores à crise do covid-19, a expressiva exportação de janeiro até julho deste ano; a menor disponibilidade de importação de arroz dos parceiros do Mercosul; a redução de área plantada no Brasil com esta cultura nas últimas duas safras, resultado das baixas rentabilidades identificadas nos últimos anos; e o aumento da demanda pós-pandemia", destacou o ministério no texto.

A associação dos supermercados no Brasil (ASBRA) chama a atenção para o aumento da exportação assim como da demanda brasileira. “Alertamos para o desequilíbrio entre a oferta e a demanda no mercado interno para evitar transtornos no abastecimento da população, principalmente em momento de pandemia do novo coronavírus. O setor supermercadista tem se esforçado para manter os preços normalizados e vem garantindo o abastecimento regular desde o início da pandemia nas 90 mil lojas de todo o país”, diz a nota divulgada.

O Mapa destaca que o país tem estoque de alimentos para o mercado interno, porém grande parte do produto disponível encontra-se nas mãos de produtores bem capitalizados, que têm escalonado suas vendas em busca de preços mais remuneradores no atual período. O assunto também está sendo acompanhado pelo Palácio do Planalto, que montou uma tropa de choque para monitorar os preços dos alimentos.