Entrevista

"Ser orgânica é muito mais do que não usar veneno", diz a produtora Carla Burin

Segundo a empreendedora do agronegócio familiar e vegano, a capital está próxima da autossuficiência quando se fala em alimentos orgânicos

Ana Clara Avendaño*
postado em 03/10/2020 07:00
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O Distrito Federal tem cerca de 300 produtores rurais atuantes na agricultura orgânica, filiados ao Sindicato dos Produtores Orgânicos do Distrito Federal (Sindiorgânicos). De acordo com a empreendedora do agronegócio familiar e vegano Carla Burin, a capital está próxima da autossuficiência quando se fala em alimentos orgânicos. Em entrevista ao programa CB.Agro — parceria do Correio com a TV Brasília —, ela explicou como está a produção e a agroindústria de produtos saudáveis no Distrito Federal.

Como foi essa passagem de uma vida de servidora pública para empreendedora?

Foi uma virada, porque vi que eu precisava ajudar meu pai, que era quem tocava a propriedade, e sair da zona de conforto. Quando eu tomei esta decisão, decidi largar tudo que eu tinha para trás e empreender no mundo do agronegócio. Comecei a ver que o orgânico poderia ser uma oportunidade, já que a nossa propriedade tem uma área muito pequena, e, com isso, não conseguimos produzir em larga escala. Muitas vezes, a produção orgânica é salvação do pequeno produtor. Nós tínhamos uma sobra muito grande de produtos como mandioca, batata doce e jaca, então, descobrimos a carne de jaca e foi como começou a nossa produção de salgados. Iniciamos com uma agroindústria dentro da propriedade para manufatura, a princípio, da carne de jaca, mas uma coisa foi puxando a outra.

Você sabia o que queria desde o começo?

Eu não sabia de nada, fui começando e vendo que caminho as coisas tomavam, sabia que eu queria produzir alguma coisa, mas o mercado estava inchado. O orgânico deixou de ser aquela utopia para virar uma realidade, hoje, nós temos uma produção muito completa e muito séria em Brasília, temos muitos produtores bons aqui no DF, a capital é muito rica, quase autossuficiente na produção orgânica e as agroindústrias agregam muito valor aos excedentes de produto.

Você teve o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater-DF) e do Sebrae?

Nós somos filhos de Emater e Sebrae. Eles dão orientações, cursos e consultorias. Vários dos nossos produtos foram desenvolvidos com as nutricionistas da Emater-DF. Eles ajudaram com a mão na massa para chegar aos ingredientes e ao produto final. Além do incentivo, registro de produtos e vigilância sanitária, eles faziam tudo com a gente. A Emater-DF nos orienta em toda parte burocrática e o Sebrae dá todos os cursos, suporte administrativo e financeiro. Eles indicam qual mercado explorar e dão oportunidade de participar de feiras. Fomos muito bem amparados, eu sugiro, para quem for produtor e quiser empreender, que procure o Sebrae, porque eles te ensinam o passo a passo e o melhor caminho a seguir.

O que você recomenda para as pessoas que desejam entrar na produção vegana?

Primeiro, conheça o mercado, os concorrentes e procure uma orientação. Eu sugiro buscar o Sebrae ou outras empresas semelhantes que possam te orientar em que rumo seguir, o que produzir, o que seu consumidor precisa e o que ele quer. Tem muita coisa sendo produzida, mas tem muita oportunidade para muita coisa boa ser feita.

Como vocês lidam com a preocupação do consumidor em relação à qualidade dos produtos?

Uma coisa importante dentro da agroindústria orgânica ou in natura é a rastreabilidade. Caso o produtor se declare como agricultor orgânico, toda a produção deve ser rastreada. Para o produtor ter o selo, ele precisa passar por vários requisitos, então, sem dúvida é uma garantia que o consumidor está comprando algo livre de pesticidas e de componentes químicos. Além disso, ser orgânico é muito mais do que não usar veneno, tem toda uma rede sustentável por trás. Aqui em Brasília, nós temos o Sindiorgânicos, essa troca faz com que nossa produção melhore a partir da fabricação de adubos e pelo consórcio de plantas.

Como está a questão de renda e emprego neste setor?

Esta produção está sustentando diversas famílias da área rural em Brasília. Quando se fala em DF, só imaginam a Esplanada dos Ministérios, e a capital é muito mais que isso. Nós, pequenos produtores, trazemos essa comida para dentro do DF. Temos uma área rural enorme e totalmente autossuficiente suprindo Brasília e outros lugares.

Como está a exportação para outros estados?

Os paulistas nos procuraram e, para lá, nós só mandamos os congelados, para Goiânia (GO), enviamos congelados e hortaliças. São Paulo é superexigente, principalmente, com a carne de jaca que não era conhecida, mas foi muito bem-aceita. Este ano, até agora, nós produzimos três toneladas de carne de jaca na nossa miniagroindústria, e esperamos chegar a cinco toneladas. Nós queremos mandar para outras cidades, mas está sendo difícil a questão logística, porque tudo vem para Brasília, mas nada sai daqui, só tem uma transportadora que faz esse caminho inverso.

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