FORÇA, BRASÍLIA

Atuação de psicólogos se mostra fundamental durante a pandemia

Consultas com psicólogos são retomadas, aos poucos, em formato presencial. Mas, há profissionais que preferem o formato a distância e garantem que não há perda no vínculo com os pacientes

Mariana Machado
postado em 07/10/2020 06:00
 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)

A pandemia do novo coronavírus trouxe ao mundo uma enxurrada de incertezas. As apreensões decorrentes disso têm gerado na população uma crescente em doenças mentais, sobretudo depressão e ansiedade. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 1 bilhão de pessoas vivem com algum transtorno mental, sendo que uma pessoa morre a cada 40 segundos por suicídio. Com a covid-19, a entidade acredita que o impacto na saúde mental é ainda maior. Daí a importância do trabalho dos psicólogos, especialmente no atual momento. Para manter as consultas, muitos têm trabalhado exclusivamente com as consultas on-line e garantem: é possível manter o acolhimento mesmo à distância.

O Conselho Regional de Psicologia (CRP-DF) e a Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) lançaram publicações orientando os profissionais sobre como fazer o atendimento remoto com segurança e qualidade. Thiago Petra, membro da comissão especial de direitos humanos, saúde mental e políticas sociais do CRP explica que todos os sintomas de doenças mentais agravaram-se no período, incluindo mutilações e atentados à própria vida. Com isso, aumentou a procura por ajuda profissional. “Esse é o contexto mais grave que já presenciei. É um nível de sofrimento que eu nunca tinha visto”, avalia.

Segundo ele, existe um receio de estar em consultórios, tanto da parte dos pacientes, como dos psicólogos. “A gente sempre cultivou a importância da presença, do contato, até porque, na psicologia, outros elementos contam: como a fala da pessoa, a roupa que está vestindo. Mas esse tabu da videochamada foi superado”, afirma Thiago, que também atende em consultas presenciais. “Muitos tiveram uma primeira resistência, porque achavam que, para ter vínculo, era preciso o encontro. Mas eles viram que é possível fazer uma escuta ética e compromissada do mesmo jeito.”

Ainda assim, há situações em que a presença se faz necessária. “Tenho dois pacientes que faço atendimento domiciliar, mas são casos mais graves, de sofrimentos psíquicos, como esquizofrenia”, detalha. “Nesses casos, vou à casa da pessoa e eu mesmo levo uma cadeira e meu álcool em gel.”

Dificuldades

As queixas em terapia envolvem não apenas o medo da doença que matou milhões no mundo inteiro, mas tudo que envolve a situação. “Há pessoas sentindo-se sozinhas, ou lidando com a culpa por sair de casa. Existe o receio de se expor a riscos, além de mudanças como perder o trabalho, ou desmanchar relacionamentos amorosos durante este momento de isolamento”, enumera o psicólogo Danillo Rippel, 31, proprietário de uma clínica na Asa Sul. Ele destaca: “O número de pessoas em crise tem ficado muito elevado.”

Na clínica dele, todos os profissionais adotaram o atendimento por videochamada. “É uma experiência diferente para cada cliente, mas que pode ser significativa.” Alguns problemas, no entanto, têm interferido na qualidade da terapia. “A internet é uma das coisas que afeta o vínculo. Se existe bom ponto de conexão em ambos os lados, a chance de dar certo é grande”, aponta. “Outro problema é a privacidade do paciente em conseguir um ambiente onde possa sentir-se seguro para conversar e desabafar. As pessoas vão para o carro, parque ou outro espaço. Uma vez, o paciente ficou dentro do armário, porque era o único lugar que conseguia falar.”

Outra particularidade é o atendimento de crianças. De acordo com Danillo, é possível fazer a terapia à distância a partir dos 8 anos de idade. “Abaixo disso, a gente fala com os pais. Porque é muito frustrante, para as crianças, não poder interagir com o brinquedo, ou com o profissional.”

Retorno ao presencial

A psicóloga Priscila Farias, 27, tem uma clínica em Taguatinga e conta que nem todos se adaptaram bem ao novo formato de terapia virtual. “Alguns pacientes desistiram no meio do processo terapêutico. No início, alguns mostraram -se resistentes, pela falta de contato olho a olho com o psicólogo”, lembra ela, que trabalha ao lado dos colegas Marcos Tavares e Iane Santos. “Mudanças na rotina permitiram que mais pessoas estivessem dentro de casa, e a falta de um local ideal ou confortável para o atendimento foi fator para a desistência.”

Mesmo após quase oito meses de pandemia, ainda há quem se sinta inseguro de voltar aos consultórios diante da situação atual, e da necessidade de usar máscara. “Entretanto, existem pacientes que sentem-se confortáveis e optam pelos atendimentos presenciais.” Na clínica dela, esse formato já foi retomado “com as medidas sanitárias exigidas pelos órgãos competentes”, garante a psicóloga.

Recomendações

Para auxiliar os profissionais da psicologia a conduzir os trabalhos de forma on-line, o Conselho Regional e a Sociedade Brasileira de Psicologia disponibilizaram fascículos com orientações. Veja algumas delas:

Privacidade:
Cliente e profissional devem estar em espaços privados, sem interferências externas.

Organização:
É importante ter tempo suficiente para resolver possíveis problemas técnicos e checar a conexão.

Segurança:
O profissional não deve usar computadores públicos, e precisa fazer o logoff após cada sessão, mantendo sempre os aplicativos atualizados

Registro documental:
O psicólogo deve documentar, em prontuário, as consultas, mesmo para atendimentos on-line.
É importante incluir data, hora e dados clínicos adequados.

Presencial:
Para esses tipos de atendimentos, a recomendação é de formação de equipe multidisciplinar, e plano de contingência, além de comunicação clara com atualizações regulares sobre a pandemia.

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  • Danillo Rippel:
    Danillo Rippel: "A videochamada é uma experiência diferente para cada cliente, mas que pode ser significativa" Foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press
  • Priscila Farias (E), ao lado dos colegas Marcos Tavares e Iane Santos:
    Priscila Farias (E), ao lado dos colegas Marcos Tavares e Iane Santos: "Existem pacientes que se sentem confortáveis e optam pelos atendimentos presenciais" Foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press

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