Padre tem processo arquivado

Sarah Peres
postado em 06/10/2020 22:43 / atualizado em 06/10/2020 22:43
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press - 22/5/13 )
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press - 22/5/13 )

O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) arquivou a investigação contra o padre Robson de Oliveira Pereira, acusado de lavagem de dinheiro por meio da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), com sede em Trindade (GO). A apuração foi realizada pelo Ministério Público de Goiás, na Operação Vendilhões. A decisão unânime ocorreu na tarde de ontem, em sessão remota da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás, em Goiânia. Cabe recurso.
O processo passou pela análise do desembargador Nicomedes Domingos Borges, responsável por decidir se o pároco tornar-se-ia réu pelos crimes de apropriação indébita e lavagem de capitais, praticados por organização criminosa “supostamente liderada pelo Padre Robson de Oliveira Pereira e composta por pessoas de sua confiança, que atuaram para desviar os recursos doados por professantes da fé católica”.
Em meio à operação, foi concedida a quebra de sigilo dos dados bancários, fiscais, telefônicos e telemáticos, bem como a interceptação telefônica de todos os investigados relacionados à Afipe. “Por se tratar de uma entidade privada, com os membros não tendo questionado qualquer ato, ou alegado lesão aos seus interesses, não há que se falar em qualquer fato típico a ser investigado. Ponderam que não há legitimidade para apuração pelo Ministério Público do que ocorre dentro de um ente privado, onde não há recursos públicos, requerendo o reconhecimento da atipicidade da conduta investigada, porquanto não houve a prática de crimes”, afirmou o desembargador Nicomedes.
O magistrado prosseguiu o embasamento da decisão pelo trancamento do processo, explicando que as doações recebidas são “privadas, espontâneas, voluntárias e não-onerosas feitas por fiéis, e são a única fonte de renda da Afipe, e são destinadas para que gere ativos conforme expressa previsão estatutária, assim, aufira lucros, que são integralmente aplicados na própria Associação para execução de sua finalidade evangelizadora, tal qual a aquisição de grande emissora de TV, emissoras de rádios, construção da nova Basílica em Trindade-GO, reforma de igrejas, manutenção de asilos e etc”, destaca Nicomedes.
O Correio entrou em contato com o Ministério Público de Goiás, que pode recorrer da decisão do Tribunal de Justiça. Contudo, o órgão limitou-se a informar que “aguarda ser notificado para tomar as medidas cabíveis.” Em nota oficial, a Afipe assegura que “continuará o trabalho de auditoria, reforma administrativa, implantação de governança e demais ações que estão em andamento na associação. Tais medidas são fundamentais para o renascer da entidade e para que possamos continuar cumprindo a principal missão, que é evangelizar e manter suas ações sociais, a obra da nova Basílica em Trindade e a TV Pai Eterno. Sendo, o mais importante, a confiança do devoto do Pai Eterno nas ações da entidade e na transparência que a atual gestão defende e trabalha.”
Segundo o advogado Pedro Paulo de Medeiros, que atuou na defesa do religioso com defensor Cléber Lopes, o afastamento de padre Robson da paróquia e da Afipe foi doloroso. “Todo o processo foi muito difícil, sobretudo por ele ter sido acusado injustamente de crimes os quais não cometeu. Mas, a verdade foi restabelecida com a vitória (no julgamento) de hoje (ontem), e, agora, ele aguarda que a Igreja e a Afipe definam o que será realizado para o futuro”, adianta.

Extorsão

As investigações por desvio de dinheiro dos fiéis contra o padre Robson de Oliveira, na Afipe, começaram após ele ser vítima de extorsão, por hackers, em 2018. O grupo teria entrado em contato com o pároco ameaçando divulgar fotos pessoais dele. Em março de 2019, a justiça condenou cinco pessoas pelo crime. Segundo os autos, o padre chegou a pagar R$ 2,9 milhões, com dinheiro da entidade, para garantir que as ameaças não fossem cumpridas.
Foi após tomar conhecimento desses pagamentos milionários que o Ministério Público de Goiás desconfiou de possíveis irregularidades nas contas da Afipe. A suspeita era de que Robson teria movimentado R$ 2 bilhões, em 10 anos, doados por fiéis para comprar casas na praia, fazendas e outros itens de luxo para uso pessoal.

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