VIOLÊNCIA

Estuprador fez, ao menos, 11 vítimas

Investigações da Polícia Civil do DF mostram como ocorreram os abusos praticados por João Batista Alves Bispo de 2008 a 2020. Entre janeiro e agosto deste ano, cinco homens registraram ocorrência contra ele

Darcianne Diogo
Renato Souza
postado em 08/10/2020 23:12
 (crédito: PCDF/Divulgação)
(crédito: PCDF/Divulgação)

Há, pelo menos, 12 anos, João Batista Alves Bispo, 41 anos, dava início a uma série de ataques sexuais no Distrito Federal. Investigações conduzidas pela 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) revelaram que o acusado abusou de, ao menos, 11 pessoas de 2008 e 2020. Entre janeiro e agosto deste ano, cinco homens relataram terem sido vítimas dele. Ontem, um residente de Minas Gerais, a mais recente vítima a registrar ocorrência, foi à unidade policial prestar queixa.

O alvo do estuprador eram homens, com idades entre 25 e 40 anos, segundo apontaram as investigações. Em três casos, as vítimas eram adolescentes. João Batista morava em Planaltina e trabalhava como cozinheiro em um restaurante na Asa Sul. Discreto e calado, o criminoso usava o tempo do intervalo de almoço no serviço para cometer os delitos, de acordo com o delegado da 1ª DP Maurício Iacozzilli. Os crimes também eram praticados na região onde morava e ao sair do trabalho, à noite.

Diligências da polícia revelaram que João Batista operava sempre da mesma maneira (leia Casos): ele misturava a substância química “Boa Noite, Cinderela” — droga que causa amnésica, sonolência, inconsciência, alucinações e vômitos, impossibilitando a pessoa de discernir o que é certo e o que é errado — nas bebidas das vítimas, normalmente em vinho. Desacordados, os homens eram estuprados e tinham os pertences roubados. Em um dos casos, em janeiro deste ano, um rapaz de 30 anos, morador da Asa Norte, foi encontrado morto no Castelinho do Parque da Cidade. A causa do óbito foi overdose. “O autor utilizou o celular da vítima por alguns meses e o tênis foi encontrado na casa dele”, disse o delegado.

O estuprador iniciou os ataques em 2008, em Planaltina. A vítima era um adolescente de 16 anos e relatou à polícia que pediu ajuda do cozinheiro para fazer uma mudança de móveis do apartamento. Dentro do imóvel, o acusado teria agredido e abusado sexualmente da vítima. Durante o depoimento, o rapaz disse que, à época, sentiu medo de denunciá-lo. Dois anos depois, um homem caminhava pelo Estacionamento 3 do Parque da Cidade, quando sofreu tentativa de estupro, mas reagiu e fugiu. Pelos crimes cometidos no espaço de lazer, ele ficou como “Tarado do Parque”.

Em 2013, o acusado ofereceu R$ 1 mil para ter relações sexuais com um jovem de 18 anos, diagnosticado com transtorno mental, também em Planaltina. A mãe do menino descobriu o assédio e denunciou o caso à polícia.

Segundo as investigações, o cozinheiro só começou a usar o “Boa noite, Cinderela” para dopar os homens em 2017. A primeira vítima também foi um jovem de 18 anos. A 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina) instaurou inquérito, entretanto, a vítima renunciou e não quis dar prosseguimento ao processo. João Batista foi preso na terça-feira e responderá pelos crimes de roubo, estupro de vulnerável e homicídio. Caso seja condenado, poderá pegar até 30 anos de prisão.

Ele não conversava com os vizinhos, mantinha distância, de acordo com a polícia. O delegado Maurício Iacozzilli afirmou que, em alguns casos, o criminoso chegou a abusar das vítimas no horário de almoço e depois do expediente. “Varia por ocorrência. Ele trabalhava pela manhã e à tarde no local e aproveitava dos horários de folga para cometer os delitos”, disse.

Ao longo do interrogatório, o acusado negou os delitos, imputando-os a um suposto amigo. Contudo, de acordo com o delegado, as investigações demonstraram que tal pessoa não existe. “Ele não soube explicar como os pertences das vítimas estavam em sua casa e disse que os remédios foram ali deixados por este tal amigo. Os vizinhos chegaram a relatar que ele nunca recebeu visitas, saía às 5h da manhã de casa e retornava após as 23h, sempre sozinho”, completou o investigador.

Medo
O Correio conversou com o pai de um adolescente de 16 anos que acusa o cozinheiro de ter assediado o filho dentro de um ônibus. O homem de 55 anos contou que, há quatro anos, embarcou em um transporte coletivo em Planaltina com destino ao Plano Piloto. “Eu me sentei naquele banco destinado aos cadeirantes e meu filho ficou na cadeira próximo à porta do meio, ao lado desse estuprador”, disse.

Não demorou muito para que o pai percebesse que havia algo de errado acontecendo entre o filho e o cozinheiro. Segundo ele, João mostrava vídeos e fotos pornográficos ao adolescente. “Meu filho era muito inocente na época e não se atentou. Quando vi aquela cena, só passou pela minha cabeça de que se tratava de um pedófilo. Eu esperei até determinado ponto e, incomodado, me levantei e fui até eles”, contou.

O pai começou, então, a questioná-lo sobre o conteúdo que o acusado mostrava ao garoto pelo celular. “Ele disse que não era nada, começou a desconversar.” Pouco tempo depois, o criminoso desembarcou na Asa Sul e pai e filho desceram na Rodoviária do Plano Piloto. “Eu perguntei para o meu filho o que ele tinha mostrado, mas como ele era muito inocente, disse que não era nada. Eu me arrependo de não ter ido à delegacia à época, mas ainda vou denunciar esse monstro. Quando olhei a foto dele na imprensa, reconheci na hora, me revoltei”, relatou.

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