COMÉRCIO

Força, Brasília: Artesãos recorrem à internet para sobreviver na pandemia

Venda on-line com divulgação nas redes sociais, aulas no YouTube e uma rede de solidariedade marcam a nova rotina de muitos artesãos do Distrito Federal nesta pandemia

Cibele Moreira
postado em 20/10/2020 06:00
 (crédito:  Ana Rayssa/CB/D.A Press)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)

O Distrito Federal conta com mais de 12 mil artesãos cadastrados na Secretaria de Turismo, e muitos deles dependem da renda do artesanato para sustentar a família. Nos primeiros meses da pandemia, com as feiras e lojas fechadas para evitar o contágio do vírus, muitos encontraram outras formas de divulgar o trabalho e conquistar novos clientes. A rede social tornou-se uma aliada e aplicativos de venda on-line garantiram a comida na mesa de muitos desses profissionais. A Federação das Associações de Artesãos do DF e Entorno (Faarte), ao lado da Secretaria de Turismo, também foi um pilar importante com a entrega de cestas básicas para famílias que tiveram a renda impactada.

O artesão Antônio do Socorro Santos Serejo, 50 anos, conhecido como Tião Piauí, passou por dificuldade no início da pandemia. “Os primeiros dois meses foram muito difíceis. Não consegui vender nenhum produto e tudo o que eu tinha no bolso era apenas R$ 50 para sustentar minha família”, relata. O trabalho com palha de taboa é o que garante o sustento dos cinco filhos e da esposa que ganhou neném recentemente. “Recebemos muitas doações de cestas e fraldas. Isso ajudou muito. Foi difícil, mas conseguimos superar”, destaca o morador do Guará.

Sem poder abrir a loja na Feira da Torre, o jeito que ele encontrou para continuar com a venda foi migrar para a rede social e fazer parcerias com pessoas que conhecem o trabalho dele. Atualmente, as vendas seguem com um ritmo bom na feira. “Eu me considero um herói. Tem de ser muito forte para enfrentar um momento como esse”, conta ele, que vive da arte desde 1993.

“Comecei ainda criança, mas foi quando meu primeiro filho nasceu que fiz do artesanato minha fonte de renda, minha terapia e minha vida. Na época, só tinha R$ 6 no bolso, não sabia como sustentar minha família. Fui para casa, comprei quatro cocos e comecei a desenvolver minhas peças. E, desde então, nunca mais parei”, relembra. Tião Piauí também está presente no projeto da arquiteta Angela Castilho, na edição deste ano da Casa Cor, com as peças de madeira na decoração.

Para a artesã Elza Vital Rego da Silva, 51, o artesanato não representa apenas a fonte de renda dela, mas também simboliza o processo de superação dela com a perda do primeiro marido. “Há 14 anos eu perdi meu marido em um acidente. Desempregada e com um filho para criar, encontrei no artesanato um reconforto. Eu me realizei profissional e emocionalmente”, relata. Ela conta que, no início, o intuito não era ganhar dinheiro com o artesanato. Elza sentia-se bem em presentear amigos e familiares.

Passeando por produtos como arranjos de flores, seguindo para o biscuit e em 2018, ela encontrou-se com as bonecas de pano que são o carro-chefe dela. “Quando eu era pequena, eu não tinha brinquedos. Minha mãe fazia boneca de milho e tecido para mim. Então fico muito contente em ver a alegria de uma criança ao ter uma boneca que eu fiz com amor”, conta.

Além da venda das bonecas, Elza também dá aula de artesanato para um grupo de idosas no Sesc. Ao perceber que as alunas estavam desanimadas, com o emocional impactado pela pandemia, ela decidiu gravar vídeos com palavras de afeto no YouTube. E pouco tempo depois já estava ensinando a fazer peso de porta com latas de leite, bonequinhas de fuxico. “Mesmo elas estando dentro de casa, que elas pudessem fazer algo. Eu vi no artesanato a oportunidade para ajudar outras pessoas e a internet e todos os canais de mídia vêm para somar”, pontua.

E por necessidade do momento, Elza viu uma nova forma de trabalho. Iniciou um curso de capacitação para ensino criativo para especializar-se na aula on-line. E paralelamente a isso, ela começou a anunciar os trabalhos nas redes sociais. “Mesmo com a pandemia, a internet me ajudou a ser vista”, afirma.

Para o casal Joana Darque Bezerra Lima, 47, e Sávio Cortez de Meneses, 43, a venda on-line das luminárias em cano PVC aumentaram durante a pandemia. “Foram os melhores meses, a gente vendeu muito, todos os dias tinha encomenda. Em seis meses vendemos cerca de 100 luminárias”, relata. Algumas dessas peças foram enviadas para outros estados brasileiros como forma de presente. “Teve encomenda que foi para outro país, isso nos mostra que estão gostando do nosso trabalho”, ressalta.

Joana conta que, recentemente, recebeu um convite para vender os seus produtos em uma loja em Alto Paraíso de Goiás. “Lá passa muito turista, vai ser uma oportunidade de ter mais visibilidade também”, pontua a educadora social que aproveitou que as escolas não estão com aulas presenciais para produzir mais luminárias. No dia das crianças, ela criou uma coleção de meninas negras. Com a arte personalizada, ela vendeu vários temas.

No início da pandemia, Joana e Sávio também apostaram na elaboração de face shields (protetor facial transparente) para profissionais que precisavam lidar com o público e não parou de trabalhar. “O bom é que de uma forma ou outra a gente ajudou outras pessoas. Um vizinho motoboy, que fez as entregas, também recebeu a porcentagem dele”, conta.

As encomendas de crochê não pararam para Amauzi Fernandes de Castro, 66. Tradição de família, as peças de crochê ganharam uma outra forma. Do vestuário para artigos de decoração, a artesã teve de adaptar-se para a demanda dos clientes que durante os últimos meses investiram mais na casa. “Com a pandemia não saio de casa para nada, só para ir à loja. Então trabalhei muito e vendi muito também”, pontua.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  • Antônio do Socorro, o Tião Piauí:
    Antônio do Socorro, o Tião Piauí: "Comecei ainda criança, mas foi quando meu primeiro filho nasceu que fiz do artesanato minha fonte de renda, minha terapia e minha vida" Foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press
  • Elza Vital:
    Elza Vital: "Desempregada e com um filho para criar, encontrei no artesanato um reconforto. Eu me realizei profissional e emocionalmente" Foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação