Crônica da Cidade

Severino Francisco
postado em 21/10/2020 23:20

Vacina não tem ideologia


Estava na fila de um banco para pagar uma conta quando tive a atenção despertada para uma conversa entre três cidadãos sobre a vacina contra a covid-19. Os três eram simpáticos e bem-humorados. Mas, a certa altura, um dos rapazes afirmou, com a convicção de um cientista que estuda e pesquisa o tema há mais de 40 anos: “A vacina da China eu não tomo de jeito nenhum. Não confio em nada produzido por comunista”.

A fala teve apoio de um segundo integrante da roda de conversa: “É verdade, aquele é doido, se alimenta de uns bichos esquisitos”. O terceiro emendou: “Para mim, tem de ser a de Oxford ou a dos russos. Só confio em Oxford e em Putin”. Chegou a minha vez de ser atendido e fui embora pensando em quais eram as fontes de informação daquele trio sobre vacina.

Mas, de qualquer maneira, ficou claro para mim que a questão da vacina está ideologizada. Nunca aquela máxima de Goebbels, ministro da propaganda nazista, segundo a qual uma mentira repetida mil vezes se torna verdade, foi tão dramaticamente ou tragicamente verdadeira. Com as novas tecnologias de comunicação, a capacidade de transformar uma versão falsa em verdade categórica ganhou uma velocidade e uma força de propagação inimagináveis.

O mais assustador é que tenho conversado com pessoas de formação superior, contaminadas pelo mesmo vírus da ideologização da vacina. Elas têm respostas prontas para qualquer questionamento. Mentira é sempre mentira. Mas existem algumas que têm consequências mais graves e colocam em risco a nossa vida. E esse é o caso da vacina contra o novo coronavírus.

Os cientistas alertam que, se a campanha negacionista contra as vacinas prosperar nas redes sociais, é possível a reincidência de doenças que estavam erradicadas. No caso atual, o problema é de ideologização. Ora, quando vou tratar dos dentes, pouco me importa se o dentista é de direita ou de esquerda. Interessa-se se ele é competente ou incompetente.

Para ser aprovada, uma vacina passa por um protocolo de avaliação rigoroso, que envolve instituições e pesquisadores renomados, que colocam o nome em risco. Não importa que seja produzida em Oxford ou em Pequim. Nenhuma vacina é de direita ou de esquerda; é uma questão de saúde pública, de vida ou de morte. Que venham outras para nos proteger, pois a covid-19 atacou familiares, amigos e já provocou a morte de mais de 150 mil brasileiros. Quem ideologiza vacina não respeita a vida.

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