Crônica da Cidade

Halloween com o SUS

Severino Francisco
postado em 29/10/2020 21:28

Em charge publicada, na edição de ontem do Correio, o artista gráfico Kleber sintetizouo estado de terror em que vivemos, com o traço do humor. Só o nonsense é capaz de se contrapor aos absurdos em série que assolam o país. Numa cama, em que uma criança está deitada com uma cara de pavor, sob a legenda “histórias para não dormir”, um pai conta uma narrativa: “Não gostava do SUS, não acreditava na covid, não gostava de vacina...”

É halloween ao vivo, mais disparatado do que qualquer criação imaginária. Realmente, é de dar medo. Como se não bastasse a redução da covid a uma gripezinha, as campanhas negacionistas, as campanhas contra a vacina, o descaso com a morte de mais de 150 milhões de brasileiros, o governo, agora, acena com a desmontagem do SUS. O decreto foi revogado ante a repercussão negativa, mas não importa, só a intenção é reveladora de um projeto de dilapidar um patrimônio público brasileiro.

Com certeza, o SUS tem muitos problemas, mas isso não é motivo para destruí-lo, e, sim, para superar as suas precariedades e aperfeiçoá-lo em benefício de todos os brasileiros. Os cientistas são unânimes em reconhecer que, se não fosse o SUS, a tragédia da covid-19 seria ainda mais terrível no Brasil.

Alguns entendem que tudo que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil. Mas, depois da pandemia, a dificuldade de acesso à saúde pública tornou-se um dos temas mais urgentes do debate político nos EUA. E a defesa da saúde pública pode ser um dos aspectos que levarão
Biden a derrotar Trump. Lá, qualquer pequeno problema se torna um drama, pois é preciso pagar pelos serviços e tudo é caro.

Uma pessoa da família precisou de um tratamento odontológico muito requintado e o dentista indicou um profissional do Hran. Ele é um dos maiores especialistas do país. O diagnóstico e o tratamento dele foram precisos. Não foi necessário pagar nada.

O ex-ministro Henrique Mandetta era um privatista até vivenciar a gestão da pandemia. No entanto, ao se deparar com desafio de enfrentar a covid-19, em um país cindido por enormes desigualdades, ele chamou a atenção para a necessidade de fortalecer o sistema de saúde pública brasileiro e, literalmente, vestiu a camisa do SUS. Não é possível que o país não aprenda nada com uma tragédia da magnitude na qual estamos mergulhados.

Essa proposta tem de ser barrada pelos parlamentares de todos os partidos como uma insanidade inaceitável. O SUS não é de esquerda nem de direita. É o maior sistema público de saúde do mundo e precisa ser defendido como um patrimônio de todos os brasileiros.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação