Será que existe correlação entre o clima e a covid-19? A doença, que começou em áreas de temperatura baixa na China, alcançou locais com temperaturas elevadas como Índia e Tailândia. No Brasil, não é diferente. A pluralidade de climas nas regiões brasileiras não foi impedimento para que o novo coronavírus se disseminasse. Para responder o questionamento, o Laboratório de Climatologia Geográfica do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (GEA/UnB) realiza um estudo que propõe a investigação das variáveis climáticas, levando em consideração o território nacional bastante diverso e o comportamento do patógeno Sars-CoV-2 neste contexto.
Sob coordenação do professor de geografia e coordenador do laboratório, Rafael Franca, o estudo intitulado Correlações entre variações climáticas e a disseminação do novo coronavírus no Brasil é um dos aprovados em chamada pública realizada pelo Decanato de Pesquisa e Inovação (DPI), pelo Decanato de Extensão (DEX) e pelo Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de combate à Covid-19 (Copei) da UnB. De acordo com Rafael, o projeto foi elaborado em março de 2020, no início da pandemia. “De lá para cá fizemos ajustes, organizamos nossos bancos de dados e discutimos métodos para correlacionar e analisar criticamente as séries de dados epidemiológicos e climáticos”, afirma.
Ele explica que a ideia do estudo surgiu após suspeitas a respeito do risco da pandemia avançar em países localizados na faixa intertropical. “Algumas dessas hipóteses sugeriam que o novo vírus seguiria o padrão de outros vírus respiratórios sazonais, como os que provocam a gripe, que se propagam melhor em lugares e estações mais frias”, resume Rafael Franca. Dessa forma, surgiram, em países da Ásia e da Europa e nos Estados Unidos, os primeiros estudos para investigar o efeito do clima na disseminação do novo coronavírus. “Algumas dessas pesquisas chegaram a confirmar essas hipóteses. A partir desse momento, percebemos que era importante darmos nossa contribuição e investigar o problema aqui no Brasil”, conta o professor.
Com o objetivo de averiguar as possíveis correlações, o grupo coordenado por Rafael analisou a disseminação do novo coronavírus em três unidades climáticas do Brasil, sendo elas: Brasília, que possui clima tropical típico de altitude; São Paulo, tendo o clima com maior influência subtropical; e Manaus, com clima equatorial quente e úmido.
Em paralelo, a equipe de pesquisa obteve dados epidemiológicos e climáticos disponibilizados pelas secretarias de Saúde dos municípios, pelo Ministério da Saúde e pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). “A etapa seguinte consiste em realizar os cruzamentos dos dados e mensurar a força das relações entre eles. Nesse sentido, buscamos quantificar correlações entre os elementos climáticos e o comportamento da curva epidêmica nas três unidades climáticas selecionadas”, adianta Rafael. Com os resultados em mãos, o professor afirma que relatórios, notas técnicas e artigos científicos serão elaborados.
Resultados
No momento, Rafael diz que não há respostas definitivas acerca do impacto do fator climático sobre a disseminação da covid-19. “Inclusive, há resultados científicos bastante ambíguos”. De acordo com o coordenador da pesquisa, o estudo não chegou na etapa de resultados, uma vez que precisam incluir a estação mais fria e seca do ano, ainda em curso nas análises.
Apesar de não haver resultados precisos, Rafael ressalta que outras pesquisas que investigam essa relação encontraram indícios de que o novo coronavírus se comporta de maneira diferente de acordo com o ambiente. “Algumas mostraram, por exemplo, que o aumento da temperatura e da umidade relativa do ar diminuem significativamente a transmissão do vírus”, diz. “Contudo, encontramos pesquisas com resultados divergentes e, inclusive, recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que é provável que o novo coronavírus não seja um vírus sazonal”, completa.
“É possível que nossos primeiros resultados sejam divulgados a partir de outubro”, prevê Rafael. Todavia, o pesquisador explica alguns motivos para que o vírus se propague tanto em temperaturas frias, como Santa Catarina, quanto em regiões quentes, como o Pará. “Fatores como o distanciamento social, além de vulnerabilidades associadas a contingências sociais, políticas, econômicas, culturais e tecnológicas, entre outras, têm um peso muito maior na disseminação do vírus”, alerta. “É preciso que a população compreenda que, até que as vacinas sejam distribuídas, a maior arma contra o novo coronavírus é o distanciamento social”, reforça o professor.
Isolamento
O cuidado e a responsabilidade foram as medidas que a cabeleireira Giszelle Marçal de Lima Duarte, 38 anos, adotou, após diagnóstico positivo para a doença. Ela conta que os sintomas, a princípio, lembravam uma gripe: dor de cabeça e no corpo, perda parcial de paladar e olfato. Até que se tornaram intensas. “Precisei voltar para o hospital, porque minhas dores aumentaram. Quando cheguei, a saturação estava bem baixa, e os médicos pediram uma tomografia. Foi quando descobriram que eu estava com 50% do pulmão comprometido”, descreve.
A cabeleireira lembra que, no momento, não havia compreendido a dimensão da doença. “Minha ficha não tinha caído quanto ao que, realmente, estava acontecendo comigo. Eu fui para o hospital imaginando que iria me consultar e logo depois voltar pra casa. Mas fui, e fiquei”, lamenta. Segundo Giszelle, o período que viveu foi frustrante. “Era muito doloroso ficar longe da minha família, do meu filho e esposo. Quando descobri a covid-19, ficava tentando assimilar o que estava acontecendo comigo, não consegui sentir o choque da doença. Só que os dias foram passando, e eu não saí mais do hospital”, desabafa.
Ao receber alta, Giszelle manteve o distanciamento dos familiares. “Quando fui para casa, optamos em não ficar perto, não abraçar ou matar a saudade. Foi bem difícil. Eu estava com medo de ainda poder infectar alguém”, justifica. “Hoje, é um alívio, porque graças a Deus, eu consegui vencer, mas ficaram sequelas. Percebo que tenho muitos esquecimentos e que meu cabelo tem caído muito. Coisas que outras pessoas também já relataram”, completa.
*Estagiária sob a supervisão de Guilherme Marinho
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