COVID-19

Estudo da UnB investiga variações climáticas na expansão do novo coronavírus

Estudo da Universidade de Brasília (UnB) analisa se há relação entre as diversas condições climáticas de cada região do Brasil com a disseminação da covid-19 e se características ambientais contribuem para a expansão do novo coronavírus

Ana Maria da Silva*
postado em 31/10/2020 07:00
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

Será que existe correlação entre o clima e a covid-19? A doença, que começou em áreas de temperatura baixa na China, alcançou locais com temperaturas elevadas como Índia e Tailândia. No Brasil, não é diferente. A pluralidade de climas nas regiões brasileiras não foi impedimento para que o novo coronavírus se disseminasse. Para responder o questionamento, o Laboratório de Climatologia Geográfica do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (GEA/UnB) realiza um estudo que propõe a investigação das variáveis climáticas, levando em consideração o território nacional bastante diverso e o comportamento do patógeno Sars-CoV-2 neste contexto.

Sob coordenação do professor de geografia e coordenador do laboratório, Rafael Franca, o estudo intitulado Correlações entre variações climáticas e a disseminação do novo coronavírus no Brasil é um dos aprovados em chamada pública realizada pelo Decanato de Pesquisa e Inovação (DPI), pelo Decanato de Extensão (DEX) e pelo Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de combate à Covid-19 (Copei) da UnB. De acordo com Rafael, o projeto foi elaborado em março de 2020, no início da pandemia. “De lá para cá fizemos ajustes, organizamos nossos bancos de dados e discutimos métodos para correlacionar e analisar criticamente as séries de dados epidemiológicos e climáticos”, afirma.

Ele explica que a ideia do estudo surgiu após suspeitas a respeito do risco da pandemia avançar em países localizados na faixa intertropical. “Algumas dessas hipóteses sugeriam que o novo vírus seguiria o padrão de outros vírus respiratórios sazonais, como os que provocam a gripe, que se propagam melhor em lugares e estações mais frias”, resume Rafael Franca. Dessa forma, surgiram, em países da Ásia e da Europa e nos Estados Unidos, os primeiros estudos para investigar o efeito do clima na disseminação do novo coronavírus. “Algumas dessas pesquisas chegaram a confirmar essas hipóteses. A partir desse momento, percebemos que era importante darmos nossa contribuição e investigar o problema aqui no Brasil”, conta o professor.

Com o objetivo de averiguar as possíveis correlações, o grupo coordenado por Rafael analisou a disseminação do novo coronavírus em três unidades climáticas do Brasil, sendo elas: Brasília, que possui clima tropical típico de altitude; São Paulo, tendo o clima com maior influência subtropical; e Manaus, com clima equatorial quente e úmido.

Em paralelo, a equipe de pesquisa obteve dados epidemiológicos e climáticos disponibilizados pelas secretarias de Saúde dos municípios, pelo Ministério da Saúde e pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). “A etapa seguinte consiste em realizar os cruzamentos dos dados e mensurar a força das relações entre eles. Nesse sentido, buscamos quantificar correlações entre os elementos climáticos e o comportamento da curva epidêmica nas três unidades climáticas selecionadas”, adianta Rafael. Com os resultados em mãos, o professor afirma que relatórios, notas técnicas e artigos científicos serão elaborados.

Resultados

No momento, Rafael diz que não há respostas definitivas acerca do impacto do fator climático sobre a disseminação da covid-19. “Inclusive, há resultados científicos bastante ambíguos”. De acordo com o coordenador da pesquisa, o estudo não chegou na etapa de resultados, uma vez que precisam incluir a estação mais fria e seca do ano, ainda em curso nas análises.

Apesar de não haver resultados precisos, Rafael ressalta que outras pesquisas que investigam essa relação encontraram indícios de que o novo coronavírus se comporta de maneira diferente de acordo com o ambiente. “Algumas mostraram, por exemplo, que o aumento da temperatura e da umidade relativa do ar diminuem significativamente a transmissão do vírus”, diz. “Contudo, encontramos pesquisas com resultados divergentes e, inclusive, recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que é provável que o novo coronavírus não seja um vírus sazonal”, completa.

“É possível que nossos primeiros resultados sejam divulgados a partir de outubro”, prevê Rafael. Todavia, o pesquisador explica alguns motivos para que o vírus se propague tanto em temperaturas frias, como Santa Catarina, quanto em regiões quentes, como o Pará. “Fatores como o distanciamento social, além de vulnerabilidades associadas a contingências sociais, políticas, econômicas, culturais e tecnológicas, entre outras, têm um peso muito maior na disseminação do vírus”, alerta. “É preciso que a população compreenda que, até que as vacinas sejam distribuídas, a maior arma contra o novo coronavírus é o distanciamento social”, reforça o professor.

Isolamento

O cuidado e a responsabilidade foram as medidas que a cabeleireira Giszelle Marçal de Lima Duarte, 38 anos, adotou, após diagnóstico positivo para a doença. Ela conta que os sintomas, a princípio, lembravam uma gripe: dor de cabeça e no corpo, perda parcial de paladar e olfato. Até que se tornaram intensas. “Precisei voltar para o hospital, porque minhas dores aumentaram. Quando cheguei, a saturação estava bem baixa, e os médicos pediram uma tomografia. Foi quando descobriram que eu estava com 50% do pulmão comprometido”, descreve.

A cabeleireira lembra que, no momento, não havia compreendido a dimensão da doença. “Minha ficha não tinha caído quanto ao que, realmente, estava acontecendo comigo. Eu fui para o hospital imaginando que iria me consultar e logo depois voltar pra casa. Mas fui, e fiquei”, lamenta. Segundo Giszelle, o período que viveu foi frustrante. “Era muito doloroso ficar longe da minha família, do meu filho e esposo. Quando descobri a covid-19, ficava tentando assimilar o que estava acontecendo comigo, não consegui sentir o choque da doença. Só que os dias foram passando, e eu não saí mais do hospital”, desabafa.

Ao receber alta, Giszelle manteve o distanciamento dos familiares. “Quando fui para casa, optamos em não ficar perto, não abraçar ou matar a saudade. Foi bem difícil. Eu estava com medo de ainda poder infectar alguém”, justifica. “Hoje, é um alívio, porque graças a Deus, eu consegui vencer, mas ficaram sequelas. Percebo que tenho muitos esquecimentos e que meu cabelo tem caído muito. Coisas que outras pessoas também já relataram”, completa.

*Estagiária sob a supervisão de Guilherme Marinho

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