Dicas de português

Bandido à solta

Eta semana pesada! Nos sete dias, imperou um assunto — a libertação de André do Rap. O chefão do PCC saiu da cadeia de segurança máxima pela porta da frente. Fez agrados no advogado, entrou no carro, bateu asas e voou. Para onde? Sabe-se lá. Suspeita-se de Paraguai e Bolívia.


Sem confusão

O noticiário, claro, falou em tráfico. Alguns escreveram tráfego. Pintou, então, a dúvida: há diferença entre as duas palavras? Há. E põe diferença nisso. É tão grande quanto a distância entre a água e o azeite:

Tráfego = trânsito, grande atividade, afã, comércio: tráfego aéreo, tráfego marinho, tráfego rodoviário.

Tráfico = comércio, não necessariamente ilícito. Daí se dizer tráfico ilegal ou tráfico ilícito. Melhor evitar confusão. Use tráfico só na acepção de comércio ilícito: tráfico de droga, tráfico de influências, tráfico de mulheres.


Por falar em trânsito...

O s que aparece na palavra trânsito soa z. O que aparece na palavra transubstanciação soa ss. Por quê? Ambos os vocábulos são formados pelo prefixo trans-. A resposta está no que vem depois.

Trânsito, como transigir, transatlântico, transar e transístor, é seguido por letra diferente de s: trâns(ito), trans(igir), trans(atlântico), trans(ar), trans(ístor).
Transubstanciação, como transiberiana, transumir e transugar, é seguida de palavra começada por s. Viu? S de um lado e s de outro são dose dupla. Na escrita, um deles some. Mas na pronúncia soa como se estivesse presente: trans(substanciação), trans(siberiana), trans(sumir), trans(sugar).


Rosa que te quero rosa

A campanha Outubro Rosa veste os monumentos de cor-de-rosa. Trata-se de forma charmosa de chamar a atenção para a necessidade de prevenir o câncer de mama. À noite, as cidades ganham toque de magia. Os cidadãos circulam pelas ruas encantados. Fotografam. Postam comentários e imagens nas redes sociais. É um show.

Sai ano, entra ano, ao divulgá-la, pinta a pergunta. Por que cor-de-rosa se escreve com hífen e as demais cores não? São artes da reforma ortográfica. Antes, cor de laranja, cor de carne, cor de vinho, cor de abóbora se grafavam com o tracinho. Agora, circulam livres e soltas. E cor-de-rosa? É a exceção que confirma a regra.


Câncer

Por que câncer se chama câncer? Câncer chegou ao português via latim (cancer). Mas o vocábulo nasceu grego. Na língua de Aristóteles e Platão, era karkinos. A trissílaba quer dizer caranguejo. O que a doença tem a ver com o crustáceo? A aparência: o desenho das veias da região afetada pela doença lembra … caranguejo.

Olha o Hércules

Hércules enfrentou a Hidra de Lerna. Para vencer o dragão com nove cabeças de serpente, tinha de cortar todas elas. Como? Mal decepava uma, a danada renascia. Ele, então, queimou com uma tocha os pescoços cortados. Oba! A deusa Hera, inimiga do valentão, mandou um caranguejo mordê-lo. O herói o esmagou. Hera recolheu os pedaços espalhados pelo chão. Com eles, formou a constelação de Câncer, que quer dizer caranguejo.

 
Leitor pergunta

Ouço pessoas dizerem “por conta de” no lugar de “por causa de”. Estão certas?

Maria Eliza Duval — BH
Por conta de na acepção de por causa de é modismo. Muitos o rejeitam. Como falamos e escrevemos para o outro, é melhor seguir esta regra:
Por causa de = devido a, por motivo de, em razão de, em virtude de, graças a, por obra de: O senador Chico Rodrigues deixou a vice-liderança do governo por causa do dinheiro na cueca. Muitos se sentem ansiosos por causa do isolamento social. Houve interrupção das aulas por causa da pandemia.
Por conta de = a cargo de, à custa de, sob a responsabilidade de, custeado ou financiado por alguém: O cafezinho é por conta da casa. As definições da obra ficam por conta do engenheiro. Diverte-se por conta dos pais.